Pensamento
O filósofo francês Renê Descartes, 1596-1650, definiu a base da existência com a
frase: ‘Penso Logo Existo’.
Mesmo tendo frequentado as melhores universidades da Europa,
Descartes achava que não tinha aprendido nada de substancial (com exceção da matemática) em seus estudos.
Todas as teorias científicas acabavam por ser refutáveis e
substituídas por outras, não havia nenhuma certeza verdadeira além da dúvida.
Descartes, então, passou a duvidar de tudo, inclusive da sua própria existência
e do mundo que o rodeava.
No entanto, Descartes encontrou algo que não poderia duvidar: a dúvida. De acordo com o pensamento do filósofo, ao duvidar de algo já estaria pensando e, por estar duvidando, logo pensando, estaria existindo. Desta forma, a sua existência foi a primeira verdade irrefutável que ele encontrou.
Renê Descartes, Francês, 1596-1650 |
Frase original: ‘Puisque je doute, je pense;
puisque je pense, j'existe’. (Já que eu
duvido, eu penso; já que eu penso, eu existo).
Escrita
Como para cada texto escrito, o autor, independentemente do
tema, teve que pensar, é válido também afirmar: ‘Escrevo, Logo Existo’.
Escrever sobre personagens, fatos históricos, ocorrências, conecta
o que pode ser uma verdade do passado com o futuro e, eventualmente, as adapta
para uma outra realidade.
A existência de Hemingway, por exemplo, continua a existir no nosso imaginário devido à sua escrita, vindo confirmar o ‘escrevo, logo existo’.
Lembrança
Uma outra afirmação também pode ser feita: ‘Sou Lembrado, Logo
Existo’.
O indivíduo pode ser lembrado por vários motivos: pelas suas
ações, palavras, escritos, e, se você é lembrado, de alguma maneira, continuará
existindo, independentemente do tempo passado.
Enquanto alguém lembrar de você, sua morte será parcial. Assim,
nossos colegas e parentes podem continuar existindo, independentemente de terem
‘partido’. Eles podem não ter sido famosos, nem terem feito nada impactante, mas
terem garantida a imortalidade, através de uma autêntica e sincera saudade.
A morte do pai de um de um amigo, fez brotar revelações
comoventes.
Ele contou que, apesar de muito ligado ao pai, desconhecia
certas atitudes de seu passado, que nunca haviam sido comentadas.
Os relatos chegaram de ex-colegas de profissão do pai, de
habitantes da cidade do Interior onde o pai morou quando jovem, de funcionários
que haviam trabalhado para ele, de gente que nem ao menos o conheceu
pessoalmente, mas que havia sido beneficiada por seus gestos. Para além de todo
seu histórico de bom pai, bom marido e bom avô, meu amigo descobriu que ele
havia sido, dentro da sua universalidade, um homem gentil e, portanto, eterno,
não só para a família.
Como uma coisa puxa a outra, na palestra online que a ‘The
School of Life’ promoveu recentemente com o psicanalista Irvin D. Yalom, autor
de ‘Quando Nietzsche Chorou’, e outros livros sobre relações pessoais, já com a
idade avançada, e vivendo o luto de uma recente viuvez, ele disse:
‘Nossa imortalidade
está condicionada à nossa gentileza, à maneira como tratamos conhecidos e desconhecidos’.
Prosaico e profundo. A cordialidade nos manterá vivos na
lembrança de quem conviveu conosco. Nem bens materiais, nem prêmios, nem
festas, nem feitos: quando chegarmos ao final, nada contará tanto quanto nossos
bons modos, nosso olhar amoroso, e nossa disponibilidade para o afeto.
Arte ou Ações
Outras pessoas poderão trocar o ‘Escrevo, Logo Existo’, por Desenho,
logo existo; Canto, logo existo; Danço, logo existo etc., pois cada obra de
arte carrega eternamente em si um pensamento, uma emoção, que o seu autor pretendeu
transmitir. A lembrança criada pelas obras de arte na mente de seus admiradores
dão vida aos seus autores.
A existência do Shackleton foi pela
navegação: Navego, logo existo. Steve Jobs, um caso recente que vai ficar
marcado na história poderia ser: Inovo, logo existo.
Portanto, as ações de cada um, a
forma como conduziu a sua existência, suas relações, o que produziram, podem
garantir a sua imortalidade, materializando a frase de Descartes e as decorrentes.
Essas conclusões criam um alento, confortam, pois nos fazem acreditar que, independentemente da finitude natural da vida, que sempre afligiu a humanidade, ‘morre’ cedo quem quer.
Fonte: A.J. Cardiais | Crônicas da Martha | Significados
(JA, Nov21)