Ele sempre foi um homem responsável, conservador, tinha muitos amigos, era considerado boa gente, e foi alguém que se deu bem acima da média na vida profissional - além de participar dos empreendimentos administrados por sua família. A mulher e os filhos eram o seu mundo, o lugar que prezava e procurava refúgio. Entretanto, sentia um certo afastamento da esposa a quem sempre prezou muito. Procurava incluí-la nos seus programas, sem sucesso. Foram se falando cada vez menos, até que não se falavam mais. Como ela era que tinha um contato mais frequente com os filhos, pouco a pouco foi reduzindo o contato com eles também.
Comentava que
o seu melhor amigo na casa, que era quem o recebia com alegria quando chegava,
era o cachorro. Alguém que esteve na casa dele, comentou que o seu quarto – sim
porque ele não dormia mais no mesmo quarto que a esposa – era o menor da casa, e
estava todo desarrumado, com roupas espalhadas por todo canto...
Eventualmente um conhecido
comentou com o irmão dele que a mulher – a cunhada - estava tendo um caso com o dentista dela. O
irmão por sua vez, se achou na obrigação
de colocá-lo a par. A acusação era gravíssima, mas ele se recusou
a acreditar e a esclarecer. Ficou assim.
Dizia para os amigos que iria
fazer uma viagem com ela, e tentar restabelecer relação. E quem conhecia a
história não acreditava nessa possibilidade. Corria o boato de ela havia se
casado com ele por interesse e que, mais tarde, descobriu que o ‘pacote’ não
incluía tudo aquilo que ela imaginava.
Uma vez lhe disseram: : “Não sei porque você ainda insiste. Seu
casamento está morto já há muito tempo. Neste caso, não resta mais nada a
fazer, senão o funeral dele, da melhor maneira possível.“ Mas não adiantava, ele se auto iludia, não
querendo acreditar no que era óbvio para todos.
O tempo foi passando, a
situação ficando cada vez pior, e ele acumulando mágoas.
Até que, num dia daqueles, em que parece as coisas chegaram num ponto
limite, tomou a decisão que deveria ter tomado já há muitos anos, e colocou um
ponto final na história. Foi curto, grosso, e decisivo na sua mensagem:
"Desde o início da nossa relação deixamos claro que ela só teria sentido se fosse prazerosa, não causasse estresse, não prejudicasse ninguém. Que viria acrescentar, proporcionar bons momentos, nos tornar mais felizes.Infelizmente, não é isto que está acontecendo. Ultimamente, tenho ficado dependente da sua disponibilidade, intenção, interesse. Raramente você me procura e, quando a procuro, frequentemente não sou atendido. Se combinamos alguma coisa, você deixa de cumprir, por isto ou por aquilo.O que você faz, contraria o seu discurso - sinto-me manipulado, desprezado. Isto, naturalmente, não me traz bons momentos, não me faz mais feliz - muito pelo contrário.Por que? A única explicação que me ocorre é que tenha havido uma perda do seu interesse, da motivação inicial. Este seu comportamento, mesmo que inconsciente, sinaliza distanciamento, rompimento... Teria sido tão mais simples se você me tivesse assumido isso e me colocado a par do que estava sentindo, da suas dúvidas, da sua intenção...Mas, não importa, tudo tem seu tempo, mesmo que, muitas vezes, tenhamos dificuldade para entender, aceitar. Como disse Fernando Pessoa: "As coisas não têm explicação, têm existência". Assim, com um grande atraso, entendi, aceito, e vou interromper agora o que, por você, já está interrompido .Basta. Fica a história que construímos juntos, a qual já faz parte de nossas vidas, que não pode ser ignorada e, muito menos, apagada. Entretanto, a partir daqui vamos encarar a realidade, não há motivo para continuar representando nossos 'papéis' originais. Siga seu caminho, encontre o que você procura, precisa, fique bem. Eu, farei o mesmo."
Esse fato veio confirmar o que
as pesquisas, na fronteira entre a sociologia, a psicologia e a neurociência, concluíram:
‘Numa decisão relevante para
as nossas vidas, as emoções são significativamente mais importantes do que a
razão’.