A ‘Aula do Commercio’ foi a primeira Business School! E a ideia veio de uma província ultramarina paupérrima em conhecimentos de gestão.
Esse pioneirismo dos atrasados encontra paralelo em outros
países que quiseram andar mais depressa do que daria conta o estoque de
profissionais competentes. Para ombrear-se com a Inglaterra, o grande salto
industrial da Alemanha de Bismarck foi amplamente apoiado pela criação de
cursos técnicos superiores.
O nosso Senai foi uma resposta à vibrante industrialização
que tomou corpo na Segunda Guerra. Faltavam bons mestres para formar o exército
de operários industriais que as empresas demandavam. Não é por acaso que foram
os industriais paulistas que lutaram pela criação deste modelo escolarizado de
formação profissional.
O fascínio da História é que alterna o previsível com
desfechos que ninguém esperava. Nunca se sabe quando o óbvio não acontece, e
somos brindados com surpresas.
Dos cursos superiores que andam por aí, o de Administração é
o campeão de matrícula. Por que não surgiu em países de comerciantes, como
Inglaterra, França ou Holanda? Em vez disso, apareceu em Portugal, um país mal
preparado para o comércio. Não foi por acaso.
Na Idade Média tardia se estruturaram as corporações de ofício, nas quais o mestre preparava seus aprendizes. Assim se formou mão de obra para tudo, incluindo operar no comércio.
Portugal sempre foi um país de grandes bravuras nas guerras e
competência nas navegações. Porém, sua nobreza vacilante e atrasada não
dominava os conhecimentos de como organizar empresas, e como gerir sua
contabilidade. Os aprendizes não aprendiam os ofícios comerciais, por não haver
mestres que os dominassem – um clássico círculo vicioso. Havia então
necessidade de trazer contadores de fora.
Agressivo e disposto a passar Portugal a limpo, o Marquês de
Pombal despontava como o grande estadista da época. O vice-rei do Grão Pará,
Mendonça Furtado, era seu irmão, com quem se correspondia. Iniciavam-se as
cartas com a saudação: ‘Ilmo. e Exmo. Sr. Meu irmão do meu coração’.
O vice-reinado estava falido. O comércio estagnava, os
comerciantes não sabiam as noções mais elementares de contabilidade. Ademais,
já saíam as primeiras faíscas de um monumental curto-circuito com os jesuítas
locais.
Diante da crise profunda, ocorre a ele sugerir ao irmão que se criasse uma escola para ensinar as artes do comércio. Ouvidos atentos, Pombal (ainda Conde de Oeiras) resolve criar a ‘Aula do Commercio’.
A Aula do Commercio foi fundada em 1759, em Lisboa, sob o reinado de José I de Portugal, no contexto das reformas empreendidas pelo seu primeiro-ministro, Sebastião José de Carvalho e Melo, marquês de Pombal, com o objetivo de corrigir os conhecimentos deficientes dos mercadores portugueses.
Foi o primeiro estabelecimento de ensino europeu de
verdadeira matriz técnica. Nele eram lecionadas disciplinas de caráter prático,
como por exemplo contabilidade.
O curso tinha a duração de três anos, e nele se estudavam aritmética,
pesos e medidas internacionais, câmbios, seguros, escrituração comercial.
Apoiado por quem sabia do assunto foi, então, estruturado o
primeiro curso de práticas comerciais e contábeis, muito concreto e com os pés
no chão. A escolástica e as teologias nefelibatas da Universidade de Coimbra
podiam ter seu lugar, mas não ajudavam na contabilidade.
Começava com regra de três, conversão de medidas e valores de
divisas. Seguia com o método das partidas dobradas, e prática comercial.
Curiosamente, era dada grande ênfase à caligrafia. Boas contas e bela
caligrafia, eram o esperado. O curso durava três anos, com quatro horas de
aulas diárias. Um ano a menos que um curso atual da mesma área.
Para contornar a precariedade empresarial e administrativa da
aristocracia portuguesa, o curso mobilizou a pequena burguesia do país, mais
ambiciosa e à busca de canais de mobilidade. De fato, acorreram a ele jovens
com menos brasões e mais energia. Com seu sucesso, tornaram-se ‘comendadores
empatacados’, e fizeram visível a sua riqueza. Vale mencionar que o rei
assistia às provas finais, como veio a fazer o seu bisneto, Pedro II, ao assistir às provas do colégio que hoje tem seu nome.
