Distanciamento
social
Até quando vai continuar o
distanciamento social? A pergunta é talvez o grande dilema de todas as economias
globais atualmente, afetadas pela pandemia do novo coronavírus. Muitos países
já iniciam uma saída gradual do isolamento, apostando que conseguiram controlar
a transmissão da Covid-19. É o caso da China, Coreia do Sul, Espanha, Alemanha,
Dinamarca, Áustria e República Tcheca. A Organização Mundial da Saúde (OMS) avalia com
preocupação o alívio das restrições, recomendando cautela na reabertura, que
pode ser uma aposta bastante arriscada para a reaparição do vírus.
Na última terça-feira, dia 14 de abril,
pesquisadores da Universidade Harvard publicaram um estudo que projetou a
dinâmica de transmissão do SARS-CoV-2, durante o período pós-pandemia, nos Estados Unidos.
A pesquisa concluiu que surtos recorrentes do novo coronavírus poderão ocorrer,
sobretudo no inverno, após a onda pandêmica inicial mais grave. Por
consequência, enquanto não dispormos de algum tipo de vacina, que torne as
pessoas imunes à doença, podemos continuar convivendo com ciclos intermitentes de
circulação e isolamento social, pelo menos até 2022.
O efeito da pandemia sobre a economia
É possível que o
distanciamento social prolongado ou intermitente torne-se algo bastante comum,
nos próximos meses e anos, para conter a velocidade do contágio e garantir
atendimento médico à população.
A experiência da China,
Itália e Estados Unidos demonstra que a Covid-19 pode sobrecarregar até as
capacidades de assistência médica de países com recursos financeiros
suficientes. Sem tratamentos farmacêuticos disponíveis, nesses locais, as
intervenções dos governos concentram-se no rastreamento de contatos,
quarentenas e distanciamento social.
No Brasil, o conflito entre
distanciamento social e reabertura da economia levou à deposição do ministro da
saúde, Luiz Henrique Mandetta, na última quinta-feira, dia 16 de abril.
Enquanto o ministro defendia o isolamento social, até aumentar a capacidade do
sistema de saúde nacional, o presidente Jair Bolsonaro argumentava pela
reabertura da economia, para reduzir os impactos no emprego.
Um Relatório do Banco
Mundial, publicado este mês, sobre os impactos do novo coronavírus nas
economias do leste da Ásia e do Pacífico, incluindo a China, mostra as
consequências da doença naqueles países e medidas efetivas para conter a crise.
Na última sexta-feira, dia 17 de abril, foi
divulgado que a economia da China declinou 6,8%, no primeiro trimestre de 2020, retrocesso
inédito diante de quase meio século de crescimento. Conter a pandemia da Covid-19 ameaça
transformar essa desaceleração em uma recessão fulminante para o gigante
asiático. Os maiores custos econômicos imediatos da doença devem-se
principalmente ao comportamento preventivo de indivíduos e às políticas de
controle de transmissão dos governos, que impactaram brutalmente a economia
chinesa.
Recuperando-se das tensões
comerciais e do controle da Covid-19, as economias do leste asiático e do Pacífico agora
enfrentam a perspectiva de um choque financeiro e recessão global, sobretudo
pela queda brusca do comércio e turismo internacional. Esse conjunto de eventos
perturbadores, que se reforçam mutuamente, resultam em uma crise econômica
global sem precedentes, que atinge a oferta e a demanda, em nível mundial.
É inegável que a economia
precisa voltar a funcionar. Porém, projeções indicam que essa pandemia será um
processo longo e grave. A volta ao trabalho precocemente pode acarretar no
risco de grandes surtos de contaminação, que vão afetar, de maneira ainda mais
drástica, a economia e a saúde pública. Esse tipo de situação já foi registrado
em alguns países, como nos Estados Unidos, durante essa pandemia.
Uma resposta política excepcional a uma crise sanitária sem precedentes
Uma resposta política excepcional a uma crise sanitária sem precedentes
De acordo com o Relatório do
Banco Mundial, por se tratar de uma crise sanitária que afetou a economia
global, a resposta política deve ser excepcional. Não se trata de uma recessão
comum.
