Desde que teve uma última chance com a intimação postada pelo STF nas redes sociais (sim, ele já havia sido notificado por vias tradicionais há mais de dez dias, mas ignorou), Elon Musk disse que o Brasil vive uma ditadura e, mais do que isso, chancelou comentário dizendo que o X/Twitter é a única fonte de verdade disponível.
O bilionário escolhe quais
decisões judiciais vai cumprir. Como nos enxerga como uma República de Bananas,
crê que obedecer a determinações de um magistrado do qual discorda é coisa de
entregador de aplicativo, motorista de ônibus, pasteleiro, professor, mecânico,
vendedor, bancário, enfermeiro, operário, jornalista e de você, internauta.
Ele, não, ele é rico, e tem
uma rede social, manda pessoas ao espaço, faz carros elétricos e possui
satélites, portanto tem o direito de ser revisor de decisões do Estado
Brasileiro. Claro que ele não tem coragem de fazer isso na China, mesmo que
discorde de ações do governo de Xi Jinping.
No final do dia, quem tem o
tico e o teco em ordem sabe que sua cruzada não é pela liberdade, até porque
suas outras empresas realizam felizes negócios com governos autoritários, mas
por poder. Viu no Brasil uma boa oportunidade para mostrar o que acontece com
os que tentam limitar a falta de regulação das suas plataformas. Está queimando
o X/Twitter e fortalecendo a extrema direita no meio do processo.
Qualquer pessoa física ou
jurídica que opera em um país está sujeito às suas leis, e ao seu Poder
Judiciário. Questionamentos devem ser feitos em tribunais e, caso o apelo não
seja ouvido, pode-se acionar o sistema de Justiça interamericano, na
Organização dos Estados Americanos, ou internacional, nas Nações Unidas, contra
um Estado.
Historicamente, Musk era um
personagem liberal. Mas, nos últimos tempos, deu uma guinada, e vem se
afirmando como o maior influenciador digital da extrema direita global.
Por aqui, já provocou um furo
no tecido social brasileiro, levando a extremistas a fazer uma pergunta que tem
poder de desconstruir uma nação: se Musk não cumpre decisão, por que nós
precisamos cumprir?
Fonte: Leonardo Sakamoto | UOL
(JA, Ago24)