Durante minha vida, até hoje,
tive oportunidade de cuidar de quatro idosos no fim de suas vidas.
Hoje, relembrando, sinto que
não fiz tudo o que podia fazer. Não bastava eles terem amparo financeiro para
ter um final de vida feliz. Era necessário ter havido um envolvimento pessoal,
demonstração de consideração, coisa que eu não me preocupei em fazer, e não
proporcionei a eles.
Os idosos precisam se sentir aceitos pelas pessoas, queridos, e não
muito pelo contrário. Não podem chegar à conclusão de que o que estamos fazendo
por eles é por obrigação, que eles são um fardo para a gente.
Meu Pai - Sr. Angelo / Angelin
Sinto que nunca tive
oportunidade de falar com ele como um amigo. Principalmente na minha fase
adulta, falava com ele de uma posição superior, muitas vezes crítica. Ele não
merecia esse tratamento, considerando que sempre foi uma pessoa responsável,
compreensiva e de bom senso, e que realizou muito mais do que seria de se esperar de uma pessoa com sua origem.
Morreu numa cidade distante, reclamando
da minha ausência nos seus últimos dias.
Minha Mãe - Dna Filinha
Sempre a admirei. Ela foi meu
exemplo de vida, com quem sempre me identifiquei e de quem herdei alguns
comportamentos espontâneos que acontecem até hoje. Entretanto, nunca comentei
esse sentimento com ela. Quando precisou de cuidados mais intensos, os
quais eu não tinha condições de assumir, internei-a num asilo onde ela pudesse ser
bem atendida. Poucos meses depois ela fugiu; foi para sua cidade natal, onde
tinha sobrinhas que ela havia acolhido na sua casa, quando jovens. Essas
sobrinhas a receberam e cuidaram bem dela, até o seu fim.
Meu Tio
Wilson
Ele era uma pessoa difícil,
cujo comportamento crítico e autoritário eu não suportava. No final da sua vida
eu pagava seu aluguel do apartamento onde ele morava, em consideração à sua
irmã, minha mãe. Ocasionalmente, ele sofreu um acidente – foi atropelado -, que
o deixou impossibilitado de se manter viver sozinho. Levei-o para minha casa e
o instalei numa dependência isolada. Entretanto, a funcionária que cuidava da
casa tinha dificuldade em conviver com ele, devido ao seu comportamento irascível, crítico. Isso tornou
inviável sua permanência ali. Então, eu
o internei num asilo, onde o visitava semanalmente. Ele reclamava de tudo, e de todos com quem
convivia ali. Porém, não havia o que eu pudesse fazer para mudar a situação.
Alguns meses depois ele veio a falecer.
Minha Tia
Aninha
Ela sempre viveu na casa dos
meus pais onde eu vivi até a adolescência. Era uma pessoa de boa índole, que nos queria bem.
Dividi com ela, por vários anos, um quarto da casa. Ela era costureira e sempre
trabalhou, ganhando o necessário para se manter. Com mais idade, ela passou a
trabalhar em casa. Num determinado dia, sentiu-se mal, e, embora tenha sido submetida
a avaliação e tratamento médico, faleceu em decorrência.
Conclusão
Atualmente tenho mais ou
menos a mesma idade que meus velhos tinham quando morreram e, provavelmente, sinto-me
como eles se sentiam na época. Isso me causa um grande arrependimento por não
ter sido amigável com eles mais do que eu fui. Eles precisavam de um amigo,
muito mais do que um provedor, cuidador, crítico e impessoal.
Por isso não foi difícil concluir que é importante, não só valorizarmos os nossos velhos, mas demonstrarmos isso, compartilhando nossos momentos, pensamentos, sentimentos. Eles, na solidão a que normalmente são levados no fim da vida, precisam ser ouvidos, sentirem-se parte de alguma coisa, aceitos, queridos.
(JA, Jul24)