São 32 os cadernos que Antonio Gramsci
escreveu no cárcere de 1929 a 1935. Foi na cadeia da Turim onde produziu a maior parte desta obra, tornada
bússola de movimentos de esquerda em várias partes do mundo. Um manual sobre
como tomar o Estado e a sociedade sem dar um tiro. Foi deputado pelo Veneto,
líder sindical, jornalista, filósofo comunista, e agitador, numa época em que o
fascismo e o comunismo brotavam Europa afora, com Stalin na Rússia e Hitler,
Mussolini e Franco, na Alemanha, Itália e Espanha.
Gramsci entendia ser preciso tomar o Estado por dentro,
ganhar a hegemonia em setores estratégicos da sociedade, como educação e
cultura. A semente da hegemonia do pensamento de esquerda deveria ser plantada
a partir dos influencers daquela época: músicos, artistas, intelectuais e
professores.
Norberto Bobbio analisa a influência de Gramsci sobre a
esquerda mundial nos ensaios publicados em 1999
pela Editora Paz e Terra (Gramsci
e o conceito de sociedade civil). Naquelas 137 páginas, o
mestre faz uma análise precisa da teoria gramsciana indicando que a ‘hegemonia
é o momento de soldagem entre determinadas condições objetivas e a dominação de
fato de um grupo dirigente’.
É, sem dúvida, o grande doutrinador da esquerda no
pós-guerra. Os discípulos de Gramsci são até hoje movidos por esta centelha,
com a diferença de que há quase 1 século,
quando ele escreveu os Cadernos, a imprensa, o telégrafo e o rádio eram os
meios de comunicação mais modernos. Hoje, temos ferramentas mais eficientes
como as redes sociais, as técnicas de infiltração como astroturfing e, claro,
também velho o corpo a corpo.
Gramsci nasceu e morreu pobre, passou fome, a mãe costureira
sustentando a família. Sua ascensão social, como a de Benito Mussolini, se deu
pelo Partido Socialista, numa época em que os pobres subiam na vida entrando
para o exército, a igreja ou a política.
Em 1921, deixou os socialistas para fundar o
Partido Comunista Italiano. No ano seguinte partiu para a Rússia, onde conheceu
Julia, mãe dos seus dois filhos.
Passados 4 anos, o
carismático líder foi preso pela polícia de Mussolini pelo crime de ser
comunista.
Em 1934, ganhou liberdade condicional, e foi morrer em casa, sem nunca ter publicado um livro em vida.
Passados 85 anos da sua
morte, ele segue frequentando escolas da elite de São Paulo, como demonstra o
que ocorreu na escola Avenues, no Real Parque, bairro nobre de São Paulo.
Nessa escola o professor Messias Basques deixou militância
política estar acima de sua missão de ensinar, ao privilegiar só uma versão dos
fatos quando um aluno discordou da enfermeira e professora de origem indígena
Sonia Guajajara, ex-candidata a vice-presidente pelo Psol na chapa de Guilherme
Boulos, em 2018, levada pelo professor para
doutrinar os alunos contra o Agronegócio.
Diante a pregação da militante do Psol, defensora da
distribuição das terras dos produtores rurais, o rapaz pediu a palavra e,
serenamente, explicou que não concordava, e deu seus motivos. Entre os quais, a
segurança da propriedade privada expressa na Constituição, e o papel do
agronegócio na economia do Brasil. Também argumentou que o uso de defensivos
agrícolas obedece a regras de controle, e que não era feito da forma como ela
dissera. Terminou dizendo que muitos agroquímicos de última geração não são
usados no Brasil ‘porque não deixam’.
Basques enganou muita gente por muito tempo, mas não enganou aquele aluno esperto o tempo todo. Sua militância política foi colocada acima da missão de ensinar, quando privilegiou apenas uma versão dos fatos, impediu o debate, e impôs a famosa hegemonia gramsciana, humilhando o aluno que ousou discordar da sabedoria da indígena do Psol.
Fonte: Marcelo Tognozzi | Poder360
(JA, Abr22)