Seu dia era igual a todos os
outros. Havia perdido a filha e
esposo num acidente de trânsito, mas estava se recompondo: mudou para uma outra
casa que começou a reformar, começou a praticar fitness que havia abandonado já
há algum tempo, estava fazendo um curso de aperfeiçoamento na faculdade, ...
Enfim, retomou o curso da vida que havia sido bruscamente quebrado. Nesse
processo, foi auxiliada pela psicóloga da pequena cidade onde morava, que lhe orientava e
incentivava.
Na reforma de sua casa, estava sendo
ajudada pela sua amiga arquiteta, que lhe deu sugestões, fez um projeto e
estava orientando a equipe que foi contratada para executar o serviço. Essa casa foi comprada parcialmente mobiliada
pois seus antigos proprietários haviam se mudado para o exterior. Ela até achou
bom porque não quis levar nada que a prendesse ao passado que, infelizmente,
passou. Numa das visitas que fazia para acompanhar
o andamento da obra, encontrou na biblioteca da casa um diário manuscrito que
começou a ler. Os relatos eram casuais e, embora interessantes e muito bem
redigidos, não traziam nada de especial.
Entretanto, mal tinha acabado de ler um pequeno trecho, bateram na porta, ela foi abrir e, surpreendentemente, era seu marido e
filha chegando. Ela assustada, não entendeu nada. Eles agiam naturalmente, como
se nada tivesse acontecido. Começaram a conversar e ela ficou sabendo que eles (ela e o marido) haviam se separado, por conta de um suposto romance dela com um colega de trabalho, e
que ele estava trazendo a filha para passar o dia com ela, como combinado.
(????). A filha estava arredia, diferente do que ela se lembrava. Mas tudo
bem.
Em seguida ele foi embora, e a filha
pediu par ir dar uma olhada no lago, próximo da casa. Ela, ficou em dúvida se a autorizava, mas,
diante da insistência, acabou deixando.
Passaram as horas, ela viu um grupo de jovens voltando do lago e
perguntou a eles se a tinham visto. Não tinham.
Ela ficou apavorada, foi correndo ao lago, procurou, procurou, e não a
encontrou. Chamou a polícia e começaram
as buscas pela menina desaparecida.
Ela ligou para sua amiga arquiteta,
para pedir que ela viesse e ficasse junto com ela, acompanhando o processo; mas ela não atendeu o
telefone. Foi até a sua casa, e lá quem
a recebeu foi a mãe da amiga, que estava acabando de chegar. Perguntou sobre a
amiga, e mãe ficou atônita. Se estranharam, e a mãe acabou por dizer que a filha
havia falecido havia 13 anos!
Procurou a psicóloga, e esta a recebeu
friamente, como se não a conhecesse. Tanto
insistiu que a mulher a autorizou a entrar, mas exigiu que ela, antes de contar a sua história, se apresentasse, fornecesse seus dados. Realmente, a psicóloga
não se lembrava mais da sua paciente... E ela foi embora, transtornada.
Não conseguia entender o que estava
acontecendo. Então, lembrou-se que tudo
havia começado com a leitura do diário.
Voltou, e recomeçou a lê-lo. Nisso, sua filha, entrou correndo na sala, e ela, embora lívida, ficou aliviada. Observou que a
filha mancava de uma perna. Perguntou o que aconteceu, e a menina lhe disse que estava se sentindo
muito bem, que estava se recuperando do acidente e que, logo logo, poderia
correr normalmente como sempre fizera. O pai havia falecido no acidente...
Desta vez ela aceitou mais facilmente o que estava acontecendo,
embora ainda sem entender. Recompôs-se, refletiu, e tomou uma decisão: 'A partir daquele momento, não entraria mais em nenhum novo portal do tempo.' - embora o desejo de explorar as outras possibilidades
fosse muito forte. Colaborou para a sua
decisão a consciência que todos os recomeços não resolveriam seus problemas.
Eles apenas se transformariam em outros, numa sequência imprevisível e sem fim. O único tempo com o qual ela poderia interagir e influir na realidade que a afetava, era o seu agora.
Pegou o diário pela última vez, o jogou na lareira onde ele se queimou, e foi verificar se sua filha estava bem.
Pegou o diário pela última vez, o jogou na lareira onde ele se queimou, e foi verificar se sua filha estava bem.
'Não devemos desistir de
explorar,
E o fim de toda nossa
exploração
Será chegar onde começamos
E reconhecer o lugar como na
primeira vez.'
(Four
Quartets, T.S. Elliot)
o