Em casos anteriores, como a
Grande Recessão ou a Grande Depressão, os balanços foram prejudicados e, como
resultado, a demanda encolheu, enquanto as fábricas e as pessoas estavam
ociosas. A solução foi reparar o sistema financeiro, combinado políticas
fiscais e monetárias expansionistas, que impulsionaram a demanda, atraíram
recursos ociosos e aumentaram as ofertas de emprego.
Na situação atual, o objetivo
da resposta política imediata não é tanto restaurar a demanda, porque a oferta
e a atividade em geral reduzidas são uma consequência necessária dos esforços
para conter a propagação da pandemia. Em vez disso, busca-se proteger as
famílias, especialmente as mais pobres, contra perda de renda; e reverter a
situação das empresas, para que as falências em larga escala, e as perdas de
emprego sejam minimizadas.
A profundidade e a duração do
choque econômico são extraordinariamente incertas. Cada economia está adotando
medidas específicas para lutar contra a doença, bem como contra os efeitos de
demanda e oferta, decorrentes dos esforços do distanciamento social. A maioria
das economias está excepcionalmente exposta à potencial contração da demanda no
resto do mundo, bem como a rupturas nas cadeias de suprimentos globais e
regionais, nas quais estão integradas. Os governos enfrentam um desafio
incomum:
o Conter a doença,
o Tratar suas vítimas,
o Proporcionar alívio econômico
imediato a pessoas e empresas vulneráveis,
o Sustentar o processo de
recuperação.
Se a resposta à crise for muito curta ou muito tardia,
existe o risco de danos duráveis.
O choque da Covid-19 terá um sério
impacto na pobreza. As pessoas sofrerão diretamente com a doença, e
indiretamente, com a perda de renda. No leste da Ásia e no Pacífico, em 2020,
estimava-se que cerca de 35 milhões de pessoas escapassem da pobreza, sendo 25 milhões
somente na China. Mas isso não será possível após a pandemia.
As famílias vinculadas aos
setores econômicos, afetados pela Covid-19, enfrentarão um risco substancialmente elevado de
cair na pobreza, pelo menos no curto prazo. Na China e em outros países, o
risco de empobrecimento é particularmente alto entre os trabalhadores informais
e autônomos, que não têm licença médica remunerada ou outras formas de proteção
social, bem como entre os trabalhadores migrantes.
Como conter
o vírus
Em diferentes países, o
objetivo primordial dos formuladores de políticas é achatar a curva da
pandemia, para reduzir a velocidade do número de infectados pelo novo
coronavírus.
A medida é uma forma
emergencial de evitar a sobrecarga dos sistemas de saúde pública, aumentar a
capacidade de assistência hospitalar e salvar vidas.
Para evitar a propagação da
infecção, muitos governos concentram esforços para o controle da transmissão,
como a política de distanciamento social.
A imagem abaixo mostra, no
lado esquerdo, como a adoção de medidas para conter a velocidade de transmissão
do vírus e fortalecer os sistemas de saúde, achatam a curva de crescimento da
pandemia. No lado direito, apresenta-se, de forma diretamente relacionada, como
medidas macroeconômicas, para fazerem frente à crise, reduzem a profundidade da
recessão.
Para que o isolamento seja
viável, os governos precisam ajustar as políticas de saúde às macroeconômicas.
O achatamento da curva pandêmica tem um grande custo econômico, aumentando
brutalmente a curva da recessão. Por isso, para mitigar o impacto econômico
adverso, resultante do isolamento social, os países estão adotando medidas
monetárias, fiscais e estruturais, visando também achatar a curva da recessão
econômica. A partir de agora, as políticas terão, necessariamente, de serem
reformuladas e adaptadas à Covid-19.
Inicialmente, as medidas
fiscais devem fornecer proteção social para evitar choques, especialmente aos
grupos socialmente mais vulneráveis. Os instrumentos políticos não são
separados, pois a maioria das medidas têm implicações econômicas e de saúde.
