Contei meus anos
e descobri que tenho menos tempo para viver a partir daqui, do que o que vivi
até agora.
Sinto-me como aquela
criança que ganhou um pacote de doces. O primeiro comeu com prazer; mas, quando
percebeu que restavam poucos, começou a saborear, cada um, mais intensamente.
Já não tenho tempo
para reuniões intermináveis em que são discutidos estatutos, regras,
procedimentos e regulamentos internos, sabendo que nada será alcançado.
Não tenho mais
tempo para apoiar pessoas absurdas que, apesar da idade cronológica, não cresceram.
Meu tempo é
muito curto para discutir títulos. Eu quero a essência, minha alma está com pressa...
Tenho poucos doces no pacote...
Quero viver ao
lado de pessoas humanas, muito humanas Que saibam rir dos seus erros. Que não fiquem
inchadas com seus triunfos. Que não fiquem longe de suas responsabilidades - pois
Isso ofende a dignidade humana. E que queiram andar do lado da verdade e da
honestidade.
O essencial é
o que faz a vida valer a pena.
Quero me cercar
de pessoas que saibam tocar os corações
das pessoas.
Pessoas a quem
os golpes da vida, ensinou a crescer com toques suaves na alma.
Sim... Estou
com pressa... Estou com pressa para viver com a plenitude que só a maturidade
pode dar.
Eu pretendo
não desperdiçar nenhum dos ‘doces’ que ainda
sobraram... Tenho certeza de que eles serão mais saborosos do que os que comi
até agora.
Meu objetivo é
chegar ao fim satisfeito, e em paz com meus entes queridos e com a minha consciência.
Nós temos duas
vidas. A segunda começa quando você percebe que você só tem uma...
Estou na segunda
parte da vida. Portanto, só tenho tempo para
ser feliz!
Fonte: Mário Coelho Pinto de Andrade,
1928-1990, ensaísta angolano; Ricardo
Gondim, 1954-..., do seu livro ‘Creio, mas Tenho Dúvidas’, publicado pela
Editora Ultimato, 2007, pág. 107.
“Encante-me com uma certa calma, sem pressa. Tente entender minha alma.” Pablo Neruda
(JA, Mai18)