Na França, os graduados da École Nationale de Administration
– os notórios ‘énarques’ – por muitos anos supriram os quadros administrativos
do país. A Aula do Commercio teve o mesmo papel. Era onde o comissariado dos
navios recrutava seus graduados. Para a administração do país, seus
conhecimentos favoreciam a contratação.
Certamente o grande salto do país naquele momento teve
substancial ajuda da competência profissional desta nova classe. Afinal, havia necessidade
de administrar as Companhias então criadas. Testemunha a solidez da ideia, meio
século depois, o Brasil reivindicou e conseguiu criar uma escola semelhante.
Linha do Tempo da ADM
1759 - A primeira instituição a especializar-se no ensino da
Contabilidade no mundo foi a Aula do Comércio de Lisboa. Apesar de ter sido
fechada em 1844, ela foi responsável por fornecer um
modelo para o desenvolvimento de escolas semelhantes patrocinadas pelo governo
em toda a Europa.
1819 - É fundada, em Paris, a escola de negócios Escola Especial
de Comércio e Indústria. A ESCP Business
School ainda é a mais antiga do mundo.
1857 - A Budapest Business School, fundada em Budapeste, na
Áustria-Hungria, foi a primeira escola de negócios pública do mundo, bem como a
primeira escola de negócios na Europa Central.
1881 - Nos Estados Unidos, a Wharton School da Universidade da
Pensilvânia foi a primeira escola de negócios.
1898 - Na costa oeste norte-americana, a Haas School of Business
é estabelecida como a Faculdade de Comércio da Universidade da Califórnia e se
tornou a primeira escola pública de negócios do país.
1900 - Foi fundada a primeira escola de pós-graduação em negócios
nos Estados Unidos, a Tuck School of Business, no Dartmouth College. A escola
conferiu o primeiro grau avançado em negócios, especificamente, o Master of
Science in Commercial Sciences, antecessor do MBA.
1903 - O engenheiro norte-americano Frederick Taylor (1856-1915) sistematiza a disciplina científica
da administração de empresas, caracterizada pela ênfase nas tarefas, com o
objetivo de aumentar a eficiência ao nível operacional. O modelo ficou
conhecido como Taylorismo ou Administração Científica.
1906 - O sociólogo alemão Max Weber apresenta a Teoria da
Burocracia na Administração. A partir dela, integrou-se o estudo das
organizações ao desenvolvimento histórico-social. Weber introduz uma análise
voltada para a estrutura, na qual acreditava que a burocracia, na relação
hierarquia social e autoridade, era a organização por excelência.
1911 - É publicado o livro ‘Princípios de Administração
Científica’. Na obra, Taylor propõe que administrar uma empresa deve ser tido
como uma ciência. O autor defende que o trabalho deve ser racionalizado, e que
isso envolve a divisão de funções dos trabalhadores.
1916 - A Teoria Clássica da Administração (ou Fayolismo), idealizada pelo engenheiro francês
Henri Fayol, caracteriza-se pela ênfase na estrutura organizacional da visão do
homem econômico e pela busca da máxima eficiência organizacional. Também é
caracterizada pelo olhar sobre todas as esferas (Operacionais e Gerenciais), bem como na direção de aplicação do
topo para baixo (da
gerência para a produção).
1932 - Após a grande depressão, com a queda da Bolsa de Nova
York, em 1929, os conceitos vigentes passam a ser
contestados. As ideias trazidas pela Escola de Relações Humanas criaram
perspectivas para a Administração, visto que buscavam conhecer as atividades e
sentimentos dos trabalhadores, e estudar a formação de grupos. A Teoria das
Relações Humanas surgiu efetivamente através da Experiência de Hawthorne,
realizada numa fábrica no bairro que dá nome à pesquisa, em Chicago, pelo
médico e sociólogo australiano Elton Mayo.
1941- No Brasil, é criado o primeiro curso de Administração, na
Escola Superior de Administração de Negócios – ESAN/SP, inspirado no currículo da Graduate School of Business
Administration da Universidade de Harvard.
