O projeto Hyperloop prevê a construção de um tubo pneumático, com cápsulas aceleradas eletromagneticamente, que transportaria pessoas a uma velocidade quase supersônica.
Tecnologia Hyperloop
A ideia do Hyperloop é
reproduzir em solo as mesmas condições encontradas pelos aviões na altitude. O
transporte é feito por cápsulas, que viajam dentro de um tubo de baixa pressão
atmosférica.
No lugar de trilhos, a
empresa promete um sistema magnético, que faz as cápsulas flutuarem dentro dos
tubos. Sem o atrito do vento ou dos trilhos, as cápsulas alcançam velocidades
que podem chegar a 1.200 quilômetros
por hora, com baixo consumo de energia.
Se o Hyperloop é um sistema
selado de tubos, como funcionará? A sua grande função é servir como uma espécie
de túnel a vácuo, utilizando aspiradores para sugar o ar, de forma similar ao
que ocorre com o Vactrain, semelhante ao Maglev, mas que anda em tubos. Com a
retirada do ar, tem-se a diminuição da resistência.
O resultado? Um transporte
que consegue se deslocar alcançando altas velocidades, fazendo com que as
viagens sejam muito mais rápidas, tranquilas e seguras. Outro ponto relevante
desse projeto é que ele se propõe a ser mais acessível, e ter maior qualidade,
quando comparado aos meios de transporte que temos hoje, como aviões, trens e
ônibus.
O conceito é muitas vezes
atribuído a Elon Musk, que tem uma outra companhia voltada para a ideia,
chamada Boring Company. Apesar de a ideia existir há mais de 100 anos, o
presidente executivo da Tesla lançou um artigo público, em 2013, descrevendo
um sistema ferroviário de levitação magnética, que passa por um tubo, e sugeriu
que empresas e universidades fossem atrás e desenvolvessem a tecnologia Hyperloop.
Viabilidade do projeto no Brasil
A pesquisa feita em parceria
com a UFRGS considerou o período de cinco anos para a implementação do sistema, e
analisou os impactos do projeto no decorrer de 30 anos de funcionamento do
transporte no sul do país.
A equipe por trás do projeto
afirma ter priorizado um percurso que minimiza a distância entre as cidades e,
ao mesmo tempo, se adequa à topografia do terreno para reduzir a necessidade de
obras complexas relacionadas a túneis e viadutos e, assim, mitigar o impacto
ambiental.
‘O projeto da HyperloopTT rompe
conceitos tradicionais, e traz inovações, tanto em termos de infraestrutura
quanto em termos de operação de um sistema de transporte. Isso exigiu a
articulação de vários saberes, e o trabalho em equipe de profissionais de áreas
como energia, previsão de demanda de carga, estudo de rotas, dentre outras, na
Universidade’, disse a Drª. Christine Tessele Nodari, coordenadora do projeto
pelo Laboratório de Sistemas de Transportes da UFRGS.
Trajeto
Com o sistema, a HyperloopTT se estima que
o trajeto de 135 quilômetros de Porto Alegre a Caxias do Sul, que hoje
é feito em duas horas de carro, poderá ser realizado em apenas 19 minutos e 45 segundos, em
uma velocidade máxima de 835 quilômetros por hora.
No estudo, a empresa estima
que, em 30 anos, haverá uma redução de 2,3 bilhões de reais no custo operacional deste trajeto,
que também passaria pelas cidades de Novo Hamburgo e Gramado.
Economia
De acordo com as
características geográficas da região, o estudo constatou que o custo total
para a implementação do Hyperloop, junto com os custos de operação e os
impostos pelos próximos 30 anos, seria de 7,71 bilhões de reais.
A pesquisa estima que o valor
investido seria compensado já nos primeiros cinco anos de funcionamento,
principalmente com receita proveniente dos passageiros (52%), e
empreendimentos (35%), além de aluguel de lojas nas estações (2%),
publicidade (2%), e transporte de carga (1%).
Outra promessa está no
estímulo da economia local desde o momento da construção. Seriam 50.000 empregos diretos no setor de Construção durante o
período de obras, 9.243 empregos
diretos e indiretos, e 2.077 empregos no
setor de Energia Solar anualmente, durante 30 anos.
Além da mobilidade urbana,
outro setor que promete ser beneficiado na região é o imobiliário. Com cerca de
seis anos de implementação do Hyperloop, o estudo estima que deve ocorrer uma
valorização de 27,4 bilhões de reais dos terrenos e propriedades no
entorno das estações.
Sustentabilidade
O modal proposto pela
HyperloopTT é alimentado por energia renovável, e prevê a instalação de painéis
fotovoltaicos em 80% do percurso Porto Alegre - Serra Gaúcha acima do
solo.
Seu potencial de produção
anual de energia é estimado em 339 GWh, enquanto o consumo energético é de apenas 73 GWh ao ano.
Assim, o Hyperloop poderá produzir 3,6 vezes mais energia do que consome, e ser considerado
um sistema com autossuficiência energética, em que a venda do excedente não é
necessária para a sua sobrevivência.
A pesquisa também afirma que
cerca de 95.000 toneladas de CO² deixarão de ir para a atmosfera com a adoção do
transporte no Rio Grande do Sul.
Dúvidas
Enquanto experimentos em
pequena escala mostram que os fundamentos do Hyperloop são ideais, realmente
construir um tubo com centenas de quilômetros de comprimento com um vácuo
perfeito, e que consegue transportar grandes grupos de pessoas em cápsulas
ultrarrápidas soa, no mínimo, como um dos maiores desafios da engenharia atual.
Além disso, o mundo real é
muito diferente dos experimentes em escala reduzida. Existem inúmeros fatores
que podem levar a um problema com grandes repercussões, especialmente se levar
em consideração a estrutura do sistema: o que acontece quando a cápsula
viajando a mais de 800 quilômetros por hora passa por alguma dificuldade
técnica?
Um tubo só também significa
que, no caso de um acidente, todas as cápsulas prestes a seguir o mesmo trajeto
não conseguiriam, e poderiam até ficar ‘no trânsito’ dentro do percurso.
Em um sistema de cápsulas a
vácuo, também é preciso levar em consideração o que aconteceria caso houvesse
alguma descompressão no sistema. De acordo com análise do site Interesting
Engineering, o trem aceleraria rapidamente com a entrada do ar, e atingiria
‘velocidades supersônicas’. Defeitos na tubulação poderia causar uma
descompressão, e resultados desastrosos.
É também preciso considerar o
fator social: o que aconteceria dentro do Hyperloop em situações de emergência
ou violência? No caso de alguma explosão, o tubo inteiro poderia ser afetado.
Humanos são imprevisíveis, e um esquema de segurança mais avançado pode
resolver o problema, mas também aumenta os custos.
Por último, a tecnologia Hyperloop
é extremamente cara. O custo de operação previsto no estudo de viabilidade
gaúcho, por exemplo, é de 7 bilhões de reais, apesar de prometer retorno em cinco
anos. Mas, se levarmos em consideração todas as dificuldades em torno da
tecnologia, construção e o dia a dia, é preciso questionar se o investimento
vale a pena, ou se o modelo é adequado para o trajeto.
A ideia do Hyperloop é incrível, e pode, sim, se concretizar um dia. De qualquer forma, ainda é necessário mais pesquisa e investimento para que seja considerado um transporte público realmente eficaz. Seria o Brasil a plataforma de testes ideal para isso?
Fonte: Laura Pancini; Revista
Exame (Set21) | OESP - Mobilidade
(JA, Jan24)