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Realidade Relativa



 Sônia era uma senhora com cerca de 60 anos, aposentada, levando uma existência tranquila, na qual predominava a rotina. Entretanto, durante toda a sua vida foi muito dinâmica, ativa e conseguiu realizar quase tudo a que se propôs.


Estudou, se formou em medicina, fez especializações, e atuou em diversos centros de saúde renomados. Seu nome tornou-se uma referência na sua  especialidade. Até hoje ela é convidada para participar de alguns eventos que tratam do assunto.


Embora ela tenha se relacionado sentimentalmente com vários parceiros, nunca se casou ou teve filhos.


Recentemente, com muito tempo disponível, passou a organizar suas memórias e arquivos. Foi levada a fazer isso porque, provavelmente por conta da idade, sua memória começou a falhar. Tentava lembrar o nome de uma pessoa, local, aquele evento, aquela matéria,... e tinha dificuldade.


Então, pensando no futuro e para minimizar o problema, começou a tomar nota das coisas que considerava mais importantes -  do que acontecia, lia ou pensava, e as classificar por assunto. Com relação a pessoas, organizou um arquivo fotográfico que nomeou, registrando seus  momentos e circunstâncias.


Essa sua iniciativa a fez perceber que muitas pessoas e fatos passados, hoje parecem mais importantes do que pareceram na época em que ocorreram, e vice-versa. Por que acontece isso?


Ela nunca conseguiu responder. Porém, separou as lembranças, as pessoas mais significativas, e as guardou num campo especial da sua memória.


Percebeu que conseguia se deslocar mentalmente para alguns momentos, e para outros que criava na sua imaginação. Então, conseguia ‘conversar’ com as pessoas envolvidas,  observar suas reações, formar opinião, relacionar com o seu presente... Essas ‘lembranças’ a faziam se sentir bem, e  passaram a fazer parte do seu cotidiano.
  


Encontro com os amigos


Imaginou um espaço onde ela e todos esses amigos mais significativos  se encontravam esporadicamente. Era uma grande casa à beira de um braço de mar que avançava para a terra. Lá embaixo via o movimento da água, em forma de ondas, tentando avançar mais terra adentro e, sem sucesso, retornava.

Lá de cima via aquela paisagem em movimento, sentia o seu pulsar. A construção, parecendo um restaurante, era térrea, tinha um grande salão e uma varanda que dava para essa vista espetacular - o braço do mar abaixo, e o mar aberto mais para a direita, no horizonte.  

Sorrindo, gozando da alegria do momento, caminha em direção daquele espaço, indo ao encontro de seus amigos. Quando está chegando, não avista ninguém - mas sabe que eles estão lá. Sente uma energia amigável gerada pelo lugar, e se sente feliz, imaginando as pessoas que encontraria, suas conversas, brincadeiras.  

Quando o momento se desfaz, fica com a sensação de esteve próxima de alguma coisa muito boa que, de alguma forma ,existe e está reservada para ela. Entretanto, por enquanto, existe apenas na sua alma, na sua imaginação.


Encontro com o Pai


Caminhando na rua, quase noite, ela se imagina indo para casa. Lamenta estar sem a chave do seu apartamento e celular. Não fica claro o porquê. Segue meio atrapalhada, sem perceber que passou em frente ao edifício onde mora, e continua andando.

Logo em seguida, avista alguém, caminhando em sentido contrário e reconhece que é o seu pai. Ao mesmo tempo, percebe que está diante de um prédio com tijolinhos à vista – que não é o seu.

O pai é então um homem elegante, vestindo camisa e sapato social, gravata, e terno - de  uma tonalidade avermelhada-escura, caminha altivo no meio das pessoas que também caminham pela calçada. Ele a avista, a reconhece, mas  continua seu percurso, provavelmente se dirigindo para o apartamento que compartilhavam, que havia ficado para trás.

Feliz pelo encontro, mesmo porque iria solucionar seu problema de acesso ao apartamento, ela dá meia volta e o segue, balbuciando que novamente se distraiu e esqueceu a chave do apartamento. Ele a ouve sem se deter, sem olhar diretamente para ela, e sem responder,  comenta que já está há mais de um dia sem ir para casa.

