Sede do Banco Itaú no bairro do Jabaquara-São Paulo-SP
Itaú Unibanco S.A., comumente chamado de Itaú, é o maior banco brasileiro, com sede na cidade de São Paulo, no estado homônimo.
O
banco foi criado em 4 de novembro de 2008, a
partir da fusão entre o Banco Itaú e o Unibanco, duas das maiores instituições
financeiras do país, resultando no maior conglomerado financeiro do hemisfério
sul e num dos 20 maiores do mundo em valor de mercado.
Banco Federal de
Crédito
A história do Itaú tem início em São
Paulo, por iniciativa de Alfredo Egydio de Souza Aranha, que funda o Banco
Central de Crédito, em 30 de dezembro de 1943.
O banco foi autorizado pela Caixa de
Mobilização e Fiscalização Bancária a realizar operações bancárias em 1944, com a emissão das primeiras cartas
patentes.
A primeira agência foi aberta em 2 de janeiro de 1945, localizada na então sede do banco. Ainda no primeiro ano,
seriam abertas duas agências no interior de estado de São Paulo, nas cidades de
Campinas e São João da Boa Vista. No final da década, eram 11 agências (3 na cidade de São Paulo e 8 no interior).
Em 1951, foi aberta uma agência em Santos, litoral de São
Paulo, um passo importante na atuação sobre companhias exportadoras de café.
O Banco Central de Crédito teve seu
nome alterado, em 1952,
para Banco Federal de Crédito, por recomendação do governo federal, que
passaria a usar o termo Banco Central como nome de sua autoridade monetária
principal.
Em 1961, o Banco Federal de Crédito comprou o Banco Paulista
de Comércio S.A. Era a primeira de uma série de
aquisições e incorporações, que marcariam as décadas de 1960 e 1970.
Em janeiro de 1962 foi aberta uma agência na rua do
Ouvidor, Rio de Janeiro, a primeira fora do estado de São Paulo. Também nesse
ano, passaram a ser usadas, na contabilização de contas correntes e
autenticação de documentos, as primeiras máquinas adquiridas pelo banco.
Mais tarde, foi comprado o primeiro
computador IBM, acelerando o desenvolvimento de
sistemas de processamento.
Banco Federal Itaú
O Banco Itaú S.A. propriamente dito foi fundado em 1944, na cidade de Itaú de Minas, Minas
Gerais, e viria a se unir com o Banco Federal de Crédito, em 1964, originando o Banco Federal Itaú SA.
No ano de 1966, o Banco Federal Itaú se tornou o
primeiro banco a lançar um banco de investimentos no Brasil, criando o Banco
Federal Itaú de Investimentos. A operação atrairia o interesse do Banco Sul
Americano do Brasil S.A. que, ainda em 1966,
se uniu ao Banco Federal Itaú, criando o Banco Federal Itaú Sul Americano S.A.
Em 1969, o Itaú Sul Americano faz outra fusão, dessa vez com
o Banco da América S.A., tornando o Banco Itaú América S.A., o 7º maior da época,
com 274 agências. Buscando uma expansão no
nordeste.
Em 1970 foi adquirido o Banco Aliança S.A., que tinha na região 15 de suas 35 agências.
Em 1971, foi feita a primeira grande campanha publicitária,
‘Ajude o Itaú a ser o primeiro’.
Com a incorporação do Banco Português
do Brasil, em 1973,
o Itaú América era o segundo maior banco do Brasil por volume de depósitos, e o
primeiro banco privado no número de agências - 468.
Também, em 1973, o Banco Itaú América
S.A. passou a se chamar apenas Banco
Itaú S.A., e foi adotado um logotipo idêntico
ao atual, porém em preto e branco (Itaú, em tupi-guarani, significa pedra escura).
No ano de 1974, o Itaú incorporou o Banco União
Comercial S.A., e passou a contar com 561 agências. Para ter o controle acionário do
conglomerado, foi criada no final do ano a Itaúsa - Investimentos Itaú S.A..
Em 1979, foi criada a Itaú Tecnologia S.A. (Itautec), que dois anos depois instalaria o
primeiro Banco Eletrônico.
No começo dos anos 80, a marca mudou de novo, ganhando curvas mais suaves e outra
fonte tipográfica. Já em 1992, foi a vez de uma alteração que
transformaria sua aparência de modo mais profundo. A marca recebeu a cor azul,
simbolizando, assim, o começo de uma nova fase, de um banco que se destaca
quando o assunto é o uso de tecnologia de ponta para atender seus clientes com
mais conveniência e rapidez.
