O professor, autor de
mais de 100 livros de contos árabes, que contava histórias para ensinar
Matemática, reavivando em seus alunos a atenção, e a dirigindo para a
compreensão de problemas matemáticos.
Capa de uma das quase 100 edições de O homem que calculava (detalhe) |
Talvez sem a mistificação literária,
o professor Mello e Souza nunca teria conseguido popularizar o Ensino da
Matemática, transformando a disciplina em matéria curiosa e divertida, que teve
no livro ‘O homem que calculava’ seu mais espetacular exemplo.
Júlio Cesar de Mello e Souza nasceu
no Rio de Janeiro no dia 6 de maio de 1895.
Passou sua infância na cidade de Queluz-SP, às margens do Rio Paraíba, junto à
divisa com o Estado do Rio de Janeiro. Teve oito irmãos.
O carioca Júlio César de Melo e Souza, também conhecido como Malba Tahan, 1895-1974 |
Cursou o ensino fundamental e médio
nos Colégios Militar e Pedro II no Rio de
Janeiro. Formou-se professor pela Escola Normal, e depois engenheiro pela
Escola Nacional de Engenharia. Lecionou em diversos estabelecimentos de ensino
como o Colégio Mello e Souza, o Colégio Pedro II, a Escola Normal e a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Casou-se
com Nair Marques da Costa com quem teve três filhos.
Nasce Malba Tahan,
mistificação literária
Na verdade, Malba Tahan não foi
apenas um pseudônimo de Júlio Cesar de Mello e Souza. O escritor e professor
carioca tinha o dom da palavra, e inventou um personagem que parecesse real,
uma pessoa que houvesse existido de fato, uma mistificação literária.
Ele estudou a cultura e a língua
árabes, para que a biografia e as obras do Malba Tahan fossem convincentes em
estilo, linguagem e ambientação. Em 1924, Júlio
Cesar teria procurado o jornalista Irineu Marinho, futuro fundador do jornal ‘O
Globo’, na época ainda diretor do periódico ‘A Noite’, para lhe propor uma
ideia: surpreender o Brasil com a ‘mistificação literária’ de um escritor
árabe, chamado Malba Tahan, para publicar contos orientais e educativos.
Irineu Marinho teria lido dois ou
três contos do professor Mello e Souza e, aprovando a ideia, recomendou que
fossem publicados na primeira página de seu jornal, precedidos de uma biografia
do famoso escritor Malba Tahan, ou melhor, de Ali Yezzid Izz-edin Ibn-Salin
Malba Tahan.
Jornal A Noite, 7 de junho de 1924 |
O jornal divulgava que os ‘contos do
original escriptor anglo-árabe Hank Malba Tahan’ eram especialmente traduzidos
e adaptados por ‘um de nossos collaboradores’. Mello e Souza e Irineu Marinho
jamais revelaram a pessoa alguma o segredo da mistificação da qual foram
aliados e corresponsáveis.
Assim, em 20 de junho de 1924, iniciaram-se
a publicação dos contos árabes no jornal ‘A Noite’, sendo o primeiro deles
intitulado o ‘O Juiz’. A publicação do primeiro conto deu início ao personagem
Malba Tahan no imaginário brasileiro.
O professor de
matemática que contava histórias
Em setembro de 1937, ele foi nomeado, por concurso público, Professor
Catedrático da disciplina de Matemática da Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal. Mas, a atuação de
Malba Tahan foi muito além da sala de aula.
A partir de 1940, ele iniciou uma longa caminhada, proferindo
palestras e ministrando cursos para professores, em mais de 200 cidades brasileiras. Nessa mesma década, destacam-se
três iniciativas inovadoras de Malba Tahan: a criação da Universidade do Ar, em
1941, junto à Rádio Nacional, projeto
pioneiro do ensino a distância no Brasil, o apoio à criação do Monumento à
Matemática, na cidade de Itaocara, RJ, e a criação e direção da Revista ‘Al
Karismi’, de recreações matemáticas, publicada de 1946 a 1951.
O homem que calculava
Em 1934, sai seu primeiro título de recreações matemáticas, o livro ‘Matemática
Divertida e Curiosa’. Em 1938, foi publicado ‘O homem que
calculava’, obra que ‘ficará salvo das vassouradas do tempo, como a melhor
expressão do binômio ciência e imaginação’, como profetizou Monteiro Lobato.
Revista Careta, 24 de setembro de 1938 |
De fato, Malba Tahan conseguiu reunir
o saber matemático e os contos árabes em uma extraordinária aventura, que
apresenta a cada capítulo desafios e problemas sempre resolvidos pelo homem que
calculava, o persa Beremiz Samir, principal protagonista da obra.
Best seller na literatura brasileira,
‘O homem que calculava’ continua vivo em milhares de salas de aula do Brasil,
alcançando quase uma centena de edições.
Prêmio concedido pela Academia Brasileira de Letras em 1939 |
Dia Nacional da
Matemática
Júlio Cesar faleceu no dia 18 de junho de 1974. Estava no
Recife, a convite da Secretaria de Educação e Cultura, ministrando, para
professores, os cursos ‘A arte de ler e contar histórias’ e ‘Jogos e recreações
no ensino da matemática’.
No hotel, onde se hospedava com sua
esposa Nair, sofreu um enfarte às 5h30 da manhã, quando se preparava para as aulas. O Jornal do
Brasil noticiou: ‘morreu aos 79 anos, em
consequência de um edema pulmonar agudo, e da trombose coronária que o
surpreenderam às 5h30,
nos aposentos do Hotel Boa Viagem, em que estava hospedado’.
Em 2013, trinta e nove anos depois de sua morte, em resposta ao Projeto de Lei 3482/04, impulsionado
pela Sociedade Brasileira de Educação Matemática, foi criado, na data de seu
nascimento, 6 de maio, o Dia Nacional da
Matemática.
Depois de toda essas histórias,
algumas perguntas ainda permanecem sem respostas: Malba Tahan e Júlio Cesar de
Mello e Souza foram a mesma pessoa? Seria Malba Tahan o pseudônimo de Julio
Cesar? Por que razão se diz que o famoso escritor árabe, Ali Yezid Ibn-Abul
Izz-Eddin Ibn-Salin Malba Tahan, descendente de uma tradicional família
muçulmana, nascido no dia 6 de maio de 1885, em uma aldeia chamada Muzalit, teria sido uma
mistificação literária do escritor e professor Julio Cesar de Mello e Souza,
nascido na cidade do Rio de Janeiro, em 6 de maio de 1895?
Revista Manchete, 29 de agosto de 1970
Tudo leva a crer, caros leitores, que
Malba Tahan tenha realmente existido e, até hoje, muita gente ainda acredita
que o escritor árabe existiu de fato.
Fontes:
Cláudio Soares, Hiperliteratura | Malbatahan.com.br, revistas Manchete e
Careta, jornais A Noite, Jornal do Brasil e Correio da Manhã
(JA, Mar20)