Qualquer pessoa é capaz de aperfeiçoar suas habilidades linguísticas, independentemente da idade ou contato anterior com o idioma |
Aprender um novo idioma é uma
ideia por si só assustadora. Milhares de palavras desconhecidas, uma estrutura
gramatical completamente diferente e a grande chance de passar por algum
constrangimento são suficientes para intimidar muitos de nós. Com uma vida
profissional agitada, encontrar tempo para se comprometer a estudar uma nova
língua também pode ser um desafio.
Mas os especialistas
concordam que é perfeitamente possível fazer um progresso significativo com
apenas uma hora de estudo por dia. Além disso, as habilidades adquiridas com a
prática de um novo idioma podem se tornar superpoderes no trabalho e em outras
áreas de nossa vida.
Pesquisas mostram que há uma
correlação direta entre bilinguismo e inteligência, habilidades de memória e
melhor desempenho acadêmico. À medida que o cérebro processa informações com
mais eficiência, é capaz de evitar o declínio cognitivo relacionado ao avanço
da idade.
Dependendo de sua língua
materna e do novo idioma que estiver aprendendo, você pode conquistar vários
benefícios cognitivos de curto prazo, e ao longo da vida.
Naturalmente, quanto
mais remota for a linguagem de seu idioma nativo, mais difícil é o desafio
(pense, por exemplo, em holandês e vietnamita que não são línguas amplamente
usadas globalmente), mas se concentrar em um objetivo específico pode reduzir
drasticamente o tempo de prática.
Seja para um novo emprego,
leituras ou conversas informais, você pode aperfeiçoar suas habilidades
linguísticas, independentemente da sua idade ou exposição anterior ao idioma.
A 'competência intercultural' - saber como construir relacionamentos entre diferentes culturas - pode ser uma habilidade valiosa |
Quais são os
idiomas mais difíceis
Mas quanto tempo se leva para
aprender uma língua? Um levantamento do Instituto de Serviço Estrangeiro dos
Estados Unidos (FSI, na sigla em inglês) mostra a média para falantes nativos
de inglês.
A escala do FSI tem quatro
níveis de dificuldade. O grupo 1, o mais fácil, inclui francês, italiano,
espanhol, português, dinamarquês, sueco, norueguês, romeno e holandês. São
necessárias cerca de 700 horas de prática para alcançar a fluência
intermediária nestes idiomas.
A dificuldade começa a
aumentar à medida que avançamos na lista. São necessárias 900 horas para atingir
o mesmo nível de fluência nas línguas do grupo 2, como alemão, malaio, swahili
e indonésio. Ainda mais difíceis são tcheco, grego, hindi, búlgaro, finlandês e
hebraico, do grupo 3, que exigem 1100 horas. O grupo 4 é composto por alguns
dos idiomas mais desafiadores para os falantes de inglês: árabe, chinês,
japonês e coreano. São necessárias 2200 horas de estudo.
Esta dedicação pode parecer
assustadora, mas especialistas dizem que vale a pena aprender uma segunda
língua por causa dos benefícios cognitivos que gera. Isso desenvolve as funções
executivas do cérebro, ‘a habilidade fina de manipular e utilizar informações
de forma flexível, manter as informações na mente e suprimir informações
irrelevantes’, diz Julie Fiez, professora do departamento de neurociência da
Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos. ‘Chamam-se funções executivas
porque são consideradas habilidades de um CEO: gerenciar um grupo de pessoas,
manipular muitas informações, realizar multitarefas e priorizar’.
Os cérebros bilíngues
dependem de funções executivas - como controle inibitório, memória de trabalho
e flexibilidade cognitiva - para manter o equilíbrio entre duas línguas, de
acordo com um estudo da Universidade North-western, nos Estados Unidos. Como os dois sistemas de linguagem estão sempre
ativos e competindo, os mecanismos de controle do cérebro são constantemente
fortalecidos.
Especialistas dizem que vale a pena aprender uma língua pelos benefícios cognitivos que isso gera |
Lisa Meneghetti, uma analista
de dados que vive em Treviso, na Itália, é hiperpoliglota, o que significa que
é fluente em seis ou mais idiomas - no caso dela, inglês, francês, sueco,
espanhol, russo e italiano. Ao aprender um novo idioma, especialmente um mais
fácil, e que requer menos esforço cognitivo, ela diz que seu maior desafio é
evitar misturar palavras.
‘É normal que o cérebro pegue
atalhos’, diz ela. ‘Isso acontece mais frequente e facilmente com idiomas da
mesma família, porque há muitas semelhanças e falsos amigos’.
A melhor maneira de evitar
esse problema, diz Meneghetti, é aprender uma língua de cada vez, e diferenciar
as famílias linguísticas.