No ano de 1980, foram inauguradas as primeiras
agências fora do Brasil - em Nova York (Estados Unidos) e em Buenos Aires (Argentina).
Em 1989, a Itaúsa funda a Itaúsa Portugal que, em outubro de 1994, abriria o Banco Itaú Europa S.A.
Também em 1994, com o crescimento do Mercosul e a
estabilização da economia argentina, o Banco Itaú S.A. de Buenos Aires passa a se chamar Banco Itaú
Argentina S.A.
Em 1998, com a aquisição do Banco del Buen Ayre S.A., seria formado o Banco Itaú Buen Ayre.
No processo de privatizações de
bancos estatais, iniciada no final da década de 1990 pelo governo FHC, o Itaú compra o Banco Banerj S.A (junho de 1997), Bemge - Banco do Estado de Minas
Gerais S.A (1998), Banestado - Banco do Estado do Paraná S.A. (outubro de 2000), e BEG - Banco do Estado de Goiás S.A. (2001).
Com a chegada dos anos 2000, a marca do Itaú foi redesenhada
mais uma vez. O quadrado recebeu nova curvatura e a tipologia ficou com
aparência ainda mais moderna. Era a hora de ganhar a cara jovem dos novos
tempos, essa cara que conhecemos, de século 21,
Ainda no ano 2000, o Itaú estabelece aliança
estratégica com a América Online Latin America Inc. (AOLA), e a América Online Brasil, passando a deter 12% do capital da AOLA.
O negócio, porém, seria desfeito pouco mais de 5 anos depois, com o encerramento das operações da AOLA.
Em 2002, o Itaú adquire 95.75%
do Banco BBA-Creditanstalt S.A., criando o
Banco Itaú-BBA S.A., o maior banco de atacado do país.
Ainda esse ano, o Itaú realiza aliança com a Fiat Automóveis S.A., comprando 99,99%
do Banco Fiat S.A., maior banco ligado a montadoras no
país.
Uma reorganização societária do grupo
teria início em novembro de 2002. As empresas
ligadas aos negócios financeiros ficariam sob controle do Banco Itaú Holding
Financeira S.A., portanto o Banco Itaú S.A. passou a ser uma subsidiária do Banco Itaú Holding
Financeira S.A. A reorganização societária foi
aprovada pelo Banco Central do Brasil em 2003.
Ainda em 2003, o Itaú passa a controlar as
operações de seguro vida, de previdência privada e de administração de fundos
da AGF Brasil Seguros.
A financeira Taií é fundada em 2004, oferecendo serviços de crédito à
população de baixa renda. Também nesse ano, é inaugurada a primeira agência
Itaú no Japão, em Tóquio. Ainda em 2004,
o Itaú e a Companhia Brasileira de Distribuição (CBD) anunciam a criação da Financeira Itaú CBD S.A. Crédito, que terá a exclusividade na oferta de serviços
financeiros aos clientes da CBD. Um acordo
semelhante seria firmado em 2005 com as Lojas
Americanas.
Em dezembro de 2006 o Itaú Adquire o Santander Banespa,
no Japão, e seus mais de 13,5 mil clientes puderam passar a
efetuar suas transações via internet, e a utilizar os mesmos canais de atendimento,
produtos e serviços oferecidos pelo Itaú no Brasil, demonstrando que o banco
tinha interesse em marcar presença no exterior também.
Em outubro de 2008, o Itaú assinou contrato milionário
com a Confederação Brasileira de Futebol para patrocinar a Seleção Brasileira
de Futebol até 2014, ano, em que o Brasil sediou a Copa
do Mundo da FIFA. O Itaú Unibanco foi, também, um dos
patrocinadores do evento.
Unibanco
Casa Moreira Salles - década de 30
Em 27 de setembro de 1924, um armazém em Poços de Caldas (MG), famoso na região pela cordialidade de seu atendimento, recebia autorização do governo federal para funcionar como seção bancária. Significava, na prática, que aquele estabelecimento passaria a representar oficialmente grandes bancos particulares e o Banco do Brasil na cidade, destino muito procurado pelas elites na época. O armazém chamava-se Casa Moreira Salles e era o embrião do que mais tarde se tornaria o Unibanco.
