Pular para o conteúdo principal

Asas da Liberdade - A vida e a Morte de Santos Dumont



Há 146 anos, nascia um do maiores inventores do Brasil, reconhecido internacionalmente por sua contribuição para a Aviação




Aos 112 anos de seu mais célebre feito, o voo no Campo de Bagatelle, em 23 de outubro de 1906, Alberto Santos Dumont continua a ser para a maioria dos brasileiros o maior herói científico que o país já teve. Muitos conhecem a sua saga, contada e recontada nos livros escolares. Mas pouca gente sabe realmente quem foi o personagem que se aventurou a desbravar os céus. Que tipo de homem se escondia atrás dos longos bigodes, das vestes impecáveis e do inseparável chapéu panamá?

As polêmicas que cercam a vida do inventor, comumente omitidas do grande público, são reveladas nas biografias disponíveis em diversas línguas. Consideram, principalmente, sobre a sexualidade, a fama de mau perdedor, e a doença que o levou ao suicídio. Mas esses são apenas pequenos tópicos de uma vida tão rica em detalhes quanto a trajetória que levou o homem a construir máquinas voadoras. Santos Dumont voou muito além do que contam os livros de colégio.

Excentricidade

Na virada dos séculos 19 e 20, a sociedade mudava radicalmente com inovações como a luz elétrica, o automóvel e o telefone. Em meio ao turbilhão de novidades, um intrépido brasileiro agitava a sociedade parisiense com recepções nada comuns: ao serem levados pelo mordomo à sala de jantar, os convidados deparavam com mesas e cadeiras de mais de dois metros de altura.

Entre os presentes estavam a princesa Isabel, filha de D. Pedro II, último imperador brasileiro, o joalheiro Louis Cartier, o arquiteto Gustave Eiffel, projetista da torre que leva seu nome, alguns representantes da família Rothschild, a imperatriz Eugênia, viúva reclusa de Napoleão III, alguns duques, barões e outros membros da alta sociedade europeia. Todos achavam divertido subir numa escada portátil para participar de mais um dos famosos jantares aéreos, como ficaram conhecidos os eventos promovidos por Santos Dumont em seu apartamento na Champs-Elysées.

Questionado sobre o motivo desses jantares, o anfitrião sempre respondia: ‘É para que todos imaginem como seria a vida numa máquina voadora’. Alguns convidados riam. Afinal, em 1890, as máquinas voadoras ainda não existiam. Santos Dumont, em tom mais sério, retrucava que em pouco tempo elas dominariam os céus. ‘Estarão em todas as partes’, dizia.




As declarações do brasileiro soavam devaneios de um desajustado, mas tinham uma explicação: sua infância fora cercada por obras de Júlio Verne, nas quais se destacava a imagem de um céu povoado de máquinas voadoras. Em 1901, quando realizou a ousada circunavegação da Torre Eiffel, recebeu diversos telegramas de congratulações e medalhas de louvor e coragem enviadas por diferentes chefes de Estado.

Mas duas correspondências emocionaram-no em especial: a primeira foi a carta do próprio Júlio Verne; a outra, enviada por Pedro, amigo da época de criança: “Você lembra, meu caro Alberto, do tempo em que brincávamos de perguntar ‘passarinho voa?’, ‘urubu voa?’, ‘homem voa?’, e você sempre levantava o dedo afirmando que o homem voava? A recordação dessa época me veio ao espírito no dia em que chegou ao Rio de Janeiro a notícia do seu triunfo. O homem voa, meu caro! Você tinha razão em levantar o dedo. E não tinha mesmo que pagar a prenda”.

A brincadeira à qual se referia o colega de infância era uma das preferidas de Santos Dumont e dos irmãos na fazenda onde nasceu, em 20 de julho de 1873, em Minas Gerais. Os pais do inventor, Henrique Dumont e Francisca de Paula Santos, foram os primeiros brasileiros a viver no distrito de João Aires, na minúscula cidade de Cabangu – hoje rebatizada como Santos Dumont.

Aos 6 anos, Alberto mudou-se com a família para as terras férteis de São Paulo, onde seu pai, apelidado de rei do café pela imprensa, comprou uma propriedade tão extensa que foi possível construir nela uma estrada de ferro com 96 quilômetros de extensão.

