Os enamorados se sentem vivendo um sonho, um sonho que, ao
contrário do que é próprio dos sonhos, está ao seu alcance. O sonho é o outro,
seu namorado. Eles não vêem a hora se encontrarem, de se falarem, de se
tocarem, de estarem juntos. O simples pensar um no outro, já os torna eufóricos
- não acreditam que é possível ser tão feliz. Estão vivendo num plano superior,
acima da realidade. Nesse plano, os dois se vêem com tanta simpatia, que tudo o
que o outro faz, até os defeitos, são positivos, acrescentam. Tudo alimenta o
sentimento de realização mútuo.
Entretanto, a paixão é um sentimento tão forte quanto volátil - tem prazo
de validade, dura pouco, evapora, como um gás liberado, procurando o espaço. Em
decorrência, começa a ocorrer um desequilíbrio de sentimento entre as partes: o
índice de paixão varia - neste passa a ser maior ou menor do que naquele. E,
pouco a pouco, o mundo real vai ocupando o espaço, antes ocupado pelo mundo
romântico dos enamorados, onde tudo é tão maravilhoso.
Pelo processo ser tão previsível, para quem olha de fora, nada é mais
risível do que um casal enamorado. Porém, quem já viveu tal emoção, certamente
não trocará esses momentos efêmeros de paixão, por nenhum outro, considerando o
significado pessoal que eles carregam. Eles são fundamentais. Têm tanta energia
que as luzes da sua lembrança se mantem acesas na nossa mente, na nossa alma,
fazendo companhia até a velhice, ajudando a compensar então os eventuais sentimentos de
solidão, abandono, dor, frustração, vazio... Certamente, nos momentos derradeiros, elas ainda nos farão companhia e, quem sabe, nos acompanharão na nossa viagem para o outro plano, um plano superior, acima da realidade, onde todas as energias se encontram, se complementam, num ato de amor, de paixão, agora sim eterno.