Sebastião Salgado (1944-2025) foi um fotógrafo brasileiro, considerado um dos maiores talentos da fotografia mundial pelo teor social de seu trabalho.
Sebastião
Ribeiro Salgado Júnior nasceu em Aimoré, Minas Gerais, no dia 8 de fevereiro de 1944.
Passou sua infância na Fazenda Bulcão, na cidade de Aimorés, em Minas Gerais, e
parte de sua juventude em Vitória, no Espírito Santo. Formou-se em Economia na
Universidade do Espírito Santo, em 1967.
Em 1968, Salgado fez seu mestrado na Universidade de São
Paulo. No mesmo ano, casou-se com a arquiteta e ambientalista Lélia Deluiz
Wanick.
Em 1969, perseguido pelo regime militar, mudou-se para Paris,
onde fez seu doutorado.
Entre 1971 e 1973, Salgado trabalhou como secretário
para a Organização Internacional do Café, em Londres. Em uma viagem para
Angola, África, onde coordenou um projeto sobre a cultura do café, passou a
fotografar como hobby, e nunca mais deixou esse mundo.
Carreira de fotógrafo
Em 1973, de volta à Paris, Sebastião Salgado iniciou sua
carreira como fotojornalista independente, e passou por agências como Sygma e
Gamma, antes de entrar para a célebre Magnum, em 1979.
Nesse período, durante a cobertura da guerra de independência de Moçambique,
sofreu um acidente quando uma mina terrestre atingiu o carro onde estava. O
episódio rendeu a ele dores crônicas na coluna por décadas.
Na Gamma,
ele registrou imagens da Revolução dos Cravos. Na Sygma, fez o registro de
vários eventos, em mais de vinte países. Na Magnum, realizou viagens pela
América Latina, entre 1977 e 1984.
Em 1981, trabalhando como repórter fotográfico do jornal New
York Times, foi encarregado de registrar os primeiros 100 dias do governo do presidente Ronald Reagan. A
consagração veio com suas fotografias da tentativa de assassinato do presidente,
em 31 de março de 1981, que presenciou enquanto cobria um evento
presidencial em um hotel. Salgado tirou 76 fotos em 60 segundos
Foi o único
profissional a registrar o atentado ao presidente norte-americano, fato que lhe deu destaque internacional.
Durante 15 meses, Salgado trabalhou com o grupo francês ‘Médicos Sem
Fronteiras’, percorrendo a região do Sahel, na África registrando a devastação
causada pela seca. Com base na experiência vivida produziu e publicou, em 1986, o livro
‘Sahel: O Homem em Agonia’. Também nesse ano publicou o livro ‘Outras
Américas’ que registrou as fotos que representavam as condições de vida dos
camponeses, e dos índios, da América Latina.
Entre 1986 e 1992, Sebastião Salgado produziu a série ‘Trabalhadores’, em que documentou o trabalho manual, e as árduas condições de vida dos trabalhadores, em várias partes do mundo.
Serra Pelada
Em setembro
de 1986, o fotógrafo passou 33 dias nas minas de Serra pelada, no Estado do Pará, onde
estava instalada a maior mina de ouro ao céu aberto do planeta.
Sebastião
Salgado registrou o dia a dia de mais de 50 mil
homens que viviam em condições desumanas, formando um verdadeiro formigueiro
humano, dentro de um buraco que chegava a 200
metros de profundidade.
Em 1994, criou a empresa ‘Amazonas Imagens’, para gerenciar e
publicar os seus trabalhos. Sua esposa é a autora do projeto gráfico da maioria
de seus livros.
Em seu livro
‘Terra’, publicado em 1997, a temática foi o problema da
questão agrária no Brasil.
Exodus
Entre 1993 e 1999, Salgado viajou por diversos países e fotografou a luta dos imigrantes, que resultou no livro ‘Exodus’, publicado em 2000.