Nessa época, além de mergulhar nos livros de ficção, Santos Dumont tinha como passatempo predileto dirigir as enormes locomotivas, além de consertar todo o maquinário usado na produção do café. Henrique apreciava a fascinação do sexto de seus oito filhos e o caçula entre os três homens, mas não compreendia por que o menino não se interessava por outras atividades masculinas, como caçar ou mesmo brigar com os irmãos.

A vida em Paris

O mundo de Santos Dumont ganhou novas dimensões quando ele tinha 18 anos. Seu pai sofrera uma queda de cavalo e acabou hemiplégico aos 60 anos. Sem chances de cura no Brasil, vendeu os negócios da família por 6 milhões de dólares (uma fortuna hoje, e ainda maior naquele tempo) e partiu para a Europa com a esposa e o jovem Alberto. A esperança de cura estava em Paris, onde Louis Pasteur revolucionava a medicina com suas vacinas.

As descobertas na capital francesa encantaram o jovem brasileiro, em especial os motores de combustão interna, que ele jamais havia visto. Em visita à fábrica da Peugeot, comprou um dos dois únicos automóveis produzidos pela marca naquele ano de 1891.

Poucos meses depois, após seu pai perceber que a medicina europeia não lhe restauraria a saúde, voltou com a família para o Brasil, trazendo a bordo do navio o estranho veículo de apenas 3,5 cv (capaz de atingir 16 quilômetros por hora). Ao dirigir a novidade nas ruas de São Paulo, Santos Dumont não só espantou os pedestres, mas também ficou conhecido como a primeira pessoa a circular de automóvel em toda a América do Sul.


O estranho veículo que chamou a atenção das pessoas nas ruas de São Paulo


Sem esperanças de cura, Henrique teve uma longa conversa com o filho. Disse-lhe que não precisaria se preocupar em ganhar dinheiro e adiantou-lhe a herança de meio milhão de dólares. Depois, instruiu-o a voltar a Paris, onde parecia ter se adaptado muito bem. Santos Dumont seguiu o conselho. Chegou à Cidade Luz no verão de 1892, e seu pai morreu em agosto.

Tímido para frequentar qualquer universidade, recorreu a um professor particular, que desenvolveu um intenso programa de estudos englobando física, química, engenharia mecânica e elétrica. Ocasionalmente, visitava os primos na Inglaterra, onde aproveitava para assistir às aulas na Universidade de Bristol. Como era aluno ouvinte, não corria o risco de ser interrogado em público.


O estilo Dumont





Somente após cinco anos como cidadão francês, o brasileiro iniciou suas experiências com balões. Naquela época, a aeronáutica funcionava como um clube de cavalheiros, e Santos Dumont foi imediatamente aceito por sua origem abastada. Em pouco tempo, seus inventos ganharam espaço na imprensa local e internacional, e o brasileiro tornou-se coqueluche na alta sociedade europeia. Foi talvez o homem mais prestigiado e um dos mais noticiados em todo o mundo no início do século 20.

E sua imagem elegante estampava caixas de charutos, fósforos e até de aparelhos de jantares. Estilistas prosperaram com réplicas de seu chapéu e dos colarinhos altos e duros, que ele mesmo desenhara de modo a alongar seu pescoço e disfarçar a baixa estatura (cerca de 1,60 metro). Outros artifícios com essa finalidade eram os ternos sempre escuros com listras verticais, os sapatos com saltos e o tradicional chapéu panamá.

Apesar dos recursos para parecer mais alto, os jornais lhe deram o apelido carinhoso de petit Santos, o que muito o incomodava, embora continuasse a ditar moda: fabricantes de brinquedos produziam réplicas em miniatura de seus balões, que também inspiravam os bolos feitos pelos confeiteiros, sempre em forma de charuto e com as cores da bandeira brasileira. Em outra ocasião, reclamou com o amigo Louis Cartier, cujo avô fundara a Maison Cartier havia meio século, que era muito perigoso tirar as mãos dos comandos em pleno voo e levá-las ao relógio de bolso. Cartier criou para Santos Dumont um dos primeiros relógios de pulso de uso civil, que imediatamente tornou-se acessório indispensável para parisienses mais sofisticados.