Continua caminhando. Ela o segue tropeçando, com dificuldade para acompanhar seus passos largos. Percebe então que, agora, ele está maltrapilho e descalço. 


 Espaço familiar



Ela está saindo de um edifício onde veio assistir a uma conferência junto com colegas, e deve seguir para um encontro profissional.  Como  está meio atrasada, pensa em ligar para um motorista de táxi e pedir para levá-la. Percebe então que deixou seu celular e dinheiro no hotel. Mas, devido a hora, não pode perder tempo indo buscar. 

Sem dinheiro para pagar pelo próprio transporte, resolve seguir em frente e ir a pé mesmo para o local do encontro. 

A cidade é estranha para ela e, embora saiba a direção, tem dificuldade para encontrar o caminho. Segue por uma determinada rua; não era aquela. Segue por outra, e também não.

Já meio desesperada, temendo  perder o encontro, resolve subir uma rua íngreme – talvez lá de cima consiga se localizar. Ao chegar, tem uma surpresa. A ladeira dava numa rua plana, sem saída. Era ladeada por construções clássicas, cuja simetria e acabamento  transmitiam calma, realização.

À direita, estava implantado um prédio, que obedecia o mesmo padrão das demais construções, ocupando quase todo o espaço daquela lateral. Esse edifício, estranhamente, lhe pareceu muito familiar. 

Onde ela viera parar? Parecia que tinha viajado tanto para chegar justamente nesse lugar. Lugar que, de alguma forma, tinha a ver com ela, como se fizesse parte da sua história.

Envolvida por esses pensamentos, se esqueceu por um momento da sua prioridade. Lembrando-se, se recompôs, voltou pelo caminho de onde tinha vindo, abandonando aquele lugar que a fez regredir ou avançar para um tempo desconhecido, se sentir tão bem, e continuou na sua busca apressada.

Figuras Imaginadas



Já há muitos anos ela coleciona on-line reproduções de obras de arte. Todas estão classificadas por tipo, identificação do autor, sua história, data de confecção, comentários etc.

Diariamente divulga uma dessas obras nas redes sociais, bem como eventos importantes relacionados com arte que acontecem no país e no  mundo. Talvez por conta disso, começou a identificar imagens nos locais mais improváveis: no tapete persa da sua sala, nas nuvens, nas sombras, nas águas de um lago, nas ondas do mar,...  Essas figuras representavam seres humanos ou animais, caracterizados: soldado, detetive, policial, cowboy, mulher sensual, bichos diversos - podem ser realistas ou estilizados, mas a maioria parece fazer parte de algum desenho animado.

O interessante é que essas figuras, mesmo visualizadas num mesmo local,  não são sempre as mesmas - a sua conformação depende do dia, do modo de olhar.  Às vezes, mesmo numa fonte imóvel como o tapete, por exemplo, tem dificuldade em redescobrir alguma figura que visualizou anteriormente.

Embora não tenha habilidade ou formação artística, lhe ocorreu que os autores das obras que admira tanto, devem ter tido inspirações desse tipo para iniciar, ou no decorrer de seus trabalhos. A ilusão, a figura imaginada, pode tomar forma mais elaborada nas mãos de um artista.

Ela, embora sem compreender, ficou feliz em poder entender e participar dessa parte do processo criativo. Muito provavelmente, foi o caminho percorrido pelos seus ídolos, responsáveis pela criação das obras de arte que tanto admira.


Passado Contínuo



Saindo de uma reunião de trabalho, no fim do dia, ele esperava por ela. Agia como se a conhecesse muito bem, mas ela não o reconhecia. Sua figura lhe remetia a um conhecido, de origem alemã, com quem conviveu no passado.

Era jovem, bonito, simpático. Em seguida, ele a convidou-a para irem comer alguma coisa. Por qualquer motivo, ela achou melhor declinar para evitar um maior envolvimento. Disse que estava cansada - que havia ficado estudando o dia todo e que, no dia seguinte, faria uma prova importante para o seu doutorado de medicina.

Conversaram mais um pouco e, em determinado momento, ele mostrou para ela a fachada de um restaurante alemão que ficava do outro lado da rua onde estavam. Elogiou o restaurante e disse que ela deveria conhecê-lo.  Ela disse: “Ótimo. Podemos ir aí então. Só me um tempo porque preciso dar uma passada no hotel – estou hospedada aqui perto, e já volto.” “Ok!”. Ela foi e, em alguns minutos, voltou toda arrumada. Então, ele estava com uma amiga e duas crianças.