Em 1995 concretiza-se a compra do Banco Nacional, da família
Magalhães Pinto. As conversas começaram mais de um ano antes e partiram do
princípio que os dois bancos estavam com boa saúde financeira. O Nacional já
estava em situação delicada desde o Plano Cruzado e no ano da compra que ele
sofreu a intervenção do Banco Central. Como as conversas já estavam avançadas,
Pedro Moreira Salles continuou a negociação e o Unibanco acabou ficando com os
ativos após a quebra. A operação o colocou entre os três maiores do país.
Empreendedorismo
No caso do Unibanco, a empresa começa
com o mineiro João Moreira Salles, avô de Pedro, atual presidente do conselho
de administração do Itaú Unibanco. Era ele quem comandava o armazém e, mais
tarde, o Banco Moreira Salles, criado a partir da fusão com outras duas
instituições bancárias em 1940.
João e Alfredo tiveram um papel fundamental na história de suas empresas. Mas a segunda geração não deixou a desejar em termos de empreendedorismo. De um lado, Walther Moreira Salles. Do outro, Olavo Setúbal.
O primeiro assumiu a casa bancária ao
lado do pai ainda jovem. Já com 21
anos, ele apostava no potencial do negócio, e sua veia diplomática - mais tarde
ele seria embaixador - permitiu concretizar vários acordos, especialmente nos
anos iniciais. Além de sua atuação no banco e na política, ele também
participou de outros empreendimentos nos setores de energia, metalurgia e
celulose.
O segundo era sobrinho de Alfredo
Egydio e não entrou de cara na empresa da família. Como recém-formado, Olavo
usou 10 mil dólares que tinha recebido como
presente de casamento e fundou a Deca com um amigo de infância e colega na
Escola Politécnica, Renato Refinetti. A aventura bem-sucedida fez com que o tio
o chamasse para arrumar a casa na Duratex, empresa que produzia chapas de fibra
de madeira, e da qual o banco era sócio. Depois de mostrar bons resultados por
lá, ele assumiu como diretor-geral do banco, que nessa altura já tinha mudado o
nome para Banco Federal de Crédito.
Itaú Unibanco
Mesmo tendo incorporado tantas
instituições, cada um dos bancos manteve uma imagem muito particular. O Itaú
era conhecido como o banco dos engenheiros e dos processos. O Unibanco era dos
economistas, e se destacava por seu foco nos clientes e maior flexibilidade.
Mas isso não foi impedimento para a fusão em 2008. Pelo contrário.
‘Nos anos 2000, os dois bancos estavam convergindo. O Unibanco querendo mais processos e controles sem perder as vantagens da flexibilidade, e o Itaú se movendo para ser menos rígido e flexível na gestão de pessoas. A fusão acelerou esse processo. Ambos vinham de origens distintas e se dirigiam para o mesmo centro’, afirma Lisboa.
Roberto Setúbal e Pedro Moreira Salles
O curioso é que a história poderia ter sido completamente diferente. Em 1972, o Unibanco e o Bradesco anunciaram que fariam uma fusão. O negócio nunca se concretizou, acredita-se porque foi impossível conciliar as culturas. Apesar das diferente vocações do Itaú e do Unibanco, segundo Penchas, ‘a formação do pessoal era muito semelhante. Era mais fácil do ponto de vista sociocultural fazer essa operação’.
Outro fato curioso é que a união de 2008 poderia ter acontecido dez anos antes.
‘Quando surgiu a oportunidade de
privatização do Banespa, lembro de ter ido conversar com Israel [Vainboim]: porque a gente não fazia juntos a
aquisição do Banespa? Eu achava que o risco para alguém sozinho era muito
grande e que em dois a gente poderia tirar muita sinergia disso. Podia ser o
início de um namoro para logo depois juntar o backoffice dos três bancos, com
ganhos astronômicos. Não deu na época - as famílias controladoras não estavam
preparadas, o assunto morreu. Mas a ideia de fazer algo com o Unibanco
continuava’, conta Penchas. O Banespa acabou sendo adquirido pelo Santander.
Vainboim e Penchas, amigos de longa
data, voltaram ao assunto na época da fusão. ‘A semente ficou num vasinho, a
gente regava mas ela não crescia. E essas coisas tem um momento que ou dá o
clique ou não dá. E deu. Por isso que [o anúncio da fusão] foi feito rápido, porque foi mastigado com antecedência. Foi
feito de fato em uma semana, mas é um negócio que foi amadurecendo. Demorou 10 anos o processo todo’, afirma Vainboim.