Saúde ótima e a rápida
retomada da vida social não são fundamentalmente incompatíveis entre si, mas
mutuamente dependentes, sendo possível resolver ambas as questões, ao mesmo
tempo. Para trabalhar, você precisa estar saudável e seguro. Saúde e economia
estão entrelaçadas.
Capacidade de resposta à epidemias reduz
impacto econômico
De acordo com o Relatório do
Banco Mundial, melhores resultados econômicos e em saúde podem ser alcançados,
a partir da combinação de políticas integradas. Países como Cingapura e Coreia
do Sul, aprenderam com a experiência de síndromes respiratórias agudas
anteriores (como a Sars, em 2003, e a
Mers, em 2015). Com isso, conseguiram
alcançar resultados mais efetivos de controle da atual pandemia, adotando
medidas menos disruptivas economicamente.
As lições demonstradas por
esses países é de que investimentos iniciais em vigilância de doenças
infecciosas, e em capacidade de resposta, podem reduzir a necessidade de tomar
medidas dispendiosas de fechamento da economia. Na atual pandemia, esses
governos estavam preparados para realizar testes em massa da população,
rastrear contatos, e isolar casos confirmados ou suspeitos.
Esses países conseguiram
diminuir a taxa de transmissão do vírus, sem necessariamente terem que recorrer
a medidas mais restritivas de distanciamento social. Na ausência dessa
capacidade, não resta muita alternativa a não ser o isolamento e restrições da
circulação.
Quanto mais cedo outros
países criarem essa capacidade de contenção, mais rápido poderão acabar com os
problemas econômicos, causados por medidas rigorosas de isolamento social. Quando
confrontados com um grande surto, os países com capacidade limitada para
implementar ações de resposta, em larga escala, precisaram tomar medidas
drásticas de distanciamento social, visando conter o vírus e evitar
sobrecarregar o sistema de saúde.
Mas como sustentar essas
medidas restritivas, tão danosas economicamente, diante do prolongamento dessa
pandemia? Para a economista Mônica de Bolle, da Johns Hopkins University, os
períodos intermitentes de quarentenas, previstos a partir de pesquisas científicas
sobre o novo coronavírus, terão implicações na forma de recuperação da
economia.
A pesquisadora afirmou, em
entrevista ao programa Roda Viva, que haverá uma retomada da economia
extremamente volátil, continuando com a necessidade de intervenção do Estado.
Destacou ainda que há espaço para implementar uma renda mínima permanente aos
cidadãos, que contribuirá para manter o consumo e movimentar a economia.
É por isso que os governos
devem enfrentar a questão como um desafio mais amplo, integrado e intertemporal:
maximizar o bem-estar social, que depende da saúde e da renda; combinar
políticas de contenção (distanciamento
social, assistência médica/testes e quarentenas), e políticas macroeconômicas (fiscais,
monetárias e financeiras).
Por se tratar de uma questão
estrutural e extremamente complexa, é necessário haver um plano para contenção
da disseminação do vírus, garantindo segurança e assistência social à
população. Fora isso, não adianta insistir na abertura da economia, de forma
despreparada, sem critérios e sem infraestrutura. Experiências pelo mundo
mostram que os prejuízos poderão ser muito maiores.
Medicamentos, vacinas e testes
Os países que já começam a
reabrir suas atividades econômicas, a exemplo da Coreia do Sul e da Alemanha,
valeram-se de um conjunto de medidas planejadas para controlar a velocidade de
transmissão do vírus. É o caso de rastreamento (com sistemas de observação tecnológica), quarentenas (período de
incubação de 14 dias, no qual os infectados e suas redes de contato devem ficar
isolados) e realização de testes em
massa.
No Brasil, ainda falta um
plano claro, por parte dos governos, para reagir à crise sanitária e econômica.
Em um caso de emergência em saúde pública, medidas simples e viáveis
(rastreamento, quarentenas e testes) são, de fato, as que têm funcionado em
vários lugares do mundo para conter a crise.
