1. Chatô, o império de um jagunço
O paraibano Assis Chateaubriand foi o fundador dos Diários Associados,
que em meados dos anos 1940 era o maior conglomerado de veículos
de comunicação do Brasil.
Ele comandava um verdadeiro império midiático: 34 jornais, 36 emissoras de
rádio, uma agência de notícias e uma editora.
Também se preparava para ser o pioneiro da televisão na
América Latina (TV Tupi), e futuro proprietário de 18 estações.
Chateaubriand tinha o espírito empreendedor, e utilizava a influência de seu conglomerado para pressionar a elite do país a auxiliá-lo em suas iniciativas políticas, econômicas e culturais.
2. O nascimento do MASP
Nesta época, Chatô iniciou uma nova e ousada empreitada: a aquisição de obras de arte para criar um museu de nível internacional no Brasil.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, e a Europa em
reconstrução, muitas coleções com obras de relevo foram postas à venda. O
aumento exponencial das ofertas derrubou os preços das obras de arte em níveis
inéditos!
Chateaubriand, no entanto, apesar de apreciador, era um leigo
no assunto. Para garantir a seleção de peças de alto valor e com garantias de
autenticidade, convidou Pietro Maria Bardi, galerista, colecionador, jornalista
e crítico de arte italiano.
Durante um almoço em Copacabana, no verão de 1946, Pietro aceitou o convite para criar e dirigir um ‘Museu
de Arte’ no país.
Pretendia ficar à frente do projeto por apenas um ano, mas
acabou se dedicando a ele pelo resto de sua vida, tendo dirigido a instituição
por quase meio século.
Mudou-se definitivamente para o Brasil com sua esposa
italiana, a arquiteta Lina Bo Bardi, trazendo consigo seu acervo artístico
particular, e uma vasta fototeca com imagens de obras consagradas.
O museu foi inaugurado em 2 de outubro de 1947, no Edifício Guilherme Guinle, em um prédio projetado pelo arquiteto francês Jacques Pilon para ser a sede dos Diários Associados. Localizava-se na Rua 7 de Abril, no centro de São Paulo.
3. Um dos primeiros
centros policulturais do mundo
Em apenas 3 anos, o museu já
contava com pinacoteca, sala de exposição didática sobre a história da arte,
salas para exposições temporárias, auditórios, biblioteca, laboratório
fotográfico, cursos e palestras, mostras de artistas nacionais e estrangeiros
de todas as correntes, manifestações de teatro, música e cinema.
O museu era um ponto de encontro de artistas, estudantes e
intelectuais em geral.
Assim, o MASP inaugurou o conceito de espaço museológico multidisciplinar, tornando-se uma das primeiras instituições do mundo a atuar com perfil de centro cultural, décadas antes da fundação do Centre Georges Pompidou, em Paris.
Lina Bo Bardi coordenou a Escola de Desenho Industrial do MASP, a primeira iniciativa neste campo no Brasil. O curso
utilizava os métodos pedagógicos da Bauhaus, e formou um importante contingente
de designers brasileiros.
Em 1950 foi criado o IAC – Instituto de Arte Contemporânea –, englobando diversos cursos (gravura, desenho, pintura e escultura). Havia também cursos nas áreas de fotografia, ecologia e moda.
Por fim, ao longo de sua história, o museu foi ponto de
partida para outras instituições, como a ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), a escola de artes da FAAP (Fundação Armando Álvares
Penteado) e a Mostra
Internacional de Cinema. Os filmes da mostra eram exibidos com exclusividade no
museu, em seus primeiros anos.
4. Novo endereço - Av. Paulista
No final da década de 1950,
com o crescimento do volume do acervo e com a ampliação das atividades
didáticas do museu, surgiu a necessidade de mais espaço, e ambientes mais
amplos, adequados às atividades ali exercidas.
Acima o Belvedere Trianon, ponto de
encontro da elite paulistana; abaixo, o túnel da Av. 9 de Julho já pronto.
O Belvedere Trianon foi projetado por Ramos de Azevedo, e demolido em 1951 para dar lugar ao pavilhão da primeira Bienal Internacional de São Paulo.
O terreno foi doado à prefeitura por Joaquim Eugênio de Lima, que idealizou e construiu a Avenida Paulista. A condição era de que a vista para o centro da cidade através do vale da Avenida 9 de Julho fosse preservada.
A concessão do local para a construção da nova sede do MASP foi feita em troca da divulgação da campanha
eleitoral de Ademar de Barros nos Diários Associados.
Eleito, Ademar manteve o acordo, dando início aos trabalhos.
5. Lina Boa Bardi cria o mais emblemático cartão postal de São Paulo
Para cumprir a exigência de preservar a vista do terreno para
o centro de São Paulo e para a Serra da Cantareira, através do vale da Avenida 9 de Julho, seria necessário um edifício subterrâneo ou um
edifício suspenso.
Lina Bo Bardi optou pela soma duas soluções: um bloco
subterrâneo e outro bloco elevado, suspenso a 8 metros do piso.
Sua arquitetura é simples e monumental, materializada através de um grande volume suspenso para deixar o térreo livre, passando a sensação de estruturar-se em dois grandes pórticos.
O prédio do MASP é um
verdadeiro monumento em plena avenida Paulista. Seu corpo parece estar apoiado
sobre os pórticos que, no início, eram em concreto bruto.
A obra constituiu o maior vão livre do mundo à época de sua
construção, com uma extensão total de 74m.
Essa inovação foi possível graças ao trabalho do engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz, que aplicou na obra a sua própria patente de concreto protendido.
Novo MASP em construção. Deste ângulo é possível visualizar o bloco subterrâneo que acompanha o desnível do terreno em direção à Av. 9 de Julho.
6. Rainha Elizabeth 2ª inaugura o novo MASP
Em 7 de novembro de 1968, a Rainha Elizabeth 2ª inaugurou a nova sede do MASP.
7. O MASP de hoje
MASP visto da Avenida Paulista, com seus pórticos vermelhos e seu popular ‘vão livre’
O edifício está suspenso a 8m de altura e o
vão livre tem 74m
Uma escada ao ar livre e um elevador em aço e vidro são as circulações verticais do edifício. Em um extremo do vazio, atrai os visitantes e os convida a subir lentamente.
Clique no vídeo, link abaixo, para fazer um passeio virtual por dentro e por fora do MASP
Fonte: Casa ao Cubo
(JA, Fev22)