Foi em sua casa que aconteceram os
discretos encontros entre Pedro Moreira Salles e Roberto Setúbal para acertar
os termos da operação. Apesar de os dois morarem em prédios quase vizinhos,
eles temiam que a presença de um na casa do outro despertasse a curiosidade e
rumores entre os vizinhos, muitos deles do mercado financeiro. Com o QG
instalado na casa de Vainboim, conseguiram segurar a notícia até o momento que
lhes fosse mais conveniente. O resto é história.
A união entre os dois bancos, Itaú e
Unibanco, foi aprovada pelo CADE em 18 de agosto de 2010. A medida foi bem vista por Henrique Meireles, presidente do
Banco Central do Brasil, que afirmou que a fusão contribuiria para o
fortalecimento do sistema financeiro nacional, num momento delicado do mercado
financeiro internacional.
A trajetória das instituições
financeiras conta partes relevantes da história brasileira, e dela fizeram
parte grandes personalidades do empresariado nacional.
Com a fusão, a marca Unibanco foi
gradativamente extinta, e a instituição passou a utilizar apenas a marca Itaú
em suas agências. A integração foi concluída em outubro de 2010 e custou mais de R$ 1 bilhão de reais.
Tornou o maior banco privado do país.
Nesses 96 anos o Itaú e o Unibanco cresceram,
mudaram algumas vezes de nome, fizeram fusões, aquisições, viveram o milagre
econômico, a hiperinflação e o boom da classe média.
Além disso, deixaram nomes
importantes na história. A terceira geração das famílias fundadoras dos dois
bancos, inclusive, permanece no poder. São os últimos, além do Safra, da mais
tradicional escola bancária brasileira. Aquele banqueiro empreendedor, que
tinha ambição, que construía o banco, pensava para frente, não existe mais.
Pessoas da família Setúbal-Villela, e Moreira Salles, foram revolucionárias na
sua época.
Crescimento
Cada um dos bancos cresceu na segunda
metade do século 20 conquistando novos clientes, mas
principalmente através de fusões e aquisições. De acordo com Israel Vainboim,
que entrou no Unibanco há 45 anos, foi
presidente e hoje faz parte do Conselho de Administração, o Itaú Unibanco foi a
construção de uma empresa feita por algumas famílias, num processo de
consolidação do sistema financeiro. ‘Nossos fundadores começaram instituições
financeiras pequenas, tiveram uma grande visão do Brasil, grande confiança no
país. Foram, ao longo dos anos, aproveitando todas as oportunidades de
consolidação que o mercado ofereceu’, afirma .
Câmara Pestana, que foi presidente do
Itaú, antes de Roberto Setúbal assumir o comando do banco, contou em depoimento
ao Museu da Pessoa que, nos primeiros anos no banco, Olavo Setúbal fez uma
revolução para modernizá-lo, exigindo inclusive que os funcionários que
entrassem tivessem completado o ginásio (até a 8ª série). Depois, partiu para as fusões.
Ao fechar negócios, uma
característica sua chamava a atenção. ‘Olavo sempre dizia que a grande
qualidade dele era a de escolher homens. Ele aproveitava os melhores elementos
em cada fusão ou incorporação. Não tinha caça às bruxas, ele aproveitava as
pessoas’, conta Henri Penchas, também membro do Conselho do Itaú Unibanco. Ele
é a prova viva: começou a trabalhar em 1968
no que se tornaria o Banco União Comercial, comprado em 1974 pelo Itaú. ‘E, não sei por quais informações que
tinha do mercado, o doutor Olavo me entregou o contrato de compra do BUC que tinha sido feito com o Banco Central, e me deu
para executar o plano, tocar a implementação do contrato’.
Do lado dos Moreira Salles, a
cordialidade, marca registrada do armazém no início do século, parece ter
continuado por muitos anos. ‘Não sei se existe algum acionista mais educado do
que os Moreira Salles. Pode ser que tenha alguém tão educado quanto, mas mais
não tem. Às vezes, os acionistas vestem o uniforme de donos e tratam os
executivos de forma inadequada, servil. No meu caso, o privilégio de trabalhar
com os Moreira Salles sempre foi especial. O nível de autonomia, delegação e
responsabilidade dado aos executivos era muito grande’, conta Vainboim.
Nessa fase de consolidação do sistema
financeiro, os bancos brasileiros tiveram que enfrentar dois desafios.