Dados de geolocalização,
oriundos das empresas de telecomunicações, poderiam ser amplamente utilizados,
em todo o País, para rastrear os locais onde há aglomerações. Mais tarde, o
monitoramento remoto permitirá detectar áreas com maior incidência de
Covid-ativos. Seria uma forma de avançar na geração de informações para
auxiliar na tomada de decisão, com dados de inteligência. Em São Paulo,
principal megalópole do País, o uso desses dados tem sido efetivo para orientar
medidas de contingência. Contudo, o governo federal decidiu por não utilizar a
ferramenta disponível na gestão da crise sanitária.
O novo ministro da saúde do
Brasil, Nelson Teich, em seu primeiro discurso, afirmou que pretende investir
em informação, medicamentos, vacinas e testes, para que gradualmente o País
possa retomar suas atividades econômicas.
A primeira promessa do
ministro faz todo sentido. De fato, é preciso gerar informações seguras para
conhecer a propagação da doença entre a população brasileira, distribuída em
uma imensa área continental. Resta saber quais serão as alternativas que o
médico usará para mapear a dinâmica social e conter a incidência da infecção,
nas diferentes regiões do País.
Fora isso, o ministro
prometeu medidas difíceis de serem implementadas, pelo menos de imediato, para
pôr fim ao isolamento social e reabrir a economia. Pela ordem: medicamentos,
vacinas e testes. Vamos explicar porque cada uma delas não são viáveis como medidas
emergenciais de resposta à crise.
Medicamentos,
Vacinas e Testes
Medicamentos
Em todo o mundo, têm sido
estudados medicamentos para curar ou tratar pacientes com Covid-19,
especialmente em países com pesquisas em medicina já bastante avançadas. A
comunidade científica global deixa claro que ainda não há nenhum medicamento
com evidências científicas robustas e segurança garantida para combater o
coronavírus. Os remédios defendidos pelo presidente americano, Donald Trump, e
por tabela, pelo presidente brasileiro, como a cloroquina e a
hidroxicloroquina, comprovadamente, provocam arritmias cardíacas graves, que
podem levar à morte dos pacientes infectados.
Segundo informações do
biólogo Átila Iamarino, em seu canal no Youtube, há mais de 330 estudos em
andamento para tratar do novo coronavírus. Caso uma dessas pesquisas comprovem
a eficácia do remédio, será para ajudar as pessoas saírem mais cedo do
hospital, não para resolver a vulnerabilidade da população diante do vírus.
Vacinas
Quanto às vacinas, a revista
Nature levantou, esta semana, pelo menos 115 estudos em andamento, estando cinco deles já na fase
de testes clínicos em pacientes. Contudo, o pesquisador brasileiro ressalta que
essas vacinas levam tempo para estarem disponíveis no mercado. A vacina contra
o Ebola levou cinco anos para ser usada. No mínimo, serão dois anos para que
uma vacina garanta proteção às pessoas. Mesmo assim, atenderá aos grupos
prioritários, pois não é possível produzir mais de 7 bilhões de
vacinas para aplicação em massa, a nível global.
Vale lembrar, também, que os
países emergentes e subdesenvolvidos poderão demorar ainda mais para terem
acesso à vacina, caso ela chegue ao mercado.
Sendo assim, antes de pelo
menos dois anos, as pessoas não estarão protegidas por vacinas. Esse tempo já é
curto para se fazerem todos os testes necessários, garantindo segurança a uma
substância que deverá ser aplicada em bilhões de pessoas.
Testes
Em terceiro lugar, o novo
ministro brasileiro da saúde destacou a necessidade de um programa de testes.
Todavia, apesar de ser fundamental à segurança da população e à reabertura da
economia, não há testes disponíveis no País, nem para as pessoas que estão
doentes. Profissionais da saúde e da segurança ainda aguardam os testes
prometidos pelo governo federal. Também não há reagentes para comprar e fazer
os testes no Brasil.