‘Mais do que nunca, sinto que a raça humana é somente uma. Há diferenças de cores, línguas, culturas e oportunidades, mas os sentimentos e reações das pessoas são semelhantes. Pessoas fogem das guerras para escapar da morte, migram para melhorar sua sorte, constroem novas vidas em terras estrangeiras, adaptam-se a situações extremas...’
Gênesis
O projeto Gênesis foi iniciado em 2004, concluído em 2012 e publicado em 2013. No trabalho, em viagem para diversas partes do mundo, Sebastião capturou toda a beleza da natureza e da cultura de povos que continuam vivendo de acordo com suas antigas tradições.
Prêmios e honrarias
- Prêmio Eugene Smith de Fotografia Humanitária (EUA, 1982)
- Prêmio Príncipe de Astúrias das Artes, 1998
- Prêmio Unesco para ‘Iniciativas Bem-Sucedidas’ (1999)
- Prêmio World Press Photos
- Medalha de prata ‘Art Directors Oub’, nos EU
- Foi eleito membro honorário da Academia Americana de Artes e Ciências, EU
- Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Espírito Santo (2016)
- Eleito para o Quadro de Cadeiras de Fotógrafos da Academia de Belas Artes da França (2017)
- Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão (2019)
O Sal da Terra (filme)
Em 2014 foi lançado o documentário ‘O Sal da Terra’,
produzido por Juliano Salgado, filho de Sebastião, juntamente com o fotógrafo
Wim Wenders.
O Sal da
Terra relata a trajetória do fotógrafo, desde seus primeiros trabalhos em Serra
Pelada, a miséria na África, e no Nordeste do Brasil, até sua obra-prima, ‘Gênesis’
(2013).
O filme foi
indicado ao Oscar de Melhor Documentário de 2015.
Contribuições humanitárias
Sebastião
Salgado contribuiu com organizações humanitárias, entre elas: o Fundo das
Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Alto Comissariado das Nações
Unidas para os Refugiados (ACNUR), a Organização Mundial da Saúde (OMS), a ONG Médicos sem Fronteiras, e a Anistia
Internacional.
Instituto Terra
Em abril de 1998, Sebastião Salgado e Leila fundaram o Instituto
Terra, uma Organização Não Governamental (ONG),
para recuperar a Mata Atlântica, e as nascentes da antiga Fazenda Bulcão -
local onde Salgado passou a infância com sua família-, e de outros biomas pelo
mundo, como a Amazônia.
A fazenda,
com mais de 600 hectares de terra, que está
localizada em Aimorés, no leste de Minas Gerais, nas margens das nascentes que
formam o córrego Bulcão, um dos afluentes do Rio Doce, utilizado para a criação
de gado, que estava bastante degradado.
A atuação do
Instituto foi ampliada posteriormente para outras regiões, com o apoio da
mineradora Vale do Rio Doce. As mudas utilizadas no reflorestamento foram
produzidas nos viveiros da própria ONG.
‘Se
conseguirmos conscientizar as pessoas de que, juntos, poderíamos fazer as
coisas de outra maneira, poderíamos salvar a grande floresta da qual dependemos
para a biodiversidade, e também para esta grande reserva cultural, que são os
povos indígenas que vivem na Amazônia’.
Salgado se dedicou,
nos últimos anos de carreira, à proteção da natureza. No ano passado, Salgado
recebeu um prêmio pela Organização Mundial de Fotografia, com sede em Londres,
em reconhecimento à sua carreira. Ao longo de 50
anos como fotógrafo, ele recebeu incontáveis prêmios, entre eles, o Prêmio ‘Príncipe
das Astúrias das Artes’, em 1998.
O fotógrafo
Sebastião Salgado morreu no último dia 23,
aos 81
anos. Foi vítima de uma leucemia grave, provocada por uma forma particular de
malária, contraída na Indonésia, segundo nota oficial da família.
Deixou um
legado de 50 anos de carreira, em imagens que
atravessaram fronteiras, denunciaram injustiças, e celebraram a resistência
humana.
Fonte: Dilva Frazão | EBiografia
(JA, Mai23)