Nosso mundo, muitas vezes, se
parece com aqueles corredores de um prédio de escritório, cheio de portas
fechadas, uma atrás da outra. O único diferencial aparente entre elas é o seu número, a
sua identidade. Mas, cada porta daquelas é uma vida, guarda um mundo próprio de esperanças, de
dificuldades, às vezes de dramas, tragédias e, às vezes de alegria, ou apenas
de uma rotina cansativa, ...
Basta entrar para perceber que
nenhuma porta é a do paraíso ou a do inferno. Nada do que acontece ali é definitivo, nada está morto – tudo está cheio de vida, com
tudo o que isso representa.
Por exemplo, atrás de uma delas é o
escritório de um negócio que pertence a
um senhor que já está beirando aos setenta anos. Sua saúde, nesta fase de sua vida, está meio
prejudicada; não se dá bem com o sócio já há mais de 20 anos; tem dois filhos adultos que não se
interessaram pelo negócio; e tem dois netos, ainda crianças, cuja responsabilidade pela criação ele assumiu.
Atrás da outra, é a o escritório de um
empresário bem sucedido, cuja empresa cresceu de repente e continua a crescer, mas de maneira
desorganizada. Ele sabe que, se não colocar a casa em ordem, irá colocar tudo a
perder.
Atrás da seguinte, é o escritório de um casal cujo
negócio que vai indo muito bem, mas funcionando sem um controle efetivo de
receitas e gastos. Eles não sabem exatamente quanto ganham e gastam, se têm lucro ou prejuízo. Sabem que algo não vai bem porque, para manter o
fluxo de caixa, frequentemente têm que recorrer a empréstimos, que pouco a pouco, estão tirando a capacidade de cumprimento dos compromissos assumidos, e de investir para aproveitar o mercado favorável, crescer, gerar mais receita.
Assim, cada porta guarda um universo cujos habitantes orbitam em torno de situações que absorvem toda a sua
energia produtiva. Entretanto, eles insistem em ficar ali porque, por outro
lado, é esse universo que lhes dá meios para a sua subsistência e a de suas
famílias, e os capacitam, eventualmente, a viverem momentos alegres e felizes, que
os fazem ficar de bem com a vida, a esquecer e a superar as dificuldades do dia a dia.
Podemos chamar isso de viver? Afinal o que podemos aspirar como sendo uma
boa vida? É simples. Uma boa vida é
aquela em que, embora com as dificuldades inerentes, não exclua sonhos,esperanças e alegria. A vida tem significado por tudo que cada um consegue
construir – superação social, família bem estruturada, futuro equacionado e, principalmente, sentir-se em paz
consigo mesmo. Essa paz é o resultado do sentimento de orgulho por ter feito o que conseguiu fazer, do que ainda faz e do que pretende fazer. É também a consciência e assumida das próprias limitações naturais, próprias dos seres humanos: origem, formação, idade, doenças, eventuais reveses, ...”
E a má vida? O que é? Má vida se tem quando algum desses itens não pode ser atendido. O que fazer então? O mais
importante, inicialmente, é se ter consciência do problema e das suas causas.
Só assim elas poderão ser combatidas, eliminadas e a situação equacionada. E,
mesmo que isso não seja alcançado, pelo menos faz com que a pessoa se sinta bem
consigo mesma por ter, honestamente, aplicado toda a sua capacidade e energia
para conseguir reverter o quadro. Essa consciência evita o sentimento degradante
de frustração. E, muito pelo contrário, a leva a se sentir em paz consigo mesma, e com
o mundo que a rodeia.
Esse sentimento de paz
é a coisa mais valiosa que existe. É desejo mais prioritário dos
desesperançados e angustiados que ainda conseguem se manifestar. Eles não desejam nada mais do que uma boa noite
tranquila de sono, sem preocupações, sem cobranças internas, sem arrependimentos, sem mágoas.
Portanto, a possibilidade de ser
feliz, por mais incrível que pareça, depende de cada um, e não das circunstâncias
aleatórias da vida, a que todos estão sujeitos.