Oswaldo foi criado numa
família simples - seu pai era alfaiate e a mãe cabeleireira. Seus pais, em relação à família deles, eram
pessoas bem sucedidas: tinham trabalho, viveram em boas casas alugadas,
eventualmente viajavam para visitar parentes, podiam pagar boas escolas para
seus filhos, etc. Eles, principalmente,
lhe legaram uma autoconfiança, uma crença que era alguém especial, alguém para
quem nada seria impossível, desde que quisesse, se dedicasse e acreditasse no
sucesso, na realização.
E assim foi. Ele estudou, se
aperfeiçoou, ficou atento e se empenhou criar e em aproveitar todas as boas
oportunidades que passaram pela sua frente.
Como consequência, teve bons empregos, construiu um bom patrimônio,
criou família, e seus filhos foram bem encaminhados.
Hoje, Oswaldo atingiu uma
idade quando, aparentemente, só existe o passado. Vive o presente, mas não como
se ele fosse coisa sua – só está ali de passagem, esperando, dando tempo. E
como o tempo passa rápido...
De acordo com a teoria que
desenvolveu, a ‘Percepção do Tempo, por Idade’, considerando a sua idade atual
(72 anos), o tempo agora passa por ele cerca de 40% mais rápido do que quando
era um jovem de 30 anos, por exemplo. A explicação é que com a idade, com menos
experiências novas, a memória fica empobrecida, a percepção do tempo presente,
da realidade, vai se tornando cada vez menor... As atividades rotineiras e
entediantes podem parecer durar para sempre enquanto você estiver nelas. Mas,
quando você olha para trás, nem parece que durou: é porque o seu cérebro não
registrou nada de novo acontecendo.
Fisicamente não tem doença
nenhuma, mas tem pouca elasticidade, sente partes do corpo dolorido, tem dificuldade
para realizar certos movimentos,...
Emocionalmente está meio
deprimido, dorme mal, tem sonhos estranhos e repetitivos – neles,
frequentemente, encontra-se agindo como sempre, em posição de comando, mas em
situações inconclusivas, sem saída e, na falta de solução, acorda e demora a pegar no sono
novamente.
Por conta da idade avançada
não consegue mais trabalhar como empregado. E, como nunca teve um negócio
próprio e não tem reservas para arriscar, perder, não será agora que irá fazer
alguma tentativa nesse sentido. Vive por conta de sua aposentadoria e do rendimento da locação de alguns imóveis.
Por medida de economia mora com a esposa numa cidade interiorana, afastado de seus amigos, filhos, parentes, e dos lugares que costumava frequentar. Sua propriedade – a antiga casa de campo - é bonita e confortável, e fica dentro de um Codomínio que dispõe de uma boa infra estrutura - segurança, limpeza, água e esgoto, atendimento médico, lazer.
Pessoalmente, ao contrário de
sua esposa, não sente falta da vida anterior. Conseguiu compensar as faltas
assumindo as novas possibilidades disponíveis. Sua esposa não comenta nada, mas
deixa perceber que sua vida está fora dali. Além disso, pela opção que
assumiu de se manter ‘distante’ do seu companheiro, deve atribuir a ele a culpa
de ter que estar ali.
Ele reconhece que ela tem
motivos para se sentir e agir assim. Afinal, quando se casaram, e durante quase
toda a sua vida, eles tiveram um nível próprio da classe média alta - boas roupas, joias, viagens, viveram em casas
bem localizadas, mobiliadas e confortáveis, etc.
Naturalmente existiam certos
limites, mas, de modo geral, eram bem flexíveis. Tendo vivido assim por tanto tempo, não é de
admirar que estranhe, tenha dificuldade, em viver como foi levada a viver atualmente,
regulando todos os gastos, sem poder frequentar os ambientes a que estava
acostumada, etc.
Por outro lado, esse distanciamento ocorre num momento péssimo para ele, justamente quando está mais carente, quando mais precisaria de incentivo, de apoio, de um abraço amigo. Mas, nem tudo é como gostaríamos, precisamos.
Por outro lado, esse distanciamento ocorre num momento péssimo para ele, justamente quando está mais carente, quando mais precisaria de incentivo, de apoio, de um abraço amigo. Mas, nem tudo é como gostaríamos, precisamos.
Financeiramente, Oswaldo gasta
um pouco além de sua receita, com as consequências decorrentes – seu déficit
aumenta a cada mês. Além disso, sua principal receita é originada pelo aluguel
de um dos seus imóveis. Tem consciência de que essa locação poderá ser
interrompida a qualquer momento e, considerando a atual situação do mercado de imóveis, certamente, terá dificuldade para relocar num
curto prazo, e por um valor equivalente. Isso será um desastre. Quando
acontecer, terá que tomar medidas drásticas para redução das despesas habituais
para compensar a falta desse recurso. Vive angustiado por conta disso. Mas,...
Somando tudo, a situação seria
desesperadora. O suicídio seria uma opção. Entretanto, diferentemente do
futuro, seu passado não foi relativo.
Durante toda a sua vida,
conseguiu superar muitos problemas. Às vezes parecia impossível, mas
mantendo a fé de que agindo como sempre agiu, caminharia para a solução, e conseguiria alcançá-la. Surpreendentemente, sempre aconteceu alguma coisa que o ajudou a superar, a
passar para a fase seguinte, melhor, sem grande esforço aparente – só o normal.
É essa crença, baseada na experiência do passado que o mantém confiante, o faz seguir em frente.
Tem certeza que irá acontecer alguma coisa
favorável e que superará a fase atual, encontrará e assumirá novamente o seu melhor caminho. E, considerando a atual velocidade do
tempo para alguém da idade dele, não demorará muito.
(JA, Ago19)