Para a amiga, ao lhe apresentar, comentou sobre a prova que ela iria fazer no dia seguinte. A moça era falante, simpática, mas nada especial.

Entretanto, as crianças, que tinham entre 8 e 9 anos, lhe impressionaram – denotavam pureza, inteligência, e  estavam vestidas com um tipo de roupa que não tinha nada a ver com os modismos da época. Tinha um design meio vintage, com um caimento perfeito.

As roupas e acessórios eram claros, brilhantes, denotavam riqueza. Os garotos, enquanto eles se preparavam para entrar, andavam juntos, para lá e para cá, com segurança, indiferentes aos adultos, ao efeito que haviam lhe causado.

Quem eram essas pessoas? Vieram ao seu inconsciente sinalizar alguma coisa? Mostrar um passado que poderia ter acontecido, mas que nunca se realizou, ou um futuro? 



Instalação Acidentada



Sônia estava no interior da sua casa, especificamente na sala, fazendo algumas instalações - uma necessidade eventual e recorrente para quem mora sozinho. Fixava um suporte na parede, instalava um gancho para pendurar um quadro, etc.

Num determinado momento, inseriu um pequeno pino de ferro junto a um interruptor de luz, e acabou atingindo a fiação. Naturalmente, provocou um curto elétrico. Saíram faíscas e, num repente, chamas de dentro da caixa.  Sonia, apavorada com a possibilidade do fogo se espalhar, saiu correndo na direção da casa do amigo Thomaz que morava em frente. E, gritando seu nome, pediu ajuda. 

Thomaz sempre foi alguém ponderado, com respostas prontas para tudo, parecendo até meio pedante por conta desse seu jeito.

Todos os vizinhos se assustaram com a gritaria. Thomaz, então, a acompanhou, até o local.

Saia fumaça da caixa, mas o fogo não havia se espalhado.   Ocorreu a Sônia desligar a caixa de força da casa. Thomaz lhe disse que já havia feito isso.

Passado o susto, Sônia refletiu sobre o que aconteceu, e ficou com algumas dúvidas, que até hoje não conseguiu responder. Como ela, uma mulher experiente: 
  •  Foi tão distraída a ponto de colocar um pino de ferro junto à fiação de um           interruptor de luz?
  • Por que não desligou a caixa de força  da casa imediatamente, após o     incidente?
  • Por que, em seguida, ao invés de resolver o problema que causou, saiu     correndo em busca de ajuda, sendo que sabia tudo o que deveria ser feito?
  • Por que foi buscar ajuda justo ao petulante do Thomaz, a quem sempre     criticou, ironizou, por aquela sua atitude superior, sapiente?
É, ninguém sabe exatamente qual será a nossa reação frente a determinadas circunstâncias, até que aconteça. O nosso eu interior, o inconsciente, reage, se manifesta imediatamente, antes do racional.

Equipamento em Montagem
  
Ela estava saindo da casa, e esbarrou num homem simpático, aparentemente originário do Oriente Médio, que caminhava empurrando um carrinho de bebê. Desculpou-se, e ia continuar seguindo seu caminho,  quando viu dentro do carrinho um garotinho, muito pequeno para os padrões normais, magrinho, com aspecto doentio e expressão infeliz, mal vestido,  que, a olhava como se quisesse lhe dizer alguma coisa.

A criança tentou sair do carrinho sinalizando que queria ir em sua direção,  e quase  cai no chão. Ela imediatamente a socorre, evitando. 

Nisso, o homem, que certamente era o pai, assim que a criança se acalmou, se ofereceu para ajudar na montagem do equipamento que estava sendo instalado na casa dela.

Ela achou aquilo muito estranho. Em primeiro lugar, porque não havia nenhum equipamento sendo instalado na sua casa;  e,  em segundo, porque não sabia quem era aquele homem,  nem o que fazia, nem de onde veio.

Pensando no que iria responder, a imagem, o momento, se desfez, se perdeu.