Além do estilo copiado por homens e mulheres, o aviador invariavelmente ganhava as manchetes devido ao seu temperamento difícil. Meteu-se em inúmeras brigas com o Aeroclube de Paris, quase sempre por não concordar com as regras dos concursos. Santos Dumont não enxergava a aviação como atividade científica. Para ele, voar era um esporte, um desafio entre homens para ver quem vencia. E seu espírito excessivamente competitivo não lhe permitia sair derrotado. ‘Não me importo com o dinheiro das competições’, dizia ele, que doava aos pobres os valores conquistados em campeonatos. ‘Mas o prêmio atrai um número maior de rivais para que eu possa mostrar minha coragem. Essa é a importância da competição’.


O Aviador


Todos os relatos sobre Dumont põem à prova sua masculinidade e o interesse pelo sexo oposto. Reportagens da época mostram que a sexualidade do aviador era um prato cheio para os editoriais. Além dos dedos repletos de anéis e o cabelo repartido ao meio – exclusividades femininas naqueles tempos –, Santos Dumont circulava por Paris sobre uma bicicleta não masculina e achava natural tricotar e bordar em seu apartamento no Elysées Palace Hotel.

Ocasionalmente, os tabloides publicavam notas sobre o suposto noivado de Santos Dumont com alguma jovem, mas ele rapidamente negava, enviando respostas irritadas à imprensa. Dizia preferir que as pessoas pensassem ser ele viúvo a estar noivo. Em sua escrivaninha, o aviador mantinha a fotografia da bela cubana Aida de Acosta, a quem ensinou a comandar um de seus balões – aos 19 anos, ela tornou-se a primeira mulher do mundo a voar. Algumas biografias sugerem um caso amoroso entre os dois, apesar de eles nunca terem ficado sozinhos. Após a morte do brasileiro, Aida confidenciou que ele era muito tímido para entabular uma conversa. Suas únicas palavras foram as instruções para ela pilotar o balão e, mesmo essas, ele dissera de modo acanhado.

Os últimos dias

Depois do histórico voo com o 14-Bis, em 1906, Santos Dumont entrou num período de depressão. O sucesso com os aeroplanos parecia não mais animá-lo. Ele acusava os amigos de o terem abandonado, lamuriava-se de seu físico diminuto – fato que o ajudou na aeronáutica – e dizia a todos que estava sem dinheiro. Ninguém acreditava, mas, para animá-lo, aconselhavam-no a patentear seus inventos. Proposta imediatamente recusada. Eram seus presentes para a humanidade, dizia. ‘Prefiro terminar num asilo de pobres a cobrar o privilégio de copiar meus experimentos aéreos’.

Em 4 de janeiro de 1910, sofreu um acidente sério com o Demoiselle, seu avião de uso pessoal. Foi a última vez que pilotou uma aeronave. Sua saúde piorou.

Passou a ter visão dupla e fortes crises de vertigem. Alguns médicos diagnosticaram que Santos Dumont, aos 36 anos, sofria de esclerose múltipla. Outros atribuíram os sintomas a problemas psíquicos.


O famoso Deimoselle


Em 1914, quando a Alemanha declarou guerra à França, o brasileiro decidiu colocar-se a serviço de seu país adotivo. Mas os militares franceses chegaram até ele primeiro. Os vizinhos o haviam denunciado, pois pensavam que o tímido estrangeiro que observava o mar com um telescópio de fabricação alemã era um espião do kaiser. A polícia revirou sua casa e, após verificar o equívoco, pediu desculpas. Mas Santos Dumont não perdoou a suspeita de ser um traidor. Numa explosão de raiva, jogou todos seus documentos aeronáuticos, os desenhos e as cartas de congratulações no fogo.

O aviador passou a maior parte dos anos da guerra no Brasil. Projetou em Petrópolis (RJ) uma casa de arquitetura bastante avançada para a época, chamada de Encantada. Mas Santos Dumont nunca parou por muito tempo num só lugar. Revezava-se entre Petrópolis e clínicas de repouso na França e na Suíça. Num de seus retornos ao Brasil, em 1928, um hidroavião batizado com seu nome explodiu enquanto voava para saudar a sua chegada na baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. As 12 pessoas a bordo morreram no acidente, visto de perto por Santos Dumont, que observava tudo de pé no convés.

O episódio só agravou a saúde mental do aviador. Oito anos antes, ele já havia ajudado os coveiros a cavar a própria sepultura, insistindo em remover ele mesmo toda a sujeira. Depois, transferiu os restos mortais de seus pais para o túmulo, deixando um espaço vago entre eles para seu próprio cadáver.

