Um dos últimos
bairros a serem urbanizados em São Paulo, o Morumbi, na zona oeste, preserva
memórias de um município rural. A região, hoje uma das mais ricas da cidade, já
foi conhecida como Fazenda Morumbi, propriedade de aproximadamente 8.000 m².
O terreno
abrigava uma capela e uma casa luxuosa construída em 1813 pelo regente Diogo
Antônio Feijó. Ainda no início do século 19, dom João 6º, grande apreciador de
chá, doou o terreno ao agricultor inglês John Rudge, que lá instalou a primeira
fazenda de chá do Brasil.
‘Os cultivos
de chá e as videiras, para a produção de vinho, adequaram-se muito bem à
região, que tinha um clima mais frio’, conta Silvia Cristina Siriani,
professora de história da FMU.
Por volta de
1840, o terreno foi vendido e a casa passou de mão em mão até que, no início do
século 20, uma infestação de pragas destruiu as plantações -ponto de partida
para a divisão da propriedade em lotes menores.
No ano de 1920, um século após a construção, o imóvel ruiu, o responsável por sua reconstrução foi Gregori Warchavchik, 1896-1972, um dos mais famosos e renomados nomes da arquitetura modernista no Brasil.
Na Casa da Fazenda tudo foi reconstruído como o original, preservando até mesmo as paredes de taipa de pilão da Capela. O jardim é outro espetáculo, com espécies nativas, onde é possível vermos a natureza preservada, com mais de 200 anos, intocada.
Em 1948, o
processo de urbanização foi iniciado pelo engenheiro Oscar Americano. ‘O
loteamento do terreno começou a atrair famílias com alto poder aquisitivo,
interessadas em tranquilidade, luxo e maior distância do centro’, diz Levino
Ponciano, autor do livro ‘Bairros Paulistanos de A a Z’.
A construção
do estádio do Morumbi, no fim dos anos 50, e a mudança da sede do governo do
Estado para o Palácio dos Bandeirantes, em 1964, impulsionaram mais o
crescimento e a ocupação do bairro. Hoje, a área da antiga Fazenda Morumbi
abriga tanto edifícios de luxo quanto a comunidade de Paraisópolis, segunda
maior favela da cidade de São Paulo.
Na década de
1990, iniciou-se um novo processo de restauração com base na construção
original, em taipas de pilão. Em 2005, a casa e a capela foram tombadas pelo
Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental
da Cidade de São Paulo.
Em seus
jardins, ainda há plantas nativas como o palmito-juçara e o jerivá, palmeiras
da mata Atlântica.
Suas
belíssimas paisagens serviram às obras de diversos cineastas. Entre elas, estão
‘Sinhá Moça’, filme de 1953 de Tom Payne, ‘A Moreninha’ e ‘Beto Rockfeller’, de
Oliver Perroy e ‘A Nova Primavera’, de Franco Zefirelli.
Em 7 de novembro
de 2009, no espaço social da ‘Casa da Fazenda’, foi outorgado pela Academia
Brasileira de Arte, Cultura e História - ABACH, o medalha do Mérito
Profissional em Educação, em nome do Sr. JUAREZ DE ALVARENGA, no grau de
COMENDADOR, em reconhecimento aos que, com Fé e Coragem, cultuam os mais
elevados ideais de Nacionalidade e Fraternidade Humana.
Base: Texto Larissa Teixeira | FSP
Imagem: Casa da Fazenda, construída em 1813 no Morumbi pelo regente Diogo
Antônio Feijó, foi reformada após estrutura ruir parcialmente nos anos 1920
(JA, Out17)