O Cachorro Marrom


Ela estava numa casa que, embora lhe parecesse familiar, não era a sua. Precisou ir ao banheiro. Foi ao mais próximo, abriu a porta e lá dentro havia uma criança, uma menina, que estava  tomando banho – não dava para vê-la muito bem porque a porta do box estava embaçada. Entretanto, ela resmungava, como  estivesse chateada. Não entendeu o que dizia, mas imaginou que talvez estivesse chamando pela mãe.

Acionou o interruptor da lâmpada do banheiro para enxergar melhor, mas não funcionou. Então, saiu do banheiro.

Do lado de fora ouviu latidos de um cão e, olhando para aquele lado, viu um grande cachorro marrom, correndo alegre em sua direção. Veio, passou por ela, sem se incomodar com sua presença, e continuou. O cão saiu de casa em direção ao quintal. Ela trancou a porta por onde o cão saiu, para evitar o seu retorno.

Entretanto, o cachorro, alegre, não desistiu. Tirou uma pequena grade que tampava um buraco  existente no chão do quintal e, entrando por ele, passou através um pequeno canal que ligava a uma outra abertura no interior da casa, e conseguiu entrar. 

Passou correndo por ela novamente, ainda alegre, latindo, e continuou, seguindo seu caminho, provavelmente aleatório, sempre  correndo.  

Memórias Revitalizadas


De tanto conviver com as lembranças do que era mais significativo registrado na sua memória, ou com ocorrências que não tinham conexão nenhuma com o seu passado, mas que, eventualmente e por algum motivo, tomou consciência, acabou por valorizar mais essas ‘lembranças’ do que a própria realidade. A realidade passou a ser um meio necessário para se manter viva, para poder continuar a resgatar uma realidade relativa, desconhecida, que deveria existir.

Esse modo de ser acabou por definir seu comportamento. Sempre que tinha contato com alguém, sempre que recebia alguma notícia ou informação, dirigia sua atenção exclusivamente para aquela pessoa, para aquele fato, e isso fazia com que estivesse sempre focada, observasse, valorizasse mais, tudo o que acontecia à sua volta.

Com o tempo, principalmente através das redes sociais, por conta da profundidade e correção das suas observações, acabou por se tornar conhecida, famosa. Então, era seguida, procurada, por inúmeras pessoas que queriam conhecer a sua opinião, receber orientação. 

Contavam suas histórias, seus problemas, dúvidas, e esperavam por seus comentários.  Ao mesmo tempo em que tomava conhecimento, ela incorporava as histórias que mais a sensibilizavam, e as sentia como se as estivesse vivendo – talvez mais intensamente do que os diretamente envolvidos. Isso permitia a ela, com base na sua experiência, inteligência e imaginação, avaliar as circunstâncias, possibilidades, e orientar corretamente seus consulentes.

Sentia-se bem fazendo o que fazia. Tinha consciência que não foi ela que procurou aquilo - simplesmente aconteceu Apenas liberou uma energia criativa que já fazia parte dela, e que, naturalmente, foi evoluindo num crescendo. E, além disso, ela não estava sendo motivada para atender ao eu ego, mas guiada por uma intenção mais elevada – ajudar ao próximo. Ela se sentia como quando criança,  quando o ser natural dela ainda estava inconsciente do seu ser ego, e agora, cada vez mais, sentia que se aproximava de quem fora então.

Essa é história da Sônia. Vivendo em mundos criados pela suas memórias revitalizadas, pelas experiências de outras pessoas, ou criadas pela sua imaginação, passou a conseguir influir, desinteressada e positivamente, no seu destino e no de quem vivia num único mundo, o mundo real para elas, naquele momento de suas vidas.

Sequência



Leonardo participava de um evento para escolha de projetos que posteriormente seriam implantados na empresa organizadora, visando a otimização de seus processos administrativos e produtivos. Inicialmente foi apresentada a empresa, sua organização, suas maiores dificuldades e  problemas, bem como os objetivos ideais a serem alcançados.

Na sequência os participantes foram orientados a se instalar nas  mesas e cadeiras que estavam disponíveis numa área específica, onde poderiam desenvolver seus temas – propostas. Posteriormente, as propostas seriam avaliadas e os vencedores teriam suas ideias valorizadas e pagas, de acordo com os benefícios organizacionais e financeiros resultantes.