O suicídio

Em 1931, um sobrinho chamado Jorge retirou-o de uma casa de repouso na Europa e trouxe-o de volta ao Brasil. No ano seguinte, irrompeu a Revolução Constitucionalista, que colocou paulistas e as tropas federais em campos opostos. Os médicos sugeriram que Santos Dumont deixasse a cidade de São Paulo e fosse morar num lugar mais tranquilo. Jorge o levou para um hotel no Guarujá. Todas as manhãs, acordava mais cedo e escondia os jornais na tentativa de ocultar do tio doente as notícias do conflito.

No dia 23 de julho de 1932, os dois estavam no saguão quando escutaram um avião bombardear um alvo próximo. O aviador mandou o sobrinho levar um recado e tomou o elevador de volta ao quarto. Testemunhas dizem que ainda o ouviram falar: ‘Nunca pensei que minha invenção fosse causar derramamento de sangue entre irmãos’.

Jorge, que sempre temia deixar o tio sozinho, voltou para o quarto e o encontrou pendurado com o pescoço amarrado a duas gravatas presas ao gancho da porta do banheiro. Santos Dumont, aos 59 anos de idade, estava morto.

O suicídio de Santos Dumont foi ocultado do conhecimento público durante décadas – afinal, o ato de tirar a própria vida não caía bem para um herói nacional. Agindo sob ordens do governo, o médico legista forjou o atestado de óbito, declarando que o aviador havia morrido devido a uma parada cardíaca.

O corpo do inventor foi embalsamado para que pudesse ser levado em segurança de São Paulo para o funeral no Rio de Janeiro – o que demorou seis meses, até que acabassem os conflitos entre paulistas e as tropas federais. O médico responsável por embalsamar o cadáver, Walther Haberfield, removeu e preservou o coração de Santos Dumont sem que ninguém soubesse. 

Doze anos mais tarde, entrou em contato com a família do aviador e ofereceu o órgão. Eles não o quiseram e o médico acabou doando o coração para o governo, com a condição de que fosse colocado num local público.

O órgão foi preservado dentro de uma esfera banhada a ouro, exposto no pequeno Museu da Força Aérea no Campo dos Afonsos, nos arredores do Rio de Janeiro.



Funeral


Velório de Santos Dumont em São Paulo (Catedral da Sé)

Por causa da Revolução de 1932, o corpo não pôde ser enterrado logo em seguida.
  
Um país comovido pela morte do seu filho mais ilustre. O Brasil foi surpreendido pela notícia da morte de Alberto Santos Dumont, o homem que chegou ao auge no início do século XX e que agora morria sozinho, num quarto de hotel. Era 23 de julho de 1932.

Só a família e os amigos muito próximos souberam da verdade, escondida do mundo todo: Santos Dumont tinha se suicidado - o mesmo destino da mãe, Francisca dos Santos, que sofria de neurastenia e se matou em Portugal.

O delegado de Santos, Raimundo Menezes, chegou a ir ao local, mas a informação foi mantida sob sigilo. O chefe de Polícia, Tirso Martins, determinou que não fosse aberto inquérito policial. O óbito só foi registrado 23 anos depois, no dia 03 de novembro de 1955. 

A morte de Santos Dumont se deu em plena Revolução Constitucionalista. Ele mesmo, antes de morrer, tentou interferir, enviando carta aos mineiros, no dia 14 de julho, portanto cinco dias depois do início dos combates: ‘... como um crente sincero em que os problemas de ordem política e econômica que ora se debatem, somente dentro da lei e num quadro de plena concórdia poderão ser resolvidos’, disse ele.

Muitos afirmam que Alberto tirou a própria vida depois de ver aviões cruzarem o céu durante a revolução. De verdade nisso tudo, há a certeza de que o uso de aviões em guerra só prejudicou seu estado de saúde, já muito depressivo, mas não provocou a morte dele.

E o que Santos Dumont pode ter dito ao sobrinho, naquele dia 23 de julho de 1932, nunca foi contado por Jorge. No livro de Henrique Dumont Villares, sobrinho de Santos Dumont, ele faz referência muito rápida à morte e não traz nenhum detalhe do que houve, de fato.

O escritor Paul Hoffman, no seu livro ‘Asas da Loucura’, disse ter entrevistado Olympio Péres Munhoz , o ascensorista do hotel La Plage, onde Alberto se matou. Segundo Olympio, Alberto teria dito pouco antes de se matar: ‘Eu nunca pensei que minha invenção fosse causar derramamento de sangue entre irmãos, o que eu fiz?’

