A sociedade civil faz bem em rosnar para o fantasma da intervenção
militar. Ditadura nunca mais!
Mas está na hora da intervenção civil. O que não é uma decisão trivial.
Diante de um país como o nosso, em que o Estado é tão grande e se mete em tudo,
quem quer se desgastar com governantes e políticos que têm nas mãos a caneta
das decisões poderosas?
Essa é uma decisão que não tem a ver com este ou qualquer outro governo.
Não tem a ver com os políticos corruptos que não se emendam. Eu estou
reclamando é dos políticos sérios e bem-intencionados que existem sim, mas que,
apesar da seriedade e das boas intenções, estão dentro de uma bolha e de lá
desenham um Estado obeso e incompetente, de costas para os anseios e as
necessidades da nação.
O Estado brasileiro virou estadocêntrico, nas mãos de visões e
corporações reducionistas, que enxergam muito pouco além das paredes de seus
gabinetes.
O que acontece no nosso amado Rio seria suficiente para o Congresso se
internar até resolver essa emergência nacional. O que acontece no Rio não fica
no Rio. A violência e a falência do Estado e dos serviços públicos que ele tem
de prover não são exclusividade daquele Estado, como todos sabemos. Mas o Rio é
a vitrine mais vistosa do drama brasileiro.
A reforma política séria, que seria uma resposta a tudo o que a Lava Jato
mostrou, não veio. Nada, nada, nada. Os políticos, estou sempre falando dos
políticos sérios, pensam neles mesmos antes de pensarem no Brasil.
Então eu, tantas vezes frouxo, sempre cheio de rapapé com suas excelências,
renuncio à minha covardia. Só nossa intervenção civil e democrática pode evitar
insubordinações não democráticas.
Nós civis temos que pegar em armas. E as nossas armas são o celular, as
redes sociais, a próxima eleição, o voto, as ruas, a manifestação pacífica, a
imprensa.
O Estado dona Maria Antonieta faz a seguinte conta: quanto eles têm que
pagar de impostos e tributos para sustentar os meus gastos? Esse Estado não se
enquadra, não corta gastos, não entrega serviços de boa qualidade. E submete
nossa sociedade e nossas empresas a leis não competitivas e a regulações
caóticas, limitando o desenvolvimento delas e, por consequência, do Brasil.
E isso não aguentamos mais. Intervenção civil contra o Estado velho e
incompetente. E contra as estruturas políticas que só pensam nelas mesmas.
A luta deve ser de todos, uma coligação com as cores do arco-íris. É um
erro cair na manipulação maniqueísta ideológica-partidária do nós contra eles,
que divide e enfraquece.
Direitistas e esquerdista, empresários e trabalhadores certamente
concordam com o principal da agenda: combater o velho Estado, a corrupção, a
ineficiência, o estado centrismo.
Esse movimento passa por incentivar pessoas novas no Legislativo e no
Executivo. Eu não vou fazer campanha política nem marketing. Mas vou me
mobilizar pelo meu candidato, como já devíamos ter feito a muito tempo.
Meus caros colegas, vamos sair dos armários. Mobilização civil
organizada. Não raivosa, mas indignada e propositiva.
Em sua homenagem, meu pai, Sócrates Guanaes, que morreu aos 45 anos,
dentro de um ferry-boat porque o Estado trilionário não tinha dinheiro nem
competência para colocar alguma assistência médica dentro de um ferry-boat.
Intervenção civil já.
E essa intervenção civil, que construiu as grandes nações, tem inclusive
nome. Ela se chama democracia.
Texto: Nizan Guanaes |
FSP, Mercado
Imagem: Protesto na
avenida Paulista, em São Paulo
(JA, Set17)