1946 - É fundada a Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade da Universidade de São Paulo – FEA/USP, que ministrava cursos de Ciências Econômicas e de Ciências
Contábeis, onde eram apresentadas algumas matérias ligadas à Administração.
1947 - Surge a Teoria Estruturalista da Administração, a partir
da qual os teóricos procuram inter-relacionar as organizações com o seu ambiente
externo, que é a sociedade maior, ou seja, a sociedade de organizações,
caracterizada pela interdependência entre as organizações. Seus expoentes foram
James Thompson, Amitai Etzioni e Peter Blau.
1951 - A Teoria Geral de Sistemas (T.G.S.) nasce com os trabalhos do biólogo austríaco Ludwig von
Bertalanffy, publicados entre 1950 e 1968. Seu principal conceito é o de que o sistema é um
conjunto de partes interagentes e interdependentes que, conjuntamente, formam
um todo unitário com determinado objetivo e efetuam determinada função.
1952 - É criada a Escola Brasileira de Administração Pública e de
Empresas, da Fundação Getúlio Vargas – EBAPE/FGV, no Rio de Janeiro. A primeira turma se formou em 1954.
1953 - A Teoria Sociotécnica (STS)
propõe uma série de formas diferentes de alcançar a otimização conjunta. Via de
regra, baseiam-se na concepção de variados tipos de organização, nos quais as
relações entre elementos sociotécnicos conduzem ao surgimento de produtividade
e bem-estar.
1954 - A Teoria Neoclássica (nomenclatura utilizada somente no Brasil) tem como principal referência Peter
Drucker, mas também inclui um grupo amplo de autores como William Newman,
Ernest Dale, Ralph Davis, Louis Allen e George Terry. Seus conceitos básicos
são: ênfase na prática da Administração; reafirmação relativa das proposições
clássicas; ênfase nos princípios gerais de gestão; ênfase nos objetivos e
resultados.
1954 - Cria-se a Escola Brasileira de Administração de Empresas
de São Paulo – EAESP, vinculada à FGV. Este é o primeiro currículo especializado em Administração,
que se tornou referência para os outros cursos surgidos no país.
1957 - A Abordagem Comportamental se desenvolveu nos Estados
Unidos, acrescentando novos conceitos e variáveis para a teoria administrativa,
principalmente, devido ao desenvolvimento das ciências comportamentais e da
Psicologia organizacional.
A partir da década de 1960 –
a FGV passa a ministrar cursos de
Pós-Graduação nas áreas de Economia, Administração Pública e de Empresas.
1962 - Nasce a Teoria do Desenvolvimento Organizacional, com
Leland Bradford. Ela se caracteriza por ser um esforço de longo prazo, que visa
melhorar processos. Estimula o diagnóstico e a administração da cultura
organizacional, com a assistência de um consultor, e usa tecnologias das
ciências comportamentais, incluindo ação e pesquisa.
1965 - É regulamentada a profissão de Administrador no Brasil com
a promulgação da Lei nº 4.769, de 9 de setembro de 1965.
1972 - Teoria da Contingência ou Teoria Contingencial enfatiza
que não há nada de absoluto nas organizações, ou na teoria administrativa. Tudo
é relativo, e depende de uma relação funcional entre as condições do ambiente,
e as técnicas administrativas apropriadas, para o alcance eficaz dos objetivos
da organização.
1973 - É criada a ANPAD – Associação
Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração, a partir da
iniciativa dos oito programas de pós-graduação stricto sensu então existentes
no Brasil. Em 2003, são 54 os programas associados. Esse crescimento na oferta de mestrados e
doutorados no país, no período de 27
anos, forneceu as bases para a institucionalização de uma comunidade acadêmica
sólida e profícua.
Dia do Administrador
A escolha desta data, 9 de setembro, como o Dia Nacional do Administrador é uma clara homenagem à assinatura da Lei nº 4.769, de 9 de setembro de 1965, que regulamentou a profissão no Brasil. Ela também foi instituída pela Resolução CFA nº 65/68, de 09/12/68.
Fonte Cláudio Correa e Castro | Wiki | Site Contábil
(JA, Nov21)