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Quando Jânio Quadros quis tomar a Guiana Francesa



Jânio Quadros em detalhe de foto de seu encontro com Che Guevara , 19/08/1961



Jânio Quadros, 58 anos após sua renúncia por conta de ‘forças terríveis’,  segue sendo uma zebra na história do Brasil.

O mesmo presidente que, em seus meros 8 meses na cadeira, começou proibindo biquínis em concursos de miss, condecoraria com a maior honraria nacional, a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, ninguém menos que Che Guevara.

Ninguém sabia então, mas, enquanto apertava a mão do revolucionário, estava em curso sua obra-prima, a  que teria feito todas suas outras ações parecerem sensatas: uma guerra com a França (uma real, não troca de ameaças por crustáceos).

A revelação veio do governador do então Território Federal do Amapá José Francisco de Moura Cavalcanti (1925-1994). Ele não fora eleito, mas apontado por Jânio para o cargo. Cavalcanti disse que, em 3 de agosto de 1961, o presidente o recebeu em Brasília. Começou por dizer que havia um problema em seu território: reservas de manganês do Amapá estavam sendo contrabandeadas e vendidas ilegalmente no porto de Caiena, Guiana Francesa.

O manganês é um metal usado principalmente em amálgamas de aço inoxidável e não é precioso: vale mais ou menos o mesmo que chumbo.

Segundo o relato de Moura Cavalcanti, dado pouco antes de sua morte ao jornalista Geneton Moraes Neto, ele lembrava palavra por palavra o que ouvira então:

¾    Defenda os interesses nacionais acima de qualquer outra coisa! A propósito: eu acho que chegou a hora de resolver definitivamente isso…

Não está no relato, mas é de se imaginar que, até esse instante, o governador estivesse esperando tomar um pito do presidente. No Lugar, Jânio deixou isto:

¾        Por que não anexarmos a Guiana Francesa ao território brasileiro?

Como num desenho animado, Moura Cavalcanti passou a andar em círculos na sala, dizendo: ‘Não! Não! Não!’. Jânio mandou sentar e passou um telex (telegrama por telefone) a quem, acreditava o governador, era o chefe do Estado Maior das Forças Armadas. E deu sua justificativa:

¾        Um país que dominar do Prata ao Caribe, falará para o mundo!






















O plano de Jânio era enviar 2500 combatentes por meio de picadas pela Amazônia e, com apoio naval, dominar o pequeno contingente militar francês no território. O nome, ‘Operação Cabralzinho’, era em homenagem ao general Francisco Xavier da Veiga Cabral, que, em 1895, repelira uma invasão francesa ao Amapá.

Moura Cavalcanti se convenceu e jurou fidelidade ao plano. Voltou para o Amapá, ordenou o começo da construção das picadas, chegou a andar de helicóptero para avaliar a situação tática.

O plano é basicamente o mesmo que os generais argentinos tinham quando tentaram tomar do Reino Unido as Ilhas Malvinas (ou Falklands) em 1982. Como Jânio, não imaginavam seu rival europeu reagiria fulminantemente por um território que, acreditavam, via como insignificante.

A operação estava em andamento (ao menos da parte de Moura Cavalcanti) quando aconteceu a renúncia de Jânio, em 25 de agosto de 1961.

Perguntado por Geneton Moraes Neto sobre se poderia dar certo, afirmou que não só iria funcionar, como os franceses ficariam gratos:

¾        Poderia! (...) E seria aceito pela França! A base francesa tinha um coronel que vivia bêbado. Era um batalhão de elite, que foi para dentro da selva. A gente via que eles tinham desejo que aquilo acontecesse.



Fonte:  Fábio Marton   |   FSP



(JA, Ago19)


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