Inicialmente, a hiperinflação. Numa época em que o dinheiro chegou a se
desvalorizar 80% ao mês, as empresas se adaptaram
para proteger o patrimônio de quem tinha acesso ao sistema bancário.
‘Curiosamente, um grave problema
forçou um desenvolvimento surpreendente do setor. Em geral, quando se tem uma
inflação como no Brasil, a moeda doméstica deixa de existir. Mas fomos uma
exceção. A moeda manteve-se em parte por causa da correção monetária, e em
parte porque os bancos foram capazes de investir em desenvolvimento tecnológico
para a aplicação de recursos’, explica Marcos Lisboa, diretor do Insper e
ex-vice-presidente do Itaú Unibanco.
Essa tecnologia significava agilidade na hora de receber o dinheiro, transferir e fazer pagamentos evitando sua desvalorização. ‘Os bancos desenvolveram uma habilidade na proteção da poupança dos clientes que foi extraordinária. Somos um país continental. Poucos países têm um sistema financeiro que cobre um território como o nosso, e nós investimos, desenvolvemos uma infraestrutura de teleprocessamento e transferência de fundos invejável’, afirma Vainboim.
Foi nessa época que Vainboim, então
presidente, viveu um dos momentos mais difíceis da carreira: o Plano Collor. Do
prédio do Unibanco na Avenida Nações Unidas, em São Paulo, ele olhava a
Marginal Pinheiros completamente vazia. ‘Durante o dia, o Brasil inteiro me
telefonava para pedir financiamento para folha de pagamento. Jamais um
presidente de uma grande companhia ligava para o presidente do banco para
conversar sobre a folha de pagamento. E a gente não sabia nem se teria
dinheiro, não sabia nada, não sabia o que responder’.
O Itaú também viveu seus dilemas.
Câmara conta dois episódios do final da década de 1980. O primeiro, de 1986,
ano em que Olavo Setúbal planejava concorrer ao governo de São Paulo.
Com o Plano Cruzado, lançado em
fevereiro, o banco demitiu funcionários porque não conseguia manter os quase 90 mil colaboradores naquele momento da economia. O sindicato
reagiu. Eis que um dia, a cidade amanhece com vários cartazes com a foto do
Itaú e os dizeres ‘banco de sangue’. O problema foi resolvido após uma conversa
com um superintendente da prefeitura, que ouviu o problema e sugeriu que se
colocasse por cima cartazes anunciando um circo que chegava à cidade. Assim foi
feito. Logo depois, o banco anunciou um programa de desligamento voluntário.
O segundo é sobre o momento em que o Itaú não conseguia pagar créditos exigidos por correspondentes estrangeiros, porque o país tinha decretado a moratória. Como o Banco Central não liberava dólares, alguém deu a ideia de que o banco comprasse ouro para pagar o BC em troca de dólares. Por força da argumentação de Câmara, Olavo Setúbal acabou convencido, comprou-se o ouro, e o problema foi resolvido.
Quando é colocado em prática o Plano Real, começa um novo desafio. Quando já tinham se organizado para viver no ambiente híper-inflacionário, os bancos tiveram que aprender a ganhar dinheiro na estabilidade. ‘É como se um urso polar de repente fosse transferido para o Equador. E vários bancos não conseguiram se adaptar’, resume Lisboa.
Apesar das dificuldades que o sistema
bancário enfrentou em meados da década de 1990,
o momento trouxe algumas consequências positivas, como a consolidação e a
solidificação do mercado, segundo Lisboa. Além disso, fortaleceu o sistema
regulatório. ‘Tanto por parte dos bancos quanto por parte do regulador, não
houve apenas um fortalecimento institucional como um aperfeiçoamento muito
relevante das regras comerciais’, diz.
Para Fernão Bracher, fundador do BBA, que foi comprado pelo Itaú em 2002, o sistema bancário brasileiro ‘tem a ventura de ter
colhido boas medidas de saneamento tomadas no passado, de sorte que, pode-se
dizer que é um sistema sadio, eficiente e confiável’, características que se
estenderiam ao Itaú Unibanco.
Foi também nessa época que grandes
bancos estatais foram privatizados. Do ponto de vista de quem comprava, o
negócio não era exatamente tranquilo. Apesar de adquirir agências e a carteira
de clientes, eram bancos que não estavam saudáveis do ponto de vista
financeiro.