Outra incerteza quanto ao
futuro da pandemia, que os pesquisadores de Harvard também chamaram atenção, é
pelo fato de ainda não termos clareza se as pessoas curadas da Covid-19 desenvolveram
imunidade ao coronavírus.
Considerando os dados
existentes até agora, especula-se que essa imunização natural teria uma janela
curta de eficiência, de apenas um ou dois anos. Nesse cenário, a tendência é
que o Sars-CoV-2 circule de maneira generalizada, todos os anos, como
acontece com o vírus da gripe. Essa condição acarreta em alternar períodos
intermitentes de aberturas e fechamentos da economia, até um futuro próximo.
Nesse sentido, a comunidade
científica de todo o mundo vem insistindo que o isolamento social é a única
forma de reduzir as mortes, e o impacto da pandemia nos países. Nesse momento,
é a forma mais eficaz para evitar uma sobrecarga nos sistemas de saúde e que um
grande número de pessoas fique doente e não consiga atendimento hospitalar.
Uma nova economia da saúde beneficiará
recuperação dos países
Para além de um conflito
entre saúde e economia, governos, sociedade civil e empresas devem pensar em
uma nova economia da saúde, sobretudo após a fase aguda da pandemia. É o caso
de fazer uma reconversão industrial, como ocorreu na Segunda Guerra Mundial,
para que fábricas e trabalhadores produzam, em larga escala, equipamentos de
proteção individual (EPI’s) e aparelhos hospitalares.
Para manter a produção de
suprimentos essenciais a consumidores domésticos, vários governos impuseram
restrições à exportação de produtos médicos, prejudicando principalmente os
países mais vulneráveis. Todavia, o Relatório do Banco Mundial recomenda que a
política comercial permaneça aberta entre os diferentes países.
É por isso que desenvolver a
indústria farmacêutica local tornou-se uma questão de segurança nacional. Com a
experiência dessa pandemia, é necessário que os países se tornem
autossuficientes na produção de materiais básicos para assistência à saúde, não
dependendo apenas do comércio externo, como aconteceu agora em relação à China.
O governador do Maranhão,
Flávio Dino, realizou uma operação logística bastante complexa, para conseguir
trazer respiradores e material hospitalar da China, ao seu estado. Ele montou
uma rota que trouxe materiais, desde a gigante asiática, pela Etiópia, sem que
o governo federal e de outros países conseguissem bloquear as remessas.
Situações como essas são comuns em momentos de emergência. Foi preciso driblar
diferentes riscos, nacionais e internacionais, no momento em que estados e
países se acotovelam para disporem desses equipamentos essenciais.
A ação de compra e transporte
dos equipamentos para o Maranhão foi possível em função de um arranjo
público-privado, que permitiu àquele estado se valer da experiência de empresas
locais, na área de logística de exportação, para garantir que a operação fosse
bem-sucedida.
O estado do Maranhão faz
parte do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste,
criado em março de 2019, pelos governadores da região, para buscarem soluções
de interesse comum a todos os estados. No dia 30 de março de 2020, o
Consórcio instituiu um Comitê Científico para Combate ao Coronavírus. Formado
por médicos, cientistas, físicos e pesquisadores, o Comitê visa auxiliar
governadores da região, na tomada de decisão, sobre ações de enfrentamento à
pandemia.
Outra questão relativa ao
achatamento da curva da pandemia, para preparação do sistema nacional de saúde,
é que não basta apenas construir hospitais, leitos de Unidades de Terapia
Intensiva (UTI’s), para atender aos pacientes com Covid-19.
A
infraestrutura abrange pessoas altamente capacitadas para atuarem em situações
de medicina intensiva, além de EPI’s, testes, aparelhos e demais materiais hospitalares
necessários.
A capacidade de saúde precisa
ser urgentemente aumentada, em função do risco de uma demanda potencialmente
esmagadora, por um período sustentado. A capacidade de teste já foi encontrada
em falta, mesmo em alguns países industrializados. Prevê-se que o número de
infectados, que necessitem de tratamento, exceda em muito a capacidade
hospitalar nos 18 meses anteriores à provável disponibilidade de uma
vacina.
