Chegando em casa, após uma reunião de
trabalho, ele se sentiu diferente de todo mundo, um ser de outro planeta. Tinha a impressão de ser o único determinado a atingir o objetivo. Esse sentimento de exclusividade naturalmente
sinalizava exagero, mas no momento não lhe ocorreu.
Na situação vivida no trabalho, se sentiu como um agente da Swat, postado armado, todos os alertas ativados, pronto para invadir o posto inimigo. Infravermelho da arma iluminando o alvo, preparado para apertar o gatilho, dependendo da reação. E, todos os seus companheiros de missão conversando sobre assuntos aleatórios e diversos, podendo até estar sinalizando posição do grupo para o inimigo. Pode isso ?
Na situação vivida no trabalho, se sentiu como um agente da Swat, postado armado, todos os alertas ativados, pronto para invadir o posto inimigo. Infravermelho da arma iluminando o alvo, preparado para apertar o gatilho, dependendo da reação. E, todos os seus companheiros de missão conversando sobre assuntos aleatórios e diversos, podendo até estar sinalizando posição do grupo para o inimigo. Pode isso ?
Sentou-se no escuro de sua sala,
pensativo, e depois de alguma reflexão
concluiu: “Devo estar doente. Só eu fico focado, sigo a estratégia
combinada, fico ansioso porque ninguém está fazendo o que deveria. Por que sou assim e os demais não? Estou estressado, ou o quê ?’
Mais tarde, já um pouco mais calmo, chegou
à conclusão que era vítima do tipo de vida que vinha levando. Tinha pouco tempo para realizar tudo o que ‘devia’
fazer, e foi se tornando um ansioso detalhista, perfeccionista tenso, depurador,
eliminador de recorrências:
o
Recebia
dezenas de e-mails diariamente; não conseguia ler todos. Então, antes de lê-los, passou a
selecioná-los por assunto e, ultimamente, por
remetente
o
Recebia
dezenas de informações, reclamações, sugestões e pedidos de pessoas. Também
começou a filtrá-los, e tomava providências dependendo do remetente, e das consequências do
não atendimento.
o
Tomava
conhecimento das noticias e informações de Jornais, revistas, catálogos, panfletos,
programas de rádio e TV. Ficava
filtrando: interessa, não interessa... Já havia se flagrado ouvindo três
emissoras do rádio do carro, simultaneamente: “este programa, esta noticia, não interessa;
passa para outra, passa para a outra .... “
“No eu me transformei? Num robô, como aquele
do filme ‘O Exterminador do Futuro’?
Onde está aquele cara tranquilo, disponível, interessante que acho que eu era ? Está certo isso ?”
Ocorreu-lhe, então, que ele poderia
ser um daqueles dinossauros da National Geograph, que habitaram o nosso planeta
a milhares de anos atrás, e que , na sua grande maioria, foram extintos. Bichos
que durante milhões de anos foram senhores absolutos da Terra mas que, a partir
de determinado momento, por isso ou por aquilo, começaram a desaparecer e
desapareceram.
Naturalmente, alguns desses seres perceberam que as coisas
já não eram as mesmas, e que havia necessidade de se adaptar para sobreviver.
Começaram a se alimentar de acordo
com as circunstâncias atuais - ao invés de folhas altas, folhas mais acessíveis; animaizinhos comuns, ao invés daqueles mais
saborosos, porém espertos, difíceis de caçar; ... E, pouco a pouco, foram se adaptando, seus
corpos ficando mais adequados para as atender as exigências do novo estilo de vida.
No finalmente, acabaram por se transformar nesses bichos simpáticos, que ficam
pulando alegremente de galho em galho, ou andando nas florestas, voando no céu,
nadando nos mares e rios, nos rodapés dos nossos sótãos, ou naqueles que estão
instalados confortavelmente nos Zoológicos.
Concluiu que era isso que devia
fazer. Para facilitar, não deixará que os outros percebam que agora está consciente de que, se
continuar agindo como vinha agindo, de acordo com sua rotina recorrente,
logo logo iria se transformar num ser totalmente descartável, um inútil perdido
nos detalhes.
Definitivamente iria mudar seus
hábitos: no dia a dia, passaria a se satisfazer apenas com ‘bananas’ e ‘bichos
pequenos’ - nada de especial ou chamativo. Passaria a ser mais seletivo nas
suas metas – quanto menos olímpicas, melhor.
Dedicaria a maior parte do seu tempo para executar aquilo que definisse
como sendo prioritário, o mais significativo para ele como pessoa. E,
além disso, tentaria fazer com que as
metas selecionadas dentro dessa nova ótica, acontecessem sem estresse, de uma forma discreta, planejada e
eficaz.
Assim, para ele, o amanhã será primeiro dia de uma nova época, inicio de um período de adaptação, ao final do qual ele sairá transformado para melhor, um novo ser, um sobrevivente.
Pensando assim, foi dormir mais tranquilo.
Assim, para ele, o amanhã será primeiro dia de uma nova época, inicio de um período de adaptação, ao final do qual ele sairá transformado para melhor, um novo ser, um sobrevivente.