Penchas, do Itaú, era o então
responsável pela área de fusões e aquisições. A investida mais arriscada,
segundo ele, foi a compra do Banerj, o primeiro banco estatal leiloado. ‘Imagina
os riscos de ter greve no dia seguinte, movimentos políticos fortes contra a
gente’.
Depois, acabou participando da compra de outros estatais, como o Bemge. Ele também envolveu-se na compra de dois bancos relevantes na história do Itaú: o Banco Francês Brasileiro, de quem herdou a marca Personnalité, e o BBA, que já era uma instituição sólida e consolidada no segmento de atacado.
O Itaú Personnalité é a divisão que oferece serviços especializados para clientes de alta renda - logo abaixo do private banking. A estratégia do Itaú Personnalité consiste na oferta de serviços de consultoria por gerentes que recebem treinamento para entender as necessidades específicas desses clientes, e de uma grande carteira de produtos e serviços exclusivos, disponibilizados por uma rede de agências exclusivas, localizadas nas principais cidades brasileiras.
Segmento herdado do Unibanco, chocou-se
com a estratégia Personalité. O Unibanco era considerado mais ágil, pois o
conceito Uniclass era para clientes e não agências, ou seja, os clientes de uma
agência poderiam ser classificados de forma diferentes enquanto no Itaú não.
Em face disto, o Itaú Personnalité,
em julho de 2011,
reformulou sua estratégia e elevou o limite de clientes-alvo para pessoas com
renda superior a R$ 10.000 por mês (em comparação com R$ 7.000
anteriormente, que chocavam-se com o Uniclass), ou com investimentos acima de R$ 100.000 (em contraposição a R$ 60.000
anteriormente, que, igualmente, se chocavam com o Uniclass). Essa estratégia melhora o choque com
a divisão Uniclass mencionada na atividade de banco de varejo, sem contudo
resolver o problema de cliente em agência distinta.
Aquisições, Associações
Em 24 de agosto de 2009,
foi anunciada uma associação para distribuição de seguros de residência e
automóvel com a Porto Seguro, uma das maiores e mais importantes seguradoras do
país. A operação consistiu na transferência, por parte do Itaú Unibanco, da
totalidade de ativos e passivos de sua carteira de seguros residenciais e de
automóveis para a Porto Seguro.
Em 9 de maio de 2013,
o Itaú fechou a compra da Credicard, a mais antiga e conhecida emissora de
cartões do país, por quase três bilhões de reais.
Em 29 de janeiro de 2014,
foi anunciada a fusão das operações do banco Itaú Chile com o banco CorpBanca,
também chileno, dando origem ao Itaú CorpBanca. Após a conclusão da fusão, o
Itaú passou da 7ª para a 4ª colocação entre os maiores bancos chilenos. A marca da nova
instituição é Itaú e o controle fica nas mãos da instituição brasileira.
Em 21 de outubro de 2015,
a Odebrecht TransPort, subsidiária do grupo Odebrecht na área de transporte e
logística, assinou um contrato de venda de sua participação na ConectCar para o
Itaú Unibanco, por R$ 170 milhões.
Em 31 de dezembro de 2015, o Itaú Unibanco informou que fechou acordo com o Banco BTG Pactual para a compra da participação de 81,94% do BTG na empresa de recuperação de crédito Recovery do Brasil Consultoria, por R$ 640 milhões.
Em 8 de outubro de 2016, o Itaú pagou 710 milhões de reais pela operação de varejo do Citibank no Brasil.
Em 11 de maio de 2017, O Itaú Unibanco informou por meio de fato relevante a compra da participação de 49,9% do capital social da XP Investimentos, corretora nascida em Porto Alegre. A aquisição seria feita por meio de aporte de capital no valor de R$ 600 milhões, e compra de ações de emissão da XP detidas pelos vendedores, no valor de R$ 5,7 bilhões. No total, serão aplicados R$ 6,3 bilhões no negócio. A finalização da transação depende da análise do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Desafios
Uma década após a criação do Itaú
Unibanco, a situação leva a crer que as coisas vão muito bem, obrigado. Os
resultados no balanço são positivos, a expansão internacional, anunciada como
meta em 2008, foi encaminhada, e a divisão de
poderes entre Pedro Moreira Salles e Roberto Setúbal, que comandavam os bancos
antes da fusão, deu certo. Além disso, a empresa conseguiu superar o desafio de
estrutura e recursos humanos que a junção de dois bancos gigantes impõe.