O corpo de Santos Dumont foi levado por um carro funerário até São Paulo para ser embalsamado e depois velado na Catedral da Sé, centro da cidade. O carro existe até hoje e está exposto no Guarujá, numa redoma de vidro. Uma lembrança triste para a cidade que recebeu o inventor do avião, e o homem que conquistou o ar com seus dirigíveis imensos e que depois se transformou também no local de uma despedida trágica.

No dia 25 de julho, o governo federal decretou luto no Brasil de três dias: ‘O brasileiro Alberto Santos Dumont, inventor da direção dos balões, e do voo mecânico, dotando a humanidade de novos engenhos para o seu desenvolvimento, estreitou os laços entre as nações e cooperou para a paz e a solidariedade entre os povos, tornando-se, assim, merecedor da gratidão do Brasil, cujo nome honrou e glorificou’, afirmava o governo no decreto.

E os combates da Revolução Constitucionalista foram suspensos temporariamente. O general Góes Monteiro, que liderava as tropas de Getúlio Vargas, determinou: ‘Em homenagem à memória do imortal pioneiro da aviação, as unidades aéreas do destacamento do Exército Leste deixarão de bombardear as posições militares inimigas’.

O corpo ficou em São Paulo até a Revolução terminar, em dezembro de 1932. Só assim pôde ser levado de trem até a capital federal, o Rio de Janeiro. Chegou no dia 18, na Central do Brasil, às 10 horas e 10 minutos. Desde cedo, várias esquadrilhas da aviação naval e militar já faziam manobras no céu.

O Jornal ‘O Globo’, na edição do dia 19, escreveu: ‘ Encontra-se afinal no Rio (...) o corpo do genial brasileiro patrício de quem mais se fala em todo mundo’. E contou como foi aquele dia: ‘sob o som do Hino Nacional, a população permaneceu em silêncio, junto ao corpo estavam familiares de Santos Dumont . Entre eles os sobrinhos Arnaldo, Jorge e Henrique Dumont Villares. Uma comissão de estudantes paulistas de Direito, Medicina e Engenharia também acompanhava o corpo’.

O caixão foi retirado do trem por parentes e na saída da Central do Brasil carregado por representantes do chefe de governo e ministros. O corpo saiu em cortejo pelas ruas do Rio de Janeiro até a Catedral Metropolitana, onde foi velado por quatro dias. O povo formou duas longas filas para ver o corpo do ‘Pai da Aviação’.

O presidente Getúlio Vargas foi ao velório na Catedral. No dia 21 de dezembro, o corpo de Santos Dumont saiu em direção ao Cemitério São João Batista, às 19:30 horas, de acordo com o jornal ‘O Globo’, que trouxe também uma outra notícia trágica: um dos aviões da esquadrilha que voou em homenagem a Santos Dumont caiu no cais do porto, sobre o armazém número 5, e várias pessoas ficaram feridas. 



Homenagens


Marco das Três Fronteiras




Anos atrás fui a Foz do Iguaçu, no ‘Marco das Três Fronteiras’. O mirante proporciona uma vista da tríplice fronteira: Brasil, Argentina e Paraguai. Cada nação possui um obelisco pintando nas cores da bandeira do seu respectivo país, com possibilidade ser visto de qualquer um dos três, além de também proporcionar a vista do encontro dos Rios Iguaçu e Paraná. No local, onde o pôr do sol é especialmente belo, existe um parque e um restaurante, além de uma loja de lembranças.

Notei que ali havia uma estátua do Santos Dumont. Achei estranho e procurei saber a razão. Acabei descobrindo que esse brasileiro ia muito além de suas invenções.  

Em 1916, Santos Dumont foi convidado a conhecer as Cataratas do Iguaçu. Ele se hospedou no único hotel da cidade à época, o Hotel Brasil, de Frederico Engel. Ao chegar ao (hoje) atrativo turístico, ficou encantado com o que viu.

Santos Dumont ficou sabendo que as Cataratas tinham um dono: o uruguaio Jesus Val. Ficou indignado com o fato daquelas maravilhas pertencerem a uma única pessoa, além de tudo um estrangeiro. E, por isso, disse a Engel: ‘As Cataratas não deveriam pertencer a um particular’.

