Aos dez anos de idade, ganhei de presente ‘Os Grandes Benfeitores da Humanidade’, livro de F. Acquarone, publicado em 1940, ele ainda hoje circula.
Nele encontrei histórias de diversos inventores ˗ Fulton, do
barco a vapor; Stephenson, da locomotiva... Alguns eu já conhecia pelo álbum de
figurinhas.
Um dos personagens era Edward Jenner, do final do século 18: inventor da vacina contra a varíola; foi pioneiro no
estabelecimento do próprio conceito de vacinas.
Lendo sua biografia, fiquei pasmo ao saber que a vacina foi,
na época, alvo de descrédito, ataques e boatos falsos. Havia até quem a ridicularizasse,
dizendo que os imunizados ficariam com feições de vacas (ver imagem em destaque). Isso não lembra um palpite sobre
jacarés?
Criado numa casa em que vacinas eram vistas com normalidade,
como defesas da saúde, eu não entendia o que teria levado pessoas a rejeitá-las
com tamanha baixaria. Ingênuo, não imaginava o que estava por vir.
Seria desnecessário repetir a profusão de estatísticas
atestando as vantagens da vacinação contra a Covid-19 (nesse sentido, recomendo o artigo
do Prof. Raul Cutait sobre).
Entretanto, mais de 200
anos depois de Jenner, o obscurantismo ainda tem arautos. No Brasil, são de
conhecimento público as falas irresponsáveis do Presidente e da própria cúpula
do Ministério da Saúde, que têm empenhado em desacreditar a vacinação ˗
particularmente, a infantil. Exemplo disso é a nota emitida dias atrás pelo
Ministério, através do Secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos
Estratégicos, fazendo pouco da vacinação, e exaltando a ineficaz cloroquina. E,
como uma delinquência puxa outra, não é de admirar que alguns indivíduos tenham
partido para ameaçar profissionais da ANVISA
que autorizaram a vacinação infantil.
Em outras partes do mundo, sopram ventos diferentes. Em Cuba,
mais de 95% dos adolescentes, e crianças de 2 a 18 anos já completaram a vacinação.
Para quem achar que isso é coisa de comunista, lembro que, na mesma direção vai
o Chile, neste final de governo do direitista Sebastián Piñera, onde, há cerca
de um mês, a vacinação infantil já andava adiantada. É também o caso de Israel,
dos Emirados Árabes, e de outros países.
No Brasil, porém, o doutor Queiroga, e a inacreditável D.
Damares, deram-se ao trabalho de viajar até o município de Lençóis Paulista, na
vã esperança de denunciarem uma reação negativa à vacina. Descartada a hipótese, eles perderam a
viagem, e a conta, naturalmente, foi para o contribuinte.
Edward Jenner permanece lembrado por sua contribuição à saúde humana. Aqueles que o difamaram, hoje esquecidos, foram para seu merecido lugar, na sarjeta da história. É para onde um dia irão os que hoje se comprazem em proclamar sua própria ignorância arrogante.
Fonte: A.C. Boa Nova
(JA, Fev22)