No Dia das Mães, há sempre um almoço. Mesa farta, panelas que borbulham memórias, pratos cheios. Mas, às vezes, tão cheios de comida quanto vazios de conversa. Sentam-se todos à mesa, e ela, como sempre, senta-se por último.
Os olhos percorrem os rostos
dos filhos — agora adultos apressados, com relógios que gritam, celulares que
vibram, e uma impaciência que não combina com colo.
As mães também envelhecem. Mas
os filhos, esses, raramente percebem.
Exigem que ela ande mais
rápido, que ouça melhor, que entenda de aplicativos, que não repita a mesma
história, que não pergunte pela terceira vez.
Esquecem que ela já repetiu
mil vezes a mesma palavra para ensiná-los a falar. Que os ensinou a andar,
amarrar o cadarço, usar o garfo..., sem jamais reclamar da repetição.
Filhos não gostam de repetir.
Acham cansativo explicar. Mas não se lembram de quantas vezes a mãe explicou o
mundo — com desenhos, com paciência, com canções na beira da cama.
A mãe que hoje erra o caminho
do GPS,
é a mesma que jamais se perdia no caminho de volta da escola.
A que hoje esquece onde
colocou os óculos, é a mesma que lembrava de cada detalhe da lancheira, da
vacina, da febre na madrugada.
As mães também se cansam. Mas
não dizem.
Deixam de comer o último
pedaço para fingir que não queriam mesmo.
Deixam de comprar o que
gostam para comprar o que os filhos precisam.
Deixam o sono, o descanso, a
vaidade, o tempo.
Deixam de ser só elas, para
serem ‘a mãe de alguém’.
E os filhos... os filhos
cobram. Cobram mais atenção, mais ajuda, mais presença. Querem mais, sempre
mais. Mas dão tão pouco.
Talvez, ao menos, o segundo
domingo de maio — o dia que o comércio inventou para ela — possa ser um convite
para inverter. Para parar.
Para se sentar sem pressa,
sem celular, sem horários.=, e perguntar:
‘Mãe, do que você gosta? Qual
é o seu maior medo? Quais são seus sonhos?’
Olhar nos olhos dela como se
olha para uma velha amiga, amiga que já passou por guerras secretas que ninguém
viu ou percebeu. Porque passou mesmo. E passa, todos os dias.
No fim, o melhor presente não
está na sacola com laço. Está no gesto.
O melhor presente é a
presença. Inteira.
Um dia só para escutá-la. Sem
querer ensinar, apenas aprender.
Porque ela também tem
histórias, e talvez não as conte por muito mais tempo.
As mães também envelhecem. E tudo o que querem — no fundo — é que os
filhos finalmente percebam isso. E fiquem. Fiquem um pouco mais.
Fonte: Juliana Paganelli
(JA, 11-Mai25)