O médico e professor João Carlos di Genio, fundador do
Colégio Objetivo e da Universidade Paulista (Unip)
costumava dizer que a inteligência e os talentos devem ser tratados como a
riqueza de um país. Ao longo de sua carreira de empreendedor, ele buscou seguir
essa visão ao construir um dos maiores grupos de educação do Brasil.
Di Genio morreu no último dia 11, vítima de infarto aos 82 anos, em sua
residência nos Jardins, na zona oeste de São Paulo. No próximo dia 27 de fevereiro, ele completaria 83 anos. Deixa esposa e três filhos.
Di Genio dedicou sua vida à educação. Começou sua carreira de
professor quando ainda era um estudante universitário. Aprovado em primeiro
lugar em duas faculdades de medicina, ele dava aulas de física em um curso
pré-vestibular no Cescem (Centro
de Seleção de Candidatos às Escolas Médicas).
Pouco tempo depois, em 1965,
ele criou o cursinho Objetivo junto com o então estudante de medicina Dráuzio
Varella, e os médicos Roger Patti e Tadasi Itto.
Com o tempo, Di Genio e seus sócios abriram mais unidades do
Colégio Objetivo, e, em 1972, avançaram para o ensino superior,
com a criação das faculdades Objetivo, que, em 1988, passaram a se chamar Unip.
Segundo a família, Di Genio sempre se preocupou em cuidar das
crianças superdotadas ou altamente habilidosas. ‘Dizia que a inteligência e os
talentos deveriam ser tratados como a riqueza de um país’, afirma o grupo, em
nota. Também tinha cuidado especial com a inclusão de alunos com deficiência
nas salas de aula.
Nas décadas de 1970 e
1980 foi criado um centro de pesquisa e
tecnologia, e o Programa Objetivo de Incentivo ao Talento (POIT), com cursos de robótica, arte e criatividade para
crianças, e um teatro-laboratório para unir palco e conhecimento científico. ‘A
realização dos alunos o fazia sorrir e aplaudir’.
Ainda no início de 1990,
o grupo passou a oferecer aulas por satélite a estudantes de todo o Brasil.
Aulas por telefone, via ondas de rádio e pela internet, foram
recursos de ensino a distância utilizados pelo Objetivo, desde a década de 1980.
O cursinho e o Colégio Objetivo se tornaram uns dos mais
respeitados em suas áreas, enquanto a Unip virou a maior universidade
particular do País. Atualmente, são mais de 300
mil alunos de nível médio, e 530 mil no ensino
superior. Neste ano, a Unip lançou o seu primeiro curso de medicina, com
mensalidade de R$ 9 mil. Até 2017, a universidade era um negócio sem fins lucrativos.
A paixão de Di Genio pela educação, e o seu empenho nos
negócios, abriu caminho para outros empreendedores e investidores, que formaram
grandes grupos de educação que vieram depois dele.
Um deles foi o empresário Chaim Zaher, presidente do Grupo SEB, que começou na área como franqueado do Objetivo no
interior de São Paulo. Antes de fechar a parceria, Zaher chegou a dormir no
banheiro de uma escola para conseguir contato com um professor próximo de Di
Genio. Conseguiu o acordo, e assumiu a administração de várias franquias do
Objetivo. Em 1984, se tornou sócio de Di Genio, a quem
costuma chamar de ‘o grande visionário’ do setor de educação.
‘O Brasil perde um grande brasileiro, e eu perco também um amigo e compadre, meu padrinho de casamento. Tudo o que sei sobre educação, aprendi com ele, a partir do seu exemplo. Tenho orgulho de ter sido discípulo de um mestre inovador, visionário e realizador. Di Genio fará falta na educação, e deixará saudades’, disse Zaher.
Empreendedor, estimulava o crescimento dos negócios de forma orgânica, sem depender de fusões e aquisições. Em 2008, sua empresa educacional chegou a receber uma proposta de compra pelo grupo americano Apollo por R$ 2,5 bilhões, mas Di Genio não teve interesse.
Menos de 10 anos mais
tarde, em 2017, a Unip já faturava, por ano, o
mesmo valor da proposta. A postura dele em relação aos negócios destoou do
caminho seguido por outros grupos de educação privados, como Cogna (antiga Kroton), Yduqs (antiga Estácio) e o Grupo Ânima, que apostaram em
aquisições para se consolidar e crescer no setor.