Como já era conhecido e tinha influência, levou a ideia adiante, ao governador do Paraná na época, Moisés Lupion, que prometeu tomar providências. No dia 31 de julho de 1916, o Diário Oficial publicou o Decreto 653 que declarava os 1.008 hectares de Jesus Val como de utilidade pública, de acordo com a Lei 1260. Naturalmente Jesus Val não ficou nada feliz, e pediu indenização após a desapropriação de suas terras.

Mesmo com a morte de Santos Dumont, em 1932, o projeto não foi esquecido. Em 1939, o Presidente Getúlio Vargas assinou o decreto que criava, oficialmente, o Parque Nacional do Iguaçu.

A estátua foi posta na trilha em 1979, após os esforços de Elfrida Engel, filha de Frederico (aquele hoteleiro que levou Santos Dumont às Cataratas).


Em 1986, a ONU, através da UNESCO, declarou o ecossistema como Patrimônio Natural da Humanidade.



Heliponto Municipal Demoiselle




O Heliponto Municipal Demoiselle do Parque do Ibirapuera, São Paulo-SP foi construído em 1972, em comemoração ao Sesquicentenário da Independência do Brasil. Na época,  foi implantado no local um marco em alvenaria de tijolos, bronze e azulejos, em homenagem a Alberto Santos Dumont, 1873-1932,  considerado pai da aviação, inventor e aeronauta brasileiro.

Dumont fez fama ao projetar o 14 BIS. Mas, neste marco está homenageado o ‘Demoiselle’, considerado o melhor modelo de avião criado pelo aviador, por ser menor e mais barato. Santos Dumont pretendia popularizar a aviação através desse modelo, o qual poderia ser fabricado em larga escala devido às suas vantagens.  


Aeroporto Santos Dumont (RJ)



 






Placa e Busto na Igreja Santa Teresa D´Ávila, em Rio das Flores, RJ




Placa colocada à junto à Porta da Igreja de Santa Teresa D’Ávila, onde ele foi batizado em 1877. Busto existente no pátio fronteiriço à Igreja com os dizeres: ‘E tudo começou com ele – Alma de todas as conquistas aéreas. Comissão Estadual do Ano Centenário de Santos Dumont, 1875–1975’


Santos Dumont em Paris, ao lado da estátua erigida em sua homenagem 





Parque Santos Dumont, São José dos Campos-SP



O Parque Santos Dumont, inaugurado em 23 de outubro de 1971, esta localizado na região central da cidade de São José dos Campos, ocupando uma área de 46.500,00 m². 

Criado em homenagem ao pai da aviação Alberto Santos Dumont, buscando consolidar a identidade assumida pela cidade em função do seu extenso parque aeronáutico, o Parque Santos Dumont abriga exemplares aeronáuticos como a réplica do avião 14 BIS, o protótipo do avião Bandeirante e maquetes de foguetes da família Sonda. Está em fase de construção a réplica da residência de Alberto Santos Dumont.



Painel do artista italiano Aldo Locatelli pintado em 1953, instalado no Aeroporto Salgado Filho de Porto Alegre - RS


A Conquista Do Espaço


Intitulado ‘A Conquista do Espaço’ mostra desde o sonho de Ícaro, os estudos de Leonardo da Vinci até chegar no final retratando o esforço conjunto de pessoas em forma de foguete atingindo o espaço. O destaque central fica para Santos Dumont.

Locatelli retrata o inventor brasileiro Pai da Aviação em trajes de mecânico e com óculos de aviador. Vale lembrar que foi Santos Dumont quem, pela primeira vez conseguiu voar em um aparelho mais pesado que o ar, subindo com propulsão própria, embora povos mais ao norte insistam em atribuir a façanha a dois irmãos que consertavam bicicletas e que, independente da data do feito, arremessaram seu aparelho com uma catapulta - ora com uma catapulta até uma pedra voa.


Prêmios

Com o seu Balão nº 6, em 19 de outubro de 1901,  Alberto Santos Dumont contornou a Torre Eiffel e conquistou o cobiçado Prêmio Deutsch, de 125.000 francos. Além desse Prêmio ele recebeu do presidente Campos Salles outro prêmio no mesmo valor e uma medalha de ouro.