Por isso, além de expandir as
instalações convencionais de assistência médica e as fábricas de equipamentos
médicos, medidas inovadoras estão sendo consideradas e precisam ser ampliadas:
preparação de leitos hospitalares comuns, para uso potencial na UTI; converter
fábricas de automóveis para fabricar máquinas de fazer máscaras; e treinar
pessoas impossibilitadas de exercer suas ocupações normais (por exemplo, funcionários de restaurantes, hotéis e
companhias aéreas) para trabalharem em
cuidados básicos de saúde.
Um problema gravíssimo que o
Brasil enfrenta, durante a atual pandemia, é o desabastecimento do mercado
nacional, porque não houve uma preparação do nosso parque industrial para a
crise sanitária.
O desafio ao ministro Nelson
Teich, pela sua experiência com a iniciativa privada, e em diálogo com os
gestores do Sistema Único de Saúde (SUS), é fomentar essa economia da saúde, envolvendo
empresas que tenham interesse em investir no setor. Os benefícios serão
inúmeros, tais como: promover a geração de empregos, recuperar a economia da
recessão, fortalecer a produção de insumos hospitalares no mercado interno, e
reduzir a dependência do Brasil da importação desses materiais de outros
mercados.
Conclusão
A pandemia do novo
coronavírus provocou um choque econômico global sem precedentes. Por isso,
diante dos problemas de saúde e de economia, é preciso definir um plano de
curto, médio e longo prazo, para a saída da crise.
Curto Prazo
No curto prazo, para achatar
a curva da pandemia e da recessão, a solução imediata é investir em políticas
que protejam as pessoas do impacto da crise.
Nos países mais suscetíveis à
propagação e às consequências da Covid-19, é preciso que o Estado garanta recursos mínimos para
a sociedade atravessar o período de isolamento. Essa intervenção é urgente e
necessária.
Essas medidas devem ocorrer
com planejamento e equilíbrio. Investir em assistência social para os mais
vulneráveis, bem como injetar recursos públicos para a sobrevivência de
trabalhadores, bem como das pequenas e médias empresas. Ao mesmo tempo, não
medir esforços para ampliar a infraestrutura de saúde pública.
Em situações de choques
econômicos, como após as duas grandes guerras mundiais, a crise de 1929 e a de 2008, houve um
considerável aumento dos gastos públicos para proteger os mais frágeis
socialmente, bem como os agentes econômicos.
Para a recuperação da
economia, do emprego e da renda dos cidadãos, após o período mais agudo da
pandemia, é imprescindível um plano de recuperação. É necessário definir qual a
estratégia mais viável, que permita condições seguras, para a retomada das
atividades econômicas e educacionais no Brasil, pondo fim ao isolamento social.
Médio Prazo
Investir em pesquisas
científicas na área da saúde também é fundamental para formular uma resposta
eficaz e sustentada da saúde pública, ao SARS-CoV-2, no médio prazo.
Longo Prazo
É desejável ainda que os
governos considerem o desenho de políticas preventivas de longo prazo. Países
que investem em pesquisa científica e inovação certamente sairão à frente nessa
economia da saúde. É o caso do que já acontece em alguns países da Europa, a
exemplo da Alemanha e países escandinavos (Noruega,
Dinamarca e Suécia), e do leste asiático (como China, Coreia do Sul, Cingapura e Taiwan).
A qualquer momento, a ação
preventiva se baseia nos níveis de preparação do sistema de saúde e na redução
da vulnerabilidade da população.
Neste momento, o ideal é os
governos invistam na preparação e no desenvolvimento de medidas direcionadas à
saúde - como testes e rastreamento, para, aos poucos, poderem ir reduzindo as restrições
drásticas inicialmente necessárias, com grande impacto negativo na atividade
econômica.
Fonte: Letras Ambientais
(JA, Abr20)