Ao falarmos que ‘navegar é preciso,
viver não é preciso’, alguns logo citam a genialidade do escritor português,
Fernando Pessoa. Indo um pouco mais adiante, o estudo dessa frase aponta que o
poeta, ao mesmo tempo em que lançava uma sentença sobre a condição do homem,
dialogava ricamente com a tradição histórica dos portugueses na exploração dos
mares. Contudo, devemos saber que essa interpretação está longe de remontar as
origens da afamada frase.
No século I a.C., os romanos viviam ativamente o seu processo de
expansão econômica e territorial. Na medida em que Roma se transformava em um
império de dimensões gigantescas, a necessidade de desbravar os mares, se
colocava como elemento fundamental para o fortalecimento de uma das mais
importantes potências de toda a Antiguidade. Foi nesse contexto que o general
Pompeu, por volta de 70 a.C., foi incumbido da missão de
transportar o trigo das províncias para a cidade de Roma.
Naqueles tempos, os riscos de
navegação eram grandes, em virtude das limitações tecnológicas e dos vários
ataques piratas que aconteciam com relativa frequência. Sendo assim, os
tripulantes daquela viagem viviam um grave dilema: salvar a cidade de Roma da
grave crise de abastecimento causada por uma rebelião de escravos, ou fugir dos
riscos da viagem mantendo-se confortáveis na cidade de Sicília. Foi então que,
de acordo com o historiador Plutarco, o general Pompeu proferiu essa lendária
frase.
De fato, a afirmação do general
Pompeu surtiu bons frutos. A viagem foi realizada com sucesso, e o militar
ascendeu ao posto de cônsul com amplo apoio das camadas populares romanas.
Pouco tempo depois, esse mesmo prestígio o fez ser um dos integrantes do
Primeiro Triunvirato que governou todo o território romano. Afinal, será que
foi a vitória da história de Pompeu que levou o lendário escritor português a
tomar empréstimo dessa instigante sentença? Quem sabe!
Navegar
é preciso
Navegadores antigos
tinham uma frase gloriosa:
‘Navegar é preciso;
viver não é preciso’.
Quero para mim o
espírito [d]esta frase,
transformada a forma
para a casar como eu sou:
Viver não é necessário;
o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha
vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la
grande,
ainda que para isso
tenha de ser o meu corpo
e a (minha alma) a
lenha desse fogo.
Só quero torná-la de
toda a humanidade;
ainda que para isso
tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim
penso.
Cada vez mais ponho da
essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal
de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da
humanidade.
É
a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.
Fonte: Pesquisa de Rainer Sousa | Portal da Educação | Portal Raízes
(JA, Mar20)