Leonardo, que havia encontrado um colega no local, teve a ideia de localizar suas mesas lado a lado, considerando que poderiam inter-relacionar sequencialmente seus temas, aumentando assim a chance de sucesso - a proximidade, naturalmente, iria facilitar a comunicação e o entendimento.  Oportunamente, encontraram um outro colega que também estava participando, e o convidaram para ficar junto com eles.  Começaram a deslocar uma mesa para cada um no espaço que escolheram dentro da área de trabalho.  

Interessante que em nenhum momento Leonardo teve dúvida de que conseguiria fazer o que era necessário; sentia-se tranquilo e motivado.

Na sequência, houve uma interrupção da conexão e ele voltou à sua realidade, onde as perguntas sem resposta eram maioria.  Mas, o que ficou daqueles momentos ‘vividos’ naquela realidade paralela foi muito útil, no sentido de que mostrou a ele que estava mais preparado para enfrentar e superar os desafios  do dia a dia, profissional ou particular, do que imaginava conscientemente.


Amor Interrompido 




Numa manhã, antes de se levantarem, Nelson e Marina estavam na cama, no quarto da sua casa, se reencontrando depois de algum tempo. Ambos estavam carentes de sexo, e a relação naquele dia estava especialmente ‘quente’.  Já tinham feito amor uma vez, e, passados alguns minutos, recomeçaram a se acariciar, a se procurar, com uma urgência ainda maior do que a da primeira vez. 

Inesperadamente, Nelson viu através do vidro da janela, dois homens, um negro e um branco, olhando seriamente para dentro do quarto, para o que eles estavam fazendo. Um era um policial fardado, e o outro, um homem de meia idade, engravatado.

O policial estava com um celular na mão, provavelmente gravando a cena. Nelson se levantou, abriu a janela, arrancou o celular da mão dele, e o atirou no chão. O celular ficou despedaçado. Tanto o policial como o homem que o acompanhava, ficaram atônitos, sem reação.

Nelson então fechou a janela e, prevendo que os homens iriam quebrá-la para entrar no quarto e o alcançar, gritou para Marina que estava acompanhando a cena: ‘Vamos sair! Ela se levantou do jeito que estava e saiu correndo na frente.

Ele foi  atrás, fugindo, sem saber qual foi a motivação e a reação dos' homens da lei’.

Reencontro


Eduardo, um homem de cerca de 40 anos, estava sentado em uma mesa, num salão de festas apinhado de gente, juntamente com duas amigas e um homem, que exibia um ar intelectual, inexpressivo.  

Eduardo, sempre sorridente, puxava a conversa. Em seguida chegou uma senhora, que era esperada por todos. Ela, aparentemente, tinha alguma ligação com o outro homem da mesa.  Tinha uns 30 e poucos anos, estava vestida com um vestido longo, todo bordado, portando joias que realçavam sua beleza clássica. 

Lourdes, era esse o seu nome, era uma conhecida do passado de Eduardo. Haviam interrompido o relacionamento por razões que independeram da vontade de ambos, já há muitos anos.  Desde então, Eduardo tinha dela uma lembrança recorrente, que a o ajudava a passar pelos momentos mais difíceis e solitários da sua vida.

Ele aguardava esse encontro com curiosidade – como ela estaria, se haveria alguma chance de reconciliação, enfim...

Lourdes chegou, deslumbrante, séria, aparentando tristeza. Aproximou-se da mesa, preparando-se para sentar na poltrona junto ao seu par, sem falar nada, sem olhar para ele, ou para alguém da mesa.

Ele pensou que essa atitude dela fosse decorrente do encontro inesperado entre ambos, e por ela não estar preparada, não ter definido qual a melhor atitude tomar diante da situação.

Nesse ponto, as lembranças de Eduardo, de uma vida passada ou futura, se esvaneceram, e ele ficou sem saber o que aconteceu em seguida.  Mas ficou com uma certeza - o encontro aconteceu, independentemente da sua realidade atual, com cerca de oitenta anos de idade, vivendo retirado da vida social agitada, comum no passado, e sem ter notícias atualizadas da sua ex companheira, Lourdes.  



(JA, Mai20)









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