Como estudar
uma nova língua
Aprender o básico de qualquer
idioma é uma tarefa rápida. Aplicativos como Duolingo ou Rosetta Stone podem
ensinar algumas saudações e frases simples em instantes. Para uma experiência
mais personalizada, o poliglota Timothy Doner recomenda ler e assistir coisas
pelas quais você já tem interesse.
‘Se gosta de cozinhar, compre
um livro de culinária em uma língua estrangeira. Se gosta de futebol, assista a
um jogo internacional’, diz ele. ‘Mesmo que aprenda apenas umas poucas palavras
por dia, será mais fácil relembrá-las mais tarde’.
Aprender uma nova língua é mais fácil quando você combina isso com outra coisa que gosta, como ver um jogo de futebol internacional |
É importante pensar antes
exatamente como você planeja usar o idioma no futuro. Mas qual deles escolher
irá depender de suas motivações pessoais, diz Beverly Baker, diretora de
avaliação de idiomas da Universidade de Ottawa, nos Estados Unidos.
‘Um executivo pode pensar que
o mandarim será importante para seus negócios, ou pode ser um idioma que sua
família já falou e se perdeu, ou você está apaixonado por alguém que fala o
idioma’, diz ela.
Uma vez que suas intenções
estejam definidas, você pode começar a planejar um cronograma de uma hora de
prática diária, que inclua vários métodos de aprendizado.
A melhor forma de gastar esse
tempo varia de acordo com o especialista em poliglota ou linguística com quem
você está falando. Mas há uma dica que todos parecem apoiar: fique pelo menos
metade de sua hora longe dos livros e vídeos, e pratique com um interlocutor
cara a cara, seja um falante nativo ou alguém muito fluente no idioma.
‘Façam perguntas entre si ou
alguma atividade, conversem no idioma e discutam assuntos desta cultura. Eu não
pularia essa parte, porque aprender sobre as pessoas e sua cultura me motiva a
prosseguir no meu aprendizado’, diz Baker.
Fiez diz que muitos adultos
tentam aprender uma língua ao memorizar palavras e praticar a pronúncia, em
silêncio e para si mesmos. ‘Eles não tentam realmente conversar usando o
idioma. Você não está aprendendo uma língua assim, está apenas aprendendo
associações de sons e imagens’.
Fique pelo menos metade de sua hora longe dos livros e vídeos e pratique com um falante nativo ou alguém fluente no idioma |
Assim como acontece ao se
fazer exercícios físicos, ou tentar tocar instrumentos musicais, a recomendação
é um tempo de prática mais curto e frequente, em vez de períodos maiores e
esporádicos. Baker diz que, sem um cronograma consistente, o cérebro não
desenvolve um processo cognitivo profundo e faz conexões entre o novo
conhecimento e o aprendizado anterior. ‘Uma hora por dia, cinco dias por semana
será mais produtivo do que cinco horas uma vez por semana’.
Neste ritmo, de acordo com o
índice da FSI, seriam necessárias 140 semanas para alcançar a fluência básica
em uma língua do grupo 1, ou dois anos e nove meses. Mas, ao seguir o conselho
de especialistas, e restringir as lições voltadas para aplicações específicas
em vez de para adquirir uma fluência geral, novos falantes podem reduzir
significativamente o tempo necessário para alcançar o nível desejado.
Os
benefícios de aprender um idioma
‘Aprender uma segunda língua
pode satisfazer uma necessidade imediata, mas também o ajudará a se tornar uma
pessoa mais compreensiva e empática, abrindo as portas para uma maneira
diferente de pensar e sentir’, diz Meneghetti. ‘É sobre combinar inteligência
racional e emocional’
Ser capaz de superar as
barreiras linguísticas, tanto em comunicação quanto em empatia, é uma
habilidade em alta demanda chamada ‘competência intercultural’. Segundo Baker,
a competência intercultural é a capacidade de construir relacionamentos de
sucesso com uma variedade de pessoas de outras culturas.
Dedicar uma hora do seu dia
ao aprendizado de uma nova língua pode ser uma forma de se aproximar das
pessoas. O resultado é um conjunto de habilidades de comunicação mais maleável,
que o conecta com seus pares no trabalho, em casa ou no exterior.
‘Você se depara com uma visão
de mundo diferente de alguém de uma cultura diferente. Você não se apressa em
julgar, e é mais eficaz em resolver os confrontos que surgem no mundo’, diz
Baker.
‘Aprender uma língua, qualquer língua,
ajuda a desenvolver a adaptabilidade e flexibilidade em lidar com outras
culturas’.
Fonte: Peter Rubinstein e
Bryan Lufkin | BBC
(JA, Mar19)