Introdução
Muitas vezes somos levados a tomar alguma decisão que pode nos levar a percorrer uma caminho diferente daquele que estamos habituados a trilhar. Todo caminho acaba por nos levar para outro e outro. O que teria acontecido se a nossa decisão fosse permanecer no mesmo caminho de sempre, ou mudar, percorrer um novo?
Relato abaixo a história de um rapaz
que teve que tomar a decisão de aceitar ou não uma oportunidade de emprego que surgiu em sua
vida, e quais foram ou teriam sido as consequências, dependendo da alternativa escolhida.
Oportunidade
Recorrendo àquela história do rapaz,
recém casado, que havia acabado de se formar. Ele vinha trabalhando, já há vários anos, numa multinacional, como
analista de sistemas. Era um profissional com boas perspectivas de ascensão.
Ocasionalmente, soube que a Marinha Brasileira estava oferendo oportunidade
para jovens, com a formação e experiência como a dele, fazerem um curso de
especialização nos EUA, para operação dos computadores que iriam equipar alguns submarinos adquiridos daquele país.
Inicialmente, antes do treinamento
nos EUA, era exigido que esses candidatos fizessem um treinamento básico na
Marinha. Esse treinamento seria feito durante seis meses, em uma viagem
internacional, como tripulantes de um veleiro escola. Ao término dessa viagem,
se tudo bem, sairiam graduados como sub oficiais. Após o treinamento nos EUA,
por cerca de outros seis meses, eles teriam o compromisso de servir por mais
dois anos na Marinha, exercendo a atividade para a qual foram preparados. Findo
esses dois anos eles poderiam optar entre continuar a carreira militar, ou não.
Durante tempo em que estivessem em treinamento e prestando serviço, receberiam
um soldo mensal cujo valor, na época, equivalia à 50% do salário que ele
recebia onde trabalhava.
Pensou, pensou, e, então, escolheu :
Alternativas
I. Decidiu
que a opção ‘Marinha’ era inviável no
momento, considerando, principalmente, os compromissos financeiros que já havia assumido - a divida pela compra de um
apartamento e de um veículo. Não poderia reduzir a sua receita atual. Portanto,
não poderia tomar o caminho que se abria a sua frente. Preferiu continuar seguindo aquele que já estava
trilhando. Continuou trabalhando na multinacional. Com o passar do tempo, seu
trabalho foi reconhecido, seu salário foi subindo proporcionalmente às suas
atribuições. E, no finalmente conseguiu uma posição, um salário e um patrimônio
invejável. Conseguiu criar seus filhos e ter uma velhice/aposentadoria
tranquila, confortável.
II. Decidiu
por não tomar o caminho que se abria a sua frente. Preferiu continuar seguindo aquele que já estava
trilhando. Continuou trabalhando na multinacional. Seu trabalho foi reconhecido,
seu salário foi subindo proporcionalmente às suas atribuições. Certo dia, um
dos diretores da empresa que havia sido designado para trabalhar em Portugal,
para implantação de uma unidade naquele país, e o convidou para ir junto, para
ajudá-lo. Naquela época Portugal ainda
era um país pouco desenvolvido em termos tecnológicos, e ele - o diretor -, precisava
de alguém experiente, com formação técnica, para ajudá-lo a implantar os
sistemas operacionais e de controle, próprios
da empresa. Ele aceitou, e foi. Ficou lá por vários anos, se adaptou ao país
que viu se desenvolver e crescer, a partir da adesão de Portugal ao Mercado
Comum Europeu. Conheceu toda Europa, e hoje, ainda vive em Portugal,
desfrutando uma condição confortável, própria de um ex-executivo bem sucedido de
uma grande empresa.
III. Optou
pela ‘Marinha’. Aproveitou a oportunidade que lhe passou pela frente. Fez o
treinamento, serviu pelo tempo estabelecido. Mais tarde optou por permanecer na
Marinha. No decorrer de sua carreira,
conquistou várias promoções e acabou por se aposentar como um militar de alta
patente, respeitado no seu meio, e com condições de desfrutar de uma aposentadoria tranquila, adequada ao seu
nível.
IV. Optou
pela ‘Marinha’. Aproveitou a oportunidade que lhe passou pela frente. Fez o
treinamento, serviu pelo tempo estabelecido. Após alguns anos, pediu a baixa e
foi trabalhar , como convidado numa grande empresa americana que estava se
instalando no Brasil. Lá, teve
oportunidade de ser designado para servir a um senador americano, em visita ao
país, interessado na possibilidade de incrementação do comércio binacional.
Ajudou esse senador a fazer uma pesquisa no junto ao mercado nacional, em
vários segmentos. Findo o trabalho, esse senador o convidou a ir para os EUA e
continuar a assessorá-lo no trabalho que ele fazia para o governo americano,
numa determinada secretaria de estado. Ele aceitou o convite. Atualmente o
senador americano é uma figura de destaque nacional e internacional, participando
de vários comitês do governo, e ele é um de seus principais assessores.
V. Existem
outras várias possibilidades que ele poderia percorrer, cada qual levando a
desdobramentos próprios, os quais, por sua vez, poderiam ter outros
desdobramentos. Não relatamos mais pois, mesmo que tentássemos, não conseguiríamos
esgotar, tantas poderiam ser.
Alguém que conheceu esse rapaz no passado, se o encontrasse agora, incorporado em alguma das suas ’possibilidades’,
será que o reconheceria de imediato? Certamente não. Ele, dependendo
da sua decisão, deu espaço para
surgimento de alguém aparentemente diferente, embora, na essência, seja ele mesmo. O que o tornou ‘diferente’ foram as experiências vividas, ‘os
morros escalados’. Essas circunstâncias lapidaram o ‘ser’ no qual ele se transformou.
Podemos inferir diante dessa observação, que a
realidade é feita de essência e de aparência. Nem tudo é o que parece ser, à primeira
vista. Normalmente temos oportunidade de perceber apenas uma parcela muito pequena de alguém que conhecemos recentemente. E, além disso, não sabemos quem ele
poderá vir a ser. Portanto, temos grande probabilidade de errar quando rotulamos uma pessoa nessas condições. Seria necessário explorar mais para descobrir quem ela é de fato. E, dependendo do seu seu potencial e do nosso interesse, proporcionar, estimular, a emergência da melhor possibilidade daquele ser.
"Ninguém é único. Somos vários, dependendo das
circunstâncias do momento. O que mantém a unidade é a
personagem mais dominante, que também pode variar, dependendo, outra vez, das circunstâncias."
(JA, Jul14)