Após a expulsão definitiva dos holandeses, em 1654, a produção açucareira
teve uma brusca queda. Os fazendeiros, então, decidiram explorar a cana
produzida no Nordeste, o que contrariava os interesses dos portugueses em
obrigar a importação de uma bebida criada com os bagaços da uva (bagaceira). Em
1659, Portugal endossou a proibição da cana e ameaçou deportar e prender
escravos e fazendeiros que não cumprissem suas exigências.
No Rio de Janeiro, o governador Salvador Correia de Sá permitiu a
comercialização da cana, já que o estado era um dos maiores produtores de
cachaça. Entretanto, decidiu cobrar imposto sobre a produção. Em 31 de janeiro
de 1660, os vereadores aprovaram o projeto de lei, usando-a como alternativa
econômica para a crise do açúcar que se instalara.
Porém, os fazendeiros continuavam insatisfeitos. Acharam que a Coroa
queria obter uma grande margem de lucro com os tributos e organizaram um motim
na região da Baía de Guanabara, onde hoje situam-se as cidades de Niterói e São
Gonçalo.
Os revoltosos conseguiram posse de armamentos e invadiram as residências
das autoridades locais. Eles exigiam o fim das taxas e a devolução dos impostos
cobrados. Cerca de 110 senhores de engenho organizavam reuniões na fazenda de
Jerônimo Barbalho Menezes de Bezerra e, no dia 8 de novembro de 1660, sob sua
liderança, incitaram a população a se reunir na Câmara da Baía de Guanabara.
Neste momento, o governador Salvador de Sá estava ausente devido a uma visita a
São Paulo; em seu lugar, estava seu tio Tomé de Sousa Alvarenga.
Mesmo assim, não hesitaram em prender Alvarenga e deportá-lo para
Portugal. Em seu lugar, exigiram que Agostinho Barbalho fosse governador. Sem
acatar o pedido dos revoltosos, refugiou-se no Mosteiro de São Francisco, de
onde foi arrancado à força.
Como governador, Barbalho mostrou-se favorável à família Sá e conseguiu o
reconhecimento efetivo de seu cargo por Salvador de Sá. Indignados com as
decisões dele, os revoltosos conduziram seu irmão Jerônimo Barbalho ao cargo de
governador. Acatando a vontade dos revoltosos, Jerônimo exerceu um mandato
autoritário, perseguindo os jesuítas que apoiavam a família Sá.
Em 6 de abril de 1661, o ex-governador Salvador de Sá articula uma
investida com o apoio de tropas baianas, enfrentando os revoltosos sem
resistência. Salvador de Sá ordena a prisão de todos eles e o enforcamento de
Jerônimo Barbalho, expondo sua cabeça decapitada em praça pública.
A Coroa portuguesa repudia o ato violento de Sá, e manda soltar todos os
presos revoltosos. Em 13 de setembro de 1661, finalmente, a regente Luísa
Gusmão considera legal a produção da cachaça no Brasil e legitima o episódio
conhecido como Revolta da Cachaça.
Texto:
Tiago Ferreira da Silva, Info Escola
Apesar de terem assumido o poder no Rio de Janeiro e desobedecido as leis coloniais, os líderes da Revolta da Cachaça nunca chegaram a questionar o domínio de Portugal sobre o Brasil. Tempos depois, no século 18, a bebida voltaria ao centro de uma revolta. Mas, dessa vez, a independência do país estava entre as reivindicações. Em 1789, os intelectuais, padres e militares envolvidos na Inconfidência Mineira tomavam cachaça como forma de protestar contra Portugal. O próprio Tiradentes, personagem mais famoso do movimento, teria dito ‘Molhem a minha goela com cachaça da terra’ antes de ser enforcado.
Apesar de terem assumido o poder no Rio de Janeiro e desobedecido as leis coloniais, os líderes da Revolta da Cachaça nunca chegaram a questionar o domínio de Portugal sobre o Brasil. Tempos depois, no século 18, a bebida voltaria ao centro de uma revolta. Mas, dessa vez, a independência do país estava entre as reivindicações. Em 1789, os intelectuais, padres e militares envolvidos na Inconfidência Mineira tomavam cachaça como forma de protestar contra Portugal. O próprio Tiradentes, personagem mais famoso do movimento, teria dito ‘Molhem a minha goela com cachaça da terra’ antes de ser enforcado.
O padre Domingos Xavier, inconfidente e irmão de Tiradentes, fabricava
cachaça em seu alambique (que funciona até hoje no sul de Minas Gerais) e a
servia nos encontros secretos dos conspiradores. Em 1817, a cachaça voltou a
ser símbolo do nacionalismo brasileiro.
Foi na Revolução Pernambucana, que promoveu um boicote aos produtos
vindos de Portugal. A ‘aguardente da terra’, como era chamada, foi escolhida
como bebida anti lusitana. O folclorista Luís da Câmara Cascudo, no livro
Prelúdio da Cachaça, conta que o padre João Ribeiro, um dos líderes do
movimento pernambucano, se recusava a brindar com bebidas europeias. Optava
sempre pela cachaça.
(JA, Set17)