Rua Bom Pastor, 1957 |
Quem andou pelo Ipiranga, como
eu na minha juventude -fiz o Ensino Médio no ‘Colégio Alexandre de Gusmão’, nessa
mesma rua-, com certeza já passou pela Rua Bom Pastor. Via bastante longa e
cheia de comércios interessantes. É uma importante referência na região. De
onde veio o nome Bom Pastor’?
Quando jogado no dicionário
de ruas de São Paulo, a justificativa que aparece é a seguinte: ‘Essa rua foi
oficializada em 06/12/1906. Sua denominação lembra a existência no local, de
um asilo para menores com esse nome’. Essa é apenas parte da história, por
assim dizer.
Navegando pelo site ‘São
Paulo Minha Cidade’, é possível encontrar uma história que, na verdade, é quase
uma lenda urbana de SP, mais ou menos assim.
Quando o bairro ainda era parcialmente habitado, as ruas ainda não
estavam traçadas e os caminhos cheios de buracos, um garoto desamparado e fraco,
enquanto caminhava, caiu numa depressão do terreno, e ficou estendido ali sobre
as folhagens. Quando, mal conseguiu abrir os olhos, surgiu ali a figura de
Jesus Cristo, que o ergueu e lhe disse que era um Pastor de Almas e, em nome do
Pai, cuidava das crianças. Iria pedir por ele, para que os homens erguessem um
asilo nas imediações, destinado às crianças abandonadas.
A história ‘verdadeira’,
digamos assim, foi extremamente bem dissecada em um documento apresentando no ‘XXII
Encontro Estadual de História da ANPUH-SP Santos’, em 2014. A explicação
histórica fica por conta da construção, de fato, de uma instituição para
meninas órfãs, pobres, e de má conduta. O ‘Asilo Bom Pastor’, como era chamado,
teve sua construção iniciada em 1893, no Ipiranga. O terreno dessa entidade foi
comprado pelo padre português José Antônio de Almeida e Silva, por dois contos
e quinhentos mil reis.
As obras do edifício foram
iniciadas no dia 6 de maio de 1893, com a ilustre presença do presidente da
instituição, o conselheiro Joaquim Pedro Villaça, e de toda a diretoria.
No dia
28 de julho de 1893, o Asilo do Bom Pastor se tornou a primeira instituição
assistencial do bairro do Ipiranga que, na época, fazia parte da freguesia da
Sé. O terreno tinha cinquenta e três metros e meio de rente e noventa e quatro
metros de fundo, onde passava o Córrego do Ipiranga.
Uma pequena curiosidade
histórica que vale ser mencionada, fica por conta de um trecho, encontrado no
jornal ‘O Correio Paulistano’, de maio ou abril de 1893, onde se destaca o
seguinte trecho (adaptado para a atual norma ortográfica):
‘Resolveu, mais para atender ao pedido de muitas pessoas, e aos interesses da empresa, criar uma associação de duas a três mil pessoas honestas, de um e outro sexo, que terá por fim, mediante uma pequena esmola anual, nunca superior a 10$000, concorrer para o sustento, educação e vestuário das asiladas que, depois de um preparo de quatro anos -mais ou menos-, não tomando estado, serão entregues aos parentes ou a famílias honestas para o serviço doméstico’.
Em 20 de março de 1897, três
freiras da Congregação da Nossa Senhora de Caridade do Bom Pastor de Angers,
chegaram a São Paulo, a convite do padre José Antônio de Almeida e Silva, para
administrar o asilo.
Essas freiras eram
especializadas na administração de instituições pedagógicas como orfanatos,
escolas, internatos, organizações prisionais etc., desde a fundação da Ordem,
em 1829, na França. As irmãs do Bom Pastor, como chamadas, deveriam inculcar
educação e disciplina nas internadas, sendo que a sua administração deveria
prezar pela assepsia, arrumação, domesticidade e ordem.
Essa instituição desenvolveu
por mais de 70 anos um trabalho de assistência às crianças abandonadas e jovens
desajustados, chegando a conceder abrigo para mais de 250 crianças por dia.
Em 1995, os 22 mil metros
quadrados, entre a Rua Bom Pastor e a Sorocabanos, que agora pertenciam ao
antigo Asilo Bom Pastor, ao lado do Museu do Ipiranga, foi comprado da
congregação de freiras pela Construtora Gafisa, com a autorização do
Condephaat, para a demolição do asilo, e construção de duas torres de prédios
de quinze andares com vista permanente para o Parque da Independência. A
alegação foi que a área do asilo não tinha valor histórico.
Infelizmente o prédio foi
demolido. Entretanto, graças ao trabalho e ao esforço dos antigos moradores da região,
o negócio foi desfeito e o imóvel foi tombado. Há um projeto para que seja
incorporado ao Jardim da Independência, mas até hoje a coisa não andou...
Tomara que se concretize logo. Esta história, cheia de curiosidades e
conquistas, certamente deve acabar bem.
Fonte: Abrahão
Oliveira, SP in Foco | Nelinho,
São Paulo Minha Cidade
(JA, Ago19)