O patrimônio de Di Genio é estimado em R$ 7 bilhões pela revista Forbes. Além dos negócios educacionais
e de mídia, ele era dono de cinco fazendas, e era considerado um dos maiores
proprietários de imóveis de São Paulo. Ele era dono, por exemplo, da maioria
dos imóveis das 30 unidades da Unip.
Amor pela educação
Uma das histórias que ilustram a paixão do empresário pela
educação aconteceu em janeiro de 1977.
Uma tempestade de verão alagou a cidade de São Paulo e atrasou a chegada de
alunos para o vestibular da Fuvest. A prova era às 8h, mas a organização permitiu a entrada de alunos até às 11h15.
Di Genio tomou uma atitude radical para levar os alunos
ilhados até os locais das provas: alugou um helicóptero para levá-los. Pelo
rádio, ele emitiu um comunicado para que os interessados na carona fossem ao
Campo de Marte, ou ao Clube Atlético Juventus. Após uma disputa por vagas no
helicóptero, o coordenador da Fuvest, José Goldemberg, aceitou a sugestão de Di
Genio, e mandou ao Campo de Marte um professor, três fiscais e 150 provas.
Di Genio também tinha uma relação forte com a cultura. Ainda
em 1972, ele criou o festival de música Fico
(Festival Interno do
Colégio Objetivo), que
já tem 50 anos de história, e revelou nomes da
música como Rogério Flausino (Jota Quest),
Herbert Vianna (Paralamas
do Sucesso) e Dinho Ouro
Preto (Capital Inicial).
‘Através da educação, ele mostrou que é possível mudar o
mundo’, informou o Grupo Mix de Comunicação, composto pela Rádio Mix, fundada
em 1997, a Rádio Trianon, o site de
variedades Vírgula, e redes de TV, que também faz
parte dos empreendimentos do empresário.
No último dia 13, empresários, educadores e políticos prestaram
homenagens a João Carlos Di Genio em redes sociais. ‘Com tristeza nos
despedimos do Professor Dr. João Carlos di Genio. Homem diferenciado e de
honrada história. Suas contribuições para a educação brasileira permanecerão
como bom legado’, disse o ministro da Educação Milton Ribeiro. Marta Suplicy,
ex-ministra da cultura e do turismo, lamentou a morte do professor. ‘Di Genio
era visionário, e fez muito pelo ensino em nosso país’, disse
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, lamentou a morte, e manifestou
solidariedade aos amigos e familiares de Di Gênio. ‘Manifesto profundo pesar
pelo falecimento do Professor João Carlos Di Genio, um dos maiores fomentadores
do ensino no país. Grande entusiasta da educação, Di Genio inspirava seus
projetos na concretização dos sonhos de seus alunos. Meus sentimentos aos
amigos e familiares’, disse Mendes.
A Associação Brasileira de Sistemas e Plataformas de Ensino (Abraspe) lamentou a perda de Di Gênio. ‘Um homem visionário e de grande espírito empreendedor. Sua obra trouxe profundos impactos para a educação do Brasil, e ajudou a transformar a vida de milhares de estudantes, ao longo das últimas décadas. Di Genio foi um inovador, implantando um exitoso modelo de escolas, que modernizou e apontou caminhos para a melhoria da nossa educação. O País perde um grande empresário e educador’, disse em nota o presidente da Abraspe, José Henrique del Castillo Melo.
Linha do tempo
1939 -
João Carlos Di Genio nasce em Lavínia, no interior de São Paulo
1961
- Passa em 1º lugar no vestibular para o curso de medicina em duas
universidades e começa a dar aulas de física para vestibulandos
1965
- Criação do curso Objetivo, junto com Dráuzio Varella e os médicos Roger Patti
e Tadasi Itto
1971
- Fundação do Colégio Objetivo
1972
- Fundação das Faculdades Objetivo e criação do festival de música FICO
1980
- Início da transmissão de aulas do Objetivo por telefone e ondas de rádios
1982
- Criação do Centro de Pesquisa e Tecnologia Objetivo (CPT),
posteriormente batizado CPT - Unip/Objetivo
1988 - Junto com Dráuzio Varella, transforma Faculdades Objetivo na Universidade
Paulista (Unip)
1990
- Início da transmissão de aulas via satélite para estudantes de todo o País
2009
- Criação do Colégio Objetivo Integrado
2022 - Unip abre curso de medicina
Fonte: Terra | FSP
(JA, Fev22)