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Revolta Liberada






Adilson vinha passando por uma fase na sua vida sem precedentes. Justo ele, para quem tudo sempre dera certo, ultimamente tudo começou a dar  errado.  Naquela manhã especialmente - o ERRADO foi escrito com letras maiúsculas. 

Acabara de ser informado que deixara de ganhar uma quantia considerável que já considerava como realizada. Sentiu-se frustrado e impotente diante do mal feito -  agora, já não havia o que fazer para evitar, compensar. Manteve a calma, e concluiu que o mais certo seria tomar providências para evitar novos prejuízos.

Decidiu fazer isso o quanto antes, e saiu dali.  No caminho passaria no local onde  precisava entregar os documentos necessários para venda das ações restantes.

Veio dirigindo e, quando chegou na sua referência, virou à direita. Então, observou que havia fechado um motociclista que, indevidamente, o estava ultrapassando pela direita. Não aconteceu nada porque o motociclista freou. Na sequência – viu então que era uma senhora-, ela o alcançou, bateu no vidro do motorista, exigindo ser ouvida. Com certeza estava indignada, se achando coberta de razão, vociferando.

Adilson, sem pensar, mas sem querer ser admoestado por mais ninguém neste dia, abriu seu vidro e gritou: ‘Vá embora!’ , o mais alto possível, por várias vezes, não prestando atenção ao que ela falava. A única coisa que captou do que ela falou foi: ‘Louco!.

Em seguida, acelerou indo em frente, jogando do carro para a esquerda,  fechando a eventual passagem da moto. Pelo espelho retrovisor a viu manobrar, saindo daquela rua.

Mais tarde refletindo, considerou sua atitude despropositada e irracional, e deu razão a ela quando o chamou como chamou.  Por outro lado, aquela sua explosão mostrou uma revolta que ele tinha inconscientemente guardado dentro de si, que, acionada por um evento banal, foi liberada.

Esse contingenciamento racional da revolta que sentimos, que habitualmente praticamos, certamente não é saudável e, como no caso, acaba sendo indevidamente liberada, atingindo pessoas que não têm nada a ver com o que a causou. Essas pessoas, por sua vez,  podem então também contingenciar o que sentem, guardando a revolta então criada, que pode ser liberada indevidamente, criando assim uma cadeia recorrente, ao fim da qual todos acabarão sendo prejudicados.


Por que gritamos?

Estudo indica que o grito serve para insuflar medo, e para alertar, mostrando sinal de perigo. É óbvio, mas agora se trata de uma obviedade comprovada pela ciência.

Pesquisadores da universidade de psicologia e neurociência de Nova York descobriram que escutar um grito pode ativar no cérebro a reação de sentir medo, e esse é o motivo pelo qual gritamos. O estudo foi publicado na revista Current Biology.

A pesquisa foi realizada com vídeos de YouTube, filmes, e 19 voluntários. O primeiro passo foi medir o tom dos gritos e compará-los aos de uma conversa casual, observando os volumes e a reação das pessoas. Depois, foram analisadas imagens do cérebro dos participantes, e se descobriu que os gritos não são interpretados como o restante dos barulhos. Eles passam pela área das amídalas, o processador de medo do cérebro.

‘Percebemos que os gritos ativam o circuito do medo. A amídala é um núcleo no cérebro especialmente sensível a informações sobre o medo. Isso significa que os gritos são considerados não apenas um som, mas um gatilho para a conscientização’, afirmou David Poeppel, neurocientista e autor do estudo.

Com os gritos, os pesquisadores mapearam sua ‘aspereza’, uma descrição acústica para o quão rápido um som muda de volume. Enquanto a fala normal varia entre quatro e cinco hertz, unidade de medida de frequência, os gritos vão de 30 a 150 hertz, simbolizando também que, quanto maior a variação de som, mais aterrorizante ele será.

Para os cientistas, essa é uma pista sobre como o cérebro processa o perigo por meio de sons que se registra. Gritar serve não só para transmitir perigo, mas também para provocar o medo no ouvinte, e aumentar a consciência sobre um evento urgente para ambos, para quem grita e para quem escuta.







(JA, Set19)




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