Eu tinha um chefe muito louco,
daqueles caras cativantes, cheio de energia e ideias. Mas um dia foi marcante
para mim, pois foi de onde tirei uma daquelas grandes lições que encontramos em
coisas muito simples. Era 5 de outubro de 2011, aquela loucura de final de ano
em São Paulo, um tempo gostoso daqueles que não é muito quente, nem frio e as
pessoas apenas se cumprimentam falando – “Bom tempo né?”. Praticamente já faz
tudo começar bem.
Porém, esse era o dia que viria
falecer a lenda – Steve Jobs. Isso mesmo, um dos caras mais audaciosos da
história encerrou suas atividades por aqui. Eu não sou um grande fã do
temperamento dele ou da forma como conduziu a Apple internamente, mas ninguém pode
negar a ousadia, a coragem e a genialidade de sua percepção. De qualquer forma,
ele era o cara.
Foi um tsunami de notícias,
documentários, homenagens e tributos a Steve. Porém algo estava em alta
naquelas primeiras horas também e, por sinal, era a grande questão do momento:
"Quem será o próximo Jobs?”.
Mais para o fim da manhã, o meu
ex-chefe chegou na empresa com um olhar astuto depois das suas reuniões. Ele
abriu a porta e falou pro pessoal: "Vocês viram o que aconteceu?”. Um meio
tímido respondeu: "O Steve Jobs morreu" (naquela dúvida de “será que
tá certo?"). O meu ex-chefe retrucou rapidamente, sem respirar”:
"Isso é o fato…”. E, aumentando o tom de voz, subiu em cima da mesa, sem
tirar o que tinha em cima, e gritou: "Venham todos aqui!”.
Quando chegamos na sala, ele olhou e
comentou: "Que o Steve faleceu, essa grande figura e nome do mercado,
vocês já estão sabendo, mas o que aconteceu também é que agora todo mundo quer
saber quem será a próxima empresa que vai desafiar o mercado e lançar as tendências
como a Apple. Seria ela mesma? Ou algum outro personagem vai aparecer, com uma
nova organização visionária?”.
Todo mundo ficou atônico, era aquela
apreensão de final de novela para saber quem matou quem, e o pensamento
coletivo: “Será que já comunicaram isso? O que não captamos?”.
Foi então que ele disparou, com uma
convicção impermeável: “Nós seremos ela”.
Acredito que a galera não soltou a
gargalhada porque era o chefe e ficou com medo de uma demissão por justa causa
(não se pode se engasgar de rir da cara do seu patrão), mas ele rapidamente
percebendo, ou até prevendo isso, falou uma das frases mais importantes que
guiaria a minha vida: “Quem pode provar que não?”.
Eu não lembro tão bem como foi o
resto do discurso, talvez porque aquela frase fez tanto sentido para mim
quanto, quando crianças, aprendemos a caminhar e pensamos “aha, então é assim”
ou usar a peniquinho. Seja lá o que for, algo estupendo aconteceu.
Eu sempre fui uma pessoa que desafiou
limites. Até uma frase que sempre usava era: “O céu é o limite apenas para quem
não conhece o espaço”. A ousadia fazia parte de mim, mas eu tinha um pouco de
medo das coisas tão grandiosas, do que os outros pensariam, se era possível...
Mas foi aquela frase, naquele momento, que fez o “plim” na minha cabeça e
começou a martelar: "eu não posso provar que ele não vai conseguir, se ele
tomar as atitudes, dedicar-se e fizer coisas incríveis, ele pode mesmo. Depende
mais dele do que da minha opinião". Na verdade não depende da opinião de
ninguém aqui, não podemos provar que ele está errado.
Esse foi o insight: o impossível não
existia, a opinião dos outros como barreira não faz diferença alguma a partir
daquilo que você realmente acredita. Milhões de pessoas até aquele dia na face
da Terra tinham esquecido de pensar em limitações e regras para dar um impulso
na humanidade. Eu fico pensando no Santos Dumont falando “Ops, foi mal galera,
esqueci que era impossível voar” ou o Willis Carrier (inventor do
ar-condicionado – um herói para nossa realidade hoje) dizendo: "Ah, que
saco, foi mal, eu não sabia que não dava para criar algo que deixasse o
ambiente gelado e gostoso".
O Walt Disney já dizia que ele
gostava do impossível porque lá a concorrência era menor. Isso é uma grande
verdade. Porém, cheguei a uma conclusão ainda mais intrigante. Talvez essa
história do impossível seja apenas uma lenda para manter grande parte das
pessoas fazendo o comum e apenas alguns “loucos” alcançarem o extraordinário.
Se até então você não tinha se dado
essa permissão de não aceitar o impossível, quem sabe não seja esse o momento?
Deixo você com uma frase que tem
norteado meus dias e crenças e talvez lhe seja útil nesse novo momento de
pensar: 'Quem pode provar que não?'” Bruno Perin
(JA, Jun15)