Os vereadores de Campina
Grande (PB) aprovaram, e o prefeito sancionou, a lei n° 7.280, que
institui a ‘Leitura Bíblica’ nas escolas públicas e privadas da cidade. Ainda
não está muito claro o que virá pela frente, porque a norma é muito vaga. O
objetivo, porém, é, como estabelece o próprio diploma, repassar aos estudantes
o ‘conhecimento cultural, geográfico e científico’ contido no livro sagrado.
O que a Bíblia nos ensina?
Comecemos pela ciência. De acordo, com Josué 10:12, Deus parou o Sol para que
os israelitas pudessem massacrar os amorreus sem pressa, à luz do dia. Os
astrofísicos ímpios, porém, não só dizem que é difícil interromper o movimento
de rotação da Terra como ainda que, se Deus, em sua onipotência, fizesse isso,
provocaria uma série de cataclismos que deixariam o grande dilúvio no chinelo.
Passemos à geografia. Pela
Bíblia, a Terra tem cerca de 6.000 anos —5.779, a confiar nas sempre mais precisas contas dos
rabinos. A geologia increia, porém, sustenta que são 4,5 bilhões, e
que não é preciso procurar muito para encontrar fósseis com idades substancialmente
maiores que os seis milênios.
Tentemos a cultura. Os fiéis
gostam de pensar que as Escrituras, inspiradas pelo próprio Criador, são a
fonte da moral e que os ensinamentos que ela traz nessa área são
incontestáveis. Filósofos heréticos, entretanto, apontam problemas no fato de o
‘bom livro’ autorizar coisas que a turma do politicamente correto acha feias,
como vender as filhas como escravas (Êxodo 21:7), assassinar parentes que abracem outras religiões (Deuteronômio
13:7),
além de matar gays (Levítico 20:13).
Se você já lamentava que o
consórcio entre políticos e religiosos que chegou ao poder no Brasil ignorasse
a ciência, tudo pode piorar se passarem a ensinar coisas objetivamente erradas
para a garotada, usando a tal da ciência bíblica no lugar da boa e velha
ciência agnóstica, que tem alguns acertos para mostrar.
Fonte: Hélio Schwartsman, Jornalista,
foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…". | FSP
(JA, Set19)