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Império Matarazzo

Conglomerado que atingiu o ápice nos anos 1940 sucumbiu ao próprio gigantismo 

Fachada do Edifício Matarazzo, sede da Prefeitura de São Paulo, localizado no Viaduto do Chá

Eles estavam em todos os negócios, não havia produtos básicos que não fabricassem. Nos anos 1930 e 1940 era impossível abastecer uma casa sem contar com diversos gêneros produzidos pelas Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IRFM). Era um nome onipresente na vida do brasileiro, que sucumbiu ao seu próprio gigantismo, e hoje sobrevive de forma tímida, praticamente deixando de existir.

A Matarazzo virou uma empresa média que abandonou sua marca e administra poucos negócios, como uma fábrica de TNT (tecido não tecido), que funciona no bairro de Ermelino Matarazzo e se chama Matflex. Além disso, ela é dona de diversas propriedades imobiliárias espalhadas pelo país, e arrenda fábricas de papel, e usinas de açúcar e álcool. Não quebrou completamente, mas se despedaçou.

A sede da empresa está instalada num casarão de esquina na rua Joli, no Brás, que estava fechado na última sexta-feira. Não havia sinal de funcionários e na frente do portão, havia vários moradores de rua acampados. O maior departamento da Matarazzo é o jurídico. A empresa sobrevive no meio de uma grande teia judicial.

Milagre de ascensão social, Francesco Matarazzo, fundador do grupo, foi agricultor e mascate na Itália. No Brasil começou, em 1883, vendendo banha de porco em Sorocaba (SP) para criar um Império, com mais de 30 mil funcionários em mais de 200 fábricas. Na época de sua morte, em 1937, sua fortuna era estimada em US$ 20 bilhões, em valores atuais.

 

Sede das indústrias Matarazzo na rua Joli, no Brás: conglomerado virou uma empresa só 

Produzia de tudo: tecidos, latas, óleos comestíveis, farinha, açúcar, sabão, perfume, presunto, pregos, velas, louças e azulejos, celulose, celofane, biscoitos, carroças, margarina vegetal, óleo de mamona, inseticidas, perlon, fibras sintéticas, laminados plásticos, fibra de café solúvel e licores. Tinha banco, locomotivas com terminal exclusivo no Porto de Santos, vilas operárias, armazéns, e uma distribuidora de filmes.

Nos anos áureos, a empresa tinha um faturamento colossal. A receita bruta só não era maior que a do governo federal, a do Departamento Nacional do Café, e a do estado de São Paulo. Sua sede era no Edifício Matarazzo, no Viaduto do Chá.

A Matarazzo, porém, já vivia problemas sucessórios porque o herdeiro que estava sendo talhado para assumir os negócios desde a juventude, Ermelino, morreu, em 1920, num acidente de carro na Itália. Francesco não sentia ter alguém com a mesma vocação para substitui-lo.

De fato, não houve alguém capaz de impedir a diversificação desenfreada, e nem de prever o risco de perda de controle dos negócios. Ao contrário, Francesco Matarazzo Júnior, o Conde Chiquinho, sucessor do patriarca, apostou na ampliação do leque de produtos durante os 40 anos em que esteve no cargo.

Mas a oferta de muitos itens diferentes, que era um trunfo industrial e comercial por várias décadas, de repente virou um obstáculo para a continuidade do modelo de negócio, com uma operação cara, altamente complexa e exposta à concorrência crescente.

Nos anos 1980, o grupo já dava sinais de decadência acelerada, No final da década, sob o comando de Maria Pia Matarazzo, neta do fundador e atual presidente, pediu concordata, e foi à falência logo em seguida.

No século 21, apenas uma marca de consumo havia restado do conglomerado industrial, a do sabonete Francis, que foi vendida para o grupo Bertin e revendida, em 2011, para o grupo JBS, dono da Flora Higiene e Limpeza.

Nesta época, na administração da terceira geração da família, o templo tinha ruído. Havia sérias dificuldades financeiras, e o grupo precisou vender o controle de muitos de seus ativos mais valiosos. O problema da Matarazzo foi agravado pela situação econômica brasileira, que registrava inflação galopante. Sem capital de giro, e com uma operação de alto custo, a empresa foi engolida pelos juros.

O que restou hoje da Matarazzo, além de diversas fábricas espalhadas pela cidade, frequentemente abandonadas, é um pálido esboço do que a empresa foi no passado. Fica a memória de um poderio industrial exorbitante que virou Matflex. 

 

Fonte: Vicente Vilardaga | FSP

(JA, Ago24) 


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