De acordo com a frase atribuída a Nietzsche: ‘A pessoa chega à sua maturidade com a mesma seriedade que uma criança encara uma brincadeira’.
Verdade! Sem que percebamos, como se fôssemos os mesmos de
sempre, os anos passam e ficamos mais velhos. Entretanto, hoje não é como
antigamente, quando um homem com 70 anos era velho, coisa que não me
considero... Tanto que desestimulei à minha família a fazer um grande encontro
de amigos para comemorar a data. Vamos
deixar para os 80, os 90...
Porém, algumas coisas poderiam ser diferentes para o ‘velho’
atual. Por exemplo, considero um absurdo
que a maioria das empresas julgue que alguém, com a minha idade, deva ficar
fora do mercado de trabalho. Nossa!... Imagino o quanto eu poderia, ainda,
contribuir. Talvez... e isso aqui entre nós, embora não tenha a pretensão de
ocupar o espaço de ninguém, pode ser que a moçada imagine que, se nós
chegássemos lá, com as qualificações e experiência que temos, iríamos apontar
problemas e encontrar soluções, que caberia a eles ter enxergado, solucionado.
Mas, tudo bem...
Decadência
Física
É claro que, fisicamente, temos mais limitações do que
quando mais jovens. Percebo que o problema do físico é que, embora continuemos
a ter os mesmos problemas de sempre, agora, depois de certa idade, nosso corpo
tem mais dificuldade para se recompor. E, como uma coisa puxa outra... Assim,
temos que aceitar, e aprender a conviver com essa realidade. Por exemplo, andar de moto, -um sonho que
sempre tive-, descartei! Imagine, se levo um tombo – aliás muito provável
porque, por qualquer motivo, -distração talvez-, percebi que fiquei propenso a
ter mais acidentes do antes. Nesse caso, iria ficar sofrendo as consequências
do acidente, por muito mais tempo do que qualquer adolescente. Então, ...
Vantagens
A parte boa dessa época de nossas vidas, é que podermos
organizar o nosso horário, definir o que vamos fazer etc., acordo com os nossos
interesses,
Na parte financeira, com o tempo, nossas contas foram sendo
reduzidas – sim porque nossos filhos, aos poucos, começaram a se organizar e se
virar sozinhos. Logo, as despesas que ficaram são somente as nossas (do casal),
que, tirando o ‘Convênio Médico’, não são tão impagáveis assim.
Além disso, temos certos privilégios como ‘vagas especiais’
para estacionar nossos carros, ingressos e passagens grátis ou mais baratas.
Isso sem contar que podemos ler livros e assistir filmes antigos, como se fosse
a primeira vez - ou porque nossa memória já não é a mesma, ou porque, na
primeira, ou eventualmente nas outras, fomos interrompidos, ou não prestamos
bem atenção. Sempre há uma explicação!
Projetos
Ainda tenho sonhos, projetos, e procuro encontrar caminhos,
meios, para realizá-los. Eles não são, necessariamente, grandiosos. Podem ser
simples, triviais como: levar o carro à Concessionária para a revisão mecânica;
pintar um móvel de madeira que descascou; comprar uma planta para o jardim;
visitar um amigo enfermo, ou que faz tempo que não encontro; tentar a
reconciliação com quem eventualmente me magoou; ... coisas assim.
Procuro manter o corpo ativo, ter uma vida saudável,
buscando alegria, prazer nas coisas simples que a vida ainda oferece: observar
uma flor que desabrochou, os passarinhos gorjeando nas nossas janelas, ler
livros, ouvir música, conhecer alguém que
acrescente algo, que me aceite como sou, gente que me faça sentir
bem. E, quem sabe? , me tornar uma
pessoa melhor.
Comportamento
Hoje, com base no conhecimento que pude adquirir, ao longo
dos anos, tenho consciência que não sei tudo, e que não estou sempre certo.
Sei que é mais prudente procurar praticar a humildade. E que
devemos nos manter curiosos, aprendendo o mais possível sobre tudo. O mundo
digital por exemplo, exerce uma enorme atração para a população mais velha, mas
exige um grande esforço para ser acessado por quem não foi criado dentro dessa
cultura – é como aprender um novo idioma.
Mas, para aqueles que conseguem superar a barreira inicial, é muito
útil. O acesso às redes sociais para o
idoso, o tira do isolamento -muitas vezes compulsório-, e lhe permite se
aproximar, se conectar, compartilhar experiências, com os que pensam igual, com
os que têm a mesma idade, e com os que não, muito pelo contrário. Além disso,
facilita saber o que está acontecendo no resto do mundo, e como as pessoas
estão encarando, reagindo a esses fatos.
Aceitar que temos limitações. Sim, todos temos! Embora
tenhamos feito tantas coisas boas, podemos ter deixado de fazer outras, que
deveríamos ter feito; e outras que poderíamos ter feito melhor. Essa
consciência nos faz julgar os outros, inclusive os mais jovens, com mais
tolerância. Isso nos torna menos
críticos, menos amargos, e nos leva a encarar a vida de uma maneira mais leve,
mais humana.
Final
Todos, no nosso íntimo, padecemos de certas dores e,
necessitamos de afetos e de sonhos. Precisamos amar e ser amados, acreditar e
buscar realizar alguma coisa. Isso é viver!
Acredito não há um final, para ninguém. O que existe,
apenas, é um momento em que cada um de nós sai da história. Entretanto, a nossa
participação será eterna, através dos nossos descendentes, do que nós
projetamos, realizamos.
Que conselho eu poderia dar a alguém neste momento? Bem, é
difícil, mas por que não dizer: