Outro dia estava almoçando num desses quiosques à beira da
praia, e, na minha frente, algumas mesas adiante, estava almoçando também uma
família. Eram dois homens, de mais ou menos cinquenta anos, e suas esposas; um
de oitenta com a respectiva esposa - que devia ter mais ou menos a mesma idade;
e algumas crianças.
Supus que esse homem e mulher mais velhos deveriam ser os
pais dos dois homens mais jovens, ou de suas esposas. Por que estavam
excluídos, por que os demais não interagiam com eles? É estranho porque,
certamente, no passado, não muito distante, eles foram cuidados, tiveram suas
vidas dirigidas, por essas pessoas que hoje ignoram.
Naturalmente, isso não aconteceu de repente. Deve ter havido
um todo um processo, que foi evoluindo, até chegar aonde chegou.
Uma hipótese, seria que os idosos, num determinado momento de
suas vidas, devem ter tido problemas no seu relacionamento, e foram se
afastando um do outro, sendo que, a partir de determinado ponto, apenas se
suportavam. No início, um deles se
aproximou mais dos filhos. Tentou, e talvez tenha conseguido, provar que estava
certo, depreciando a outra parte. Mal sabia que, nesses casos, quando o fator
determinante não for significativo, ambas as partes acabam sendo prejudicadas.
Pode não acontecer de imediato, mas é inevitável.
Outra possibilidade é o idadismo. Os mais jovens não foram
ensinados a respeitar os mais velhos, e foram se afastando por falta de conexão
– interesses em comum ou divergência de pensamentos. Como tudo o que acontece
tem consequência, eles se afastaram dos mais velhos, chegando ao ponto de os
ignorarem, mesmo estando tão próximos.
O que fazer? Nestas alturas, não há o que fazer para
solucionar; o máximo que é possível fazer, é minimizar.
Observar que o problema não teria existido se o casal, lá no
passado, ao perceber os primeiros sinais de antagonismo, tivesse enfrentado o
problema, respondendo as questões: o que estamos sentindo; quais as causas; o
que podemos fazer para melhorar; e partissem para ação reparadora necessária.
De acordo com Hannah Arendt:
“Não importa quão
sombrios sejam os tempos, sempre existe a possibilidade de novos começos,
quando as pessoas agem juntas.”
Essa atitude não deve ser exclusiva para os pais; deve
envolver a relação pais e filhos, filhos e irmãos, filhos e sociedade.
As crianças criadas num ambiente onde o relacionamento é saudável, irão carregar isso para o resto da vida, aplicando o comportamento adquirido na infância em todas as suas relações futuras, tanto pessoais, como profissionais e, por conta disso, certamente, terão mais chances de serem mais felizes e bem-sucedidas.