‘Passado esse tempo, deu mais certo e
foi mais fácil do que a gente imaginava. A implementação que o Roberto deu ao
processo, a presença cuidadosa do Pedro, não interferindo na execução, e o
cuidado para preservar as coisas que as duas companhias tinham, criou uma
cultura que é uma mescla’, opina Vainboim.
Ao que tudo indica, foram três os
desafios que a empresa teve nos últimos anos. O primeiro foi consolidar essa
terceira cultura do banco. ‘Queríamos um banco mais voltado para clientes, que
preservasse todas as boas características do Itaú e do Unibanco, e sem os
defeitos que os dois tinham’, diz o ex-presidente do Unibanco.
O segundo é o processo de sucessão.
Roberto Setúbal, que já havia adiado a sua saída, deixou a presidência no
início de 2016, sendo sucedido por Candido Botelho Bracher, ex-presidente do Itaú
BBA .
Por fim, segundo Roberto Troster e
Marcos Lisboa, há o desafio que menos depende da vontade dos bancos, e recai
sobre todas as instituições financeiras: enfrentar um ambiente de negócios que
precisa de ajustes. ‘Tem uma série de fatores, as regras, o compulsório, a
tributação, que tornam o sistema como um todo muito ineficiente’, afirma
Troster.
Já Lisboa destaca o ambiente que
encarece – e limita - as operações de crédito. ‘O que a gente tem aprendido no
Brasil, desde a estabilização, é como pequenos ajustes no ambiente
institucional, nas normas legais, podem ter impacto relevante pra redução do
custo de operações de crédito para todo mundo. Taxas menores, prazos maiores,
maior segurança no sistema como um todo. Nós avançamos, mas ainda tem longa
agenda para avançar mais’.
Desempenho
Em setembro de 2013, os ativos do Itaú Unibanco eram de 1,011 trilhão de reais e com isso é considerada a segunda
maior instituição financeira do Brasil por ativos, perdendo apenas para o Banco
do Brasil.
Em 4 de fevereiro de 2014, foi anunciado que o Itaú Unibanco
teve lucro de 15.696 bilhões de reais em 2013,
um crescimento de 15,5% em relação a 2012. Foi o maior lucro da história dos bancos
brasileiros. Em dezembro de 2013 os ativos
totais do banco totalizaram 1.105 trilhão - um
crescimento de 8,99% em relação ao mesmo período do ano
anterior.
Em agosto de 2014, adquiriu 100%
da gestora de ativos chilena Munita Cruzat & Claro. Com a compra o banco
expandiu as suas operações no Chile, na área de private banking. O valor da
aquisição não foi divulgado pelo Itaú Unibanco.
Em 2017, o Itaú destronou o Bank of America, registrando a
maior receita entre os bancos de investimento na América Latina.
No dia 1º de julho de 2019, o Mercado Livre, a Visa, e o Itaú, lançaram
um cartão de crédito sem anuidade e com cashback. O recurso permite que
clientes acumulem pontos, e recebam até 10% do
dinheiro de suas compras.
Estrutura Organizacional
O Comitê Executivo do Itaú BBA é constituído pelo presidente da instituição, e pelos
diretores vice-presidentes das áreas de negócio e apoio.
Presidente - Candido Bracher,
Banco de Investimentos, Produtos e Mesas Clientes - Jean-Marc Etlin,
Comercial e Project Finance - Alberto Fernandes,
Tesouraria Institucional - Caio Ibrahim David
Para representar o interesse dos
acionistas, um Conselho de Administração é eleito a cada três anos em
Assembleia Geral de Acionistas. O Conselho é a maior instância deliberativa do
Itaú BBA, e mantém vínculo direto com a Itaú
Unibanco Holding.
Os conselheiros asseguram que os
negócios da empresa serão conduzidos de acordo com as diretrizes definidas.
Guiados pelas políticas de atuação do Itaú BBA,
orientam e fiscalizam toda a administração do banco.
Membros do Conselho de Administração
do Itaú BBA
Presidente
Roberto Egydio Setubal
Vice-presidentes
Alfredo Egydio Setubal
Candido Botelho Bracher
Conselheiros
Antonio Carlos Barbosa de Oliveira
Caio Ibrahim David
Eduardo Mazzilli de Vassimon
Henri Penchas
João Dionísio Filgueira Barreto
Amoêdo
Fonte:
Negócios, Itaú BBA, WP e Dvs
(JA, Ago20)