Voo histórico do 14-Bis – 23/outubro/1906


O primeiro voo de um aparelho mais pesado que o ar – o 14 Bis – criado pelo brasileiro Alberto Santos Dumont, um feito extraordinário para a época, foi realizado na França em 23/outubro/1906, na presença de milhares de pessoas – e homologado pelo Aeroclube de Paris, que havia proposto aos aeronautas o Prêmio Archdeacon: uma Taça com valor mínimo de 2.000 francos a quem fizesse um percurso controlado em aeroplano, superior a 25 metros.

Santos Dumont, com o seu 14 Bis voou 60 metros! No mês seguinte, aumentou a potência do motor e em 12/novembro/1906 repetiu a proeza em um voo maior, percorrendo a distância de 220 m. Com este voo, homologado pelo Aero Club de France, estabeleceu o primeiro recorde oficial da aviação e recebeu o prêmio de 1600 francos, que doou aos seus mecânicos.

Esta conquista de Alberto Santos Dumont, um brasileiro nascido em Minas Gerais, foi uma extraordinária façanha de valor histórico inegável, não só pelo ineditismo de sua obra como, principalmente, pela importância para o desenvolvimento da história da humanidade, cujos rumos foram mudados pelo maior de seus inventos, o avião, um aparelho que mais tarde aproximaria culturas, economias e países de todo o mundo.



Entre 22 e 28 de novembro de 1901, Santos Dumont esteve em Londres, sendo homenageado pelo Aeroclube do Reino Unido em função de sua conquista do Prêmio Deutsch em outubro, quando circundou a Torre Eiffel. Foi ciceroneado pelo aeronauta Charles Stewart Rolls, futuro fundador da Rolls-Royce.

A filmagem do brasileiro explicando ao britânico o mecanismo de funcionamento e voo de seu dirigível deve ter ocorrido naquela semana. E, certamente, não foi no gabinete do brasileiro, como aventou a catalogação do museu, mas provavelmente no estúdio da companhia British Mutoscope & Biograph, afiliada da American Mutoscope & Biograph, embora se possa estranhar a ausência de registro noticioso dessa filmagem. Provavelmente foi dirigida e fotografada por William Kennedy Laurie Dickson, que àquela época dirigia a unidade londrina da companhia. A duração do filme reconstituído, na velocidade de trinta quadros por segundo, ficou em 43 segundos e 26 fotogramas.



Pontos Históricos

Casa onde nasceu Alberto Santos Dumont - hoje Museu Cabangu, Santos Dumont MG





Museu Casa de Santos Dumont




Curiosidade

Balão nº. 9 


Com o seu pequeno balão nº 9, de grande dirigibilidade, várias vezes pousou no centro de Paris para encontrar-se com amigos em restaurantes e bares.



A controvérsia


Wilbur e Orville Wright, 1905, Jul19

Os Irmãos Wright, Wilbur, 1867-1912,  e Orville, 1871-1948, foram dois irmãos norte americanos, inventores e pioneiros da aviação, aos quais foi concedido o crédito pelo desenvolvimento da primeira máquina voadora mais pesada que o ar, que efetuou um voo controlado, em 17 de Dezembro de 1903.

A principal realização dos irmãos foi a invenção do controle em três eixos, que permitiu ao piloto controlar a aeronave de forma efetiva e manter o seu equilíbrio. Esse método se tornou e permanece sendo o padrão em aeronaves de asa fixa de qualquer tipo. Desde o início do seu trabalho em aeronáutica, os irmãos Wright focaram no desenvolvimento de um método confiável de controle de pilotagem.

Essa abordagem diferia bastante dos outros experimentos da época, que colocavam mais ênfase no desenvolvimento de motores mais potentes. Usando um pequeno túnel de vento caseiro, eles obtiveram uma grande quantidade de dados científicos como nunca antes, o que os permitiu desenhar e construir asas e hélices mais eficientes que todos até então.

A primeira patente deles, a de Número 821.393, não requeria a invenção de uma máquina voadora, mas sim a invenção de uma sistema de controle aerodinâmico, que manipulava as superfícies de uma máquina voadora.

O voo do Flyer I é reconhecido pela Fédération Aéronautique Internationale como o primeiro de um aparelho voador controlado, mais pesado que o ar.

Apesar do reconhecimento, há polêmicas quanto a ser o voo do Flyer 1, o primeiro controlado, mas diferente de outros engenhos anteriores ao Flyer I, que também foram controlados, não houve auxilio mecânico na decolagem.

