FOTOGRAFIA
Alexander Rodchenko
A ESCADARIA, 1929
Fotógrafo,
escultor, designer e pintor, entre outras atividades, a variedade de
realizações de Alexander Rodchenko se destaca mesmo quando se leva em conta o
padrão multidisciplinar dos nomes da vanguarda russa. Rodchenko realizou
trabalhos relevantes e inovadores em quase todas as áreas em que atuou, como,
por exemplo, ao experimentar novas tipografias na revista Novyi LEF (Frente de
esquerda, em tradução livre), que também contava com Maiakóvski entre seus
colaboradores. Seu portfólio inclui até distintivos e papelaria para a primeira
companhia aérea soviética, Dobrolet.
‘A ESCADARIA’ É UM
EXEMPLO DE COMO RODCHENKO CONVERTIA CENAS COTIDIANAS EM IMAGENS QUE PARECIAM
QUASE ABSTRATAS
Rodchenko,
que havia passado pelo futurismo nos anos 1910, estava entre os artistas russos
que declararam a pintura como morta no início da década de 1920. Deixando para
trás um extenso acervo de obras baseadas em formas geométricas, influenciadas
pelo cubismo e pelo suprematismo, o artista se voltou para o desenho industrial
e as artes aplicadas. Ao lado de outros artistas, fundou a corrente ‘produtivista’,
que defendia a introdução da arte na vida cotidiana.
Em seguida,
Rodchenko incorporou também a fotografia no seu repertório, realizando
fotomontagens para pôsteres e publicações pró-Revolução. Em 1925, Rodchenko
adquiriu um dos novos modelos da câmera Leica que podia ser segurada com uma
mão apenas. A máquina possibilitou que o fotógrafo experimentasse imagens com
ângulos inclinados e perspectivas incomuns, completamente inovadores para a
fotografia de então. Por meio desse tipo de fotografia, Rodchenko viu a
possibilidade de realizar uma nova linguagem visual que fosse artística e não
apenas de registro, como era a norma entre as imagens fotográficas nesse tempo.
‘OUVINTE DE RÁDIO’ É UMA FOTO DE 1929
‘CONSTRUÇÃO DO
CANAL DO MAR BRANCO’ FOI REALIZADA EM 1932
CADA VEZ MAIS, O TRABALHO DO FOTÓGRAFO
SERVIU PARA FINS DE PROPAGANDA DO REGIME SOVIÉTICO.
Para ele, os
sistemas e traçados das coisas deveriam ser evidenciados pela arte e não
escondidos. Suas fotografias destacam esse aspecto, como é o caso de ‘A
escadaria’, em que uma imagem banal e cotidiana, uma mulher subindo uma escada
carregando uma criança, adquire um aspecto geométrico e contrastado, quase
abstrato. “Ser capaz de fotografar significa criar uma imagem que produz um
efeito visual máximo”, disse Rodchenko sobre sua abordagem.
O fotógrafo
ocupou diversos postos em órgãos culturais bolcheviques, incluindo a diretoria
do departamento de museus, e foi secretário do sindicato de artistas de Moscou.
Apesar de ter atraído críticas de alguns setores oficiais, pelo modo incomum de
retratar pessoas e objetos, foi ganhando prestígio entre as autoridades. Na era
Stálin, a partir de 1927 e especialmente na década de 1930, a câmera de
Rodchenko foi servindo cada vez mais para registros de obras do governo,
eventos esportivos e desfiles oficiais, que tinham como objetivo glorificar o
regime.
CARTAZ PARA
EDITORA EM QUE MULHER GRITA “LIVROS!”; A MODELO É LILY BRIK, ENTÃO ESPOSA DO
EDITOR OSIP BRIK, E QUE TINHA SIDO AMANTE DE VLADIMIR MAIAKÓVSKI
MARCHA DE ATLETAS
DO DYNAMO SPORTS CLUB; FOTO TIRADA EM 1932
Texto: Camilo Rocha, Guilherme Falcão, Thiago Quadros e Ariel
Tonglet | =Nexo Jornal
Imagens: Kazimir Malevich –
Quadrado Negro’ e ‘Círculo Negro’1915; ‘Cruz Negra’ e ‘Branco no Branco’,
1920
(JA, Nov17)