A aeronave se elevou ao ar por meios próprios, ao longo do trilho. O voo ocorreu com a presença de testemunhas, como o presidente do banco da cidade, e alguns funcionários públicos, caracterizando portanto um evento com credibilidade pública.


O Wright Flyer III pilotado por Orville sobre Huffman Prairie, em 4 de Outubro de 1905


Um aparelho voador mais pesado que o ar foi inventado pelo francês Clément Ader em 1890. No entanto, não permitia controlar a direção do voo. Era uma época em que vários inventores de diversos países estavam tentando criar a primeira aeronave mais pesada do que o ar capaz de voar com sucesso. Os Irmãos Wright não queriam derramar informações ao seu principal rival Samuel Pierpont Langley, então secretário do Instituto Smithsonian.

O voo de Alberto Santos Dumont também está sujeito a controvérsias, havendo indicações de que o 14-bis não era totalmente controlável em estabilidade lateral, e portanto só podia voar enquanto conseguisse permanecer em linha reta.

Até mesmo na categoria dos não aviões, existem alguns questionamentos quanto à primazia dos irmãos Wright.










Fonte:  Luiz Guedes Filho,  AH Aventuras na História  |  WP  |  G1 - Especial Santos Dumont  |  Dvs



(JA, Jul19)

Postagens mais visitadas deste blog

Grabovoi - O Poder dos Números

O Método Grabovoi  foi criado pelo cientista russo Grigori Grabovoi, após anos de estudos e pesquisas, sobre números e sua influência no nosso cérebro. Grigori descobriu que os números criam frequências que podem atuar em diversas áreas, desde sobrepeso até falta de concentração, tratamento para doenças, dedicação, e situações como perda de dinheiro. Os números atuam como uma ‘Código de desbloqueio’ dentro do nosso inconsciente, criando frequências vibratórias que atuam diretamente na área afetada e permitindo que o fluxo de informações flua livremente no nosso cérebro. Como funciona? As sequências são formadas por números que reúnem significados. As sequências podem ter  1, 7, 16, ou até 25 algarismos, e quanto mais números, mais específica é a ação da sequência. Os números devem ser lidos separadamente, por exemplo: 345682 Três, quatro, cinco, seis (sempre o número seis, não ‘meia’), oito, dois. Como praticar Você deve escolher uma das sequencias num

Thoth

Deus da lua, juiz dos mortos e deus do conhecimento e da escrita, Thoth (também Toth, ou Tot, cujo nome em egípcio é Djehuty) é um deus egípcio, representado com cabeça de íbis. É o deus do conhecimento, da sabedoria, da escrita, da música e da magia. Filho mais velho do deus do sol Rá, ou em alguns mitos nascido da cabeça de Set, era representado como um homem com a cabeça da ave íbis ou de um babuíno, seus animais sagrados.   Sendo o deus associado com o conhecimento secreto, Thoth ajudou no sepultamento de Osíris criando a primeira múmia. Era também o deus das palavras, da língua e posteriormente os gregos viam este deus egípcio como a fonte de toda a ciência, humana e divina, do Egito. O culto de Thoth situava-se na cidade de Khemenou, também referida pelos gregos como Hermópolis Magna, e agora conhecida pelo nome árabe Al Ashmunin. Inventor da escrita Segundo a tradição, transmitida também por Platão no diálogo Fedro, Thoth inventou a escrita egípc

O Homem do Saco, ou Papa Figo

Segundo a lenda, O Homem do Saco pega e carrega crianças que estejam sem nenhum adulto por perto, em frente às suas casas, ou brincando na rua. O sinistro Homem do Saco, também conhecido como ‘Papa Figo’, não tem poderes misteriosos ou místicos, muito menos habilidades sobrenaturais. Mas possui o atributo mais perigoso que pode existir - a mente humana. Originalmente Papa Figo possui uma aparência comum, ainda que bastante feia. É descrito como um homem velho e de jeito esquisito; é comum vê-lo sempre carregando um grande saco pendurado nas costas. Devido ao seu jeito costuma chamar a atenção das pessoas. Por conta disso, o velho Papa Figo prefere agir por meio de seus ajudantes para atrair suas inocentes vítimas, em geral crianças com idade abaixo dos 15 anos. Mas há relatos de jovens de 16 e 17 anos que tiveram seu sumiço associado ao Papa Figo. O Papa Figo seria um homem de bastante posses que, através de promessas de pagamentos em dinheiro, acaba at