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Viradas da Vida



Benjamim, Ben, já há muitos anos havia deixado de ser jovem. Tinha 70 anos e estava aposentado há cerca de cinco. Depois de se aposentar, embora tivesse tentado alguns empreendimentos para se  manter ativo e aumentar a sua receita, nada havia prosperado. Para se manter dependia do rendimento de algumas aplicações feitas no passado.

Não tinha planos futuros e, naturalmente, o tempo passava sem que  nada de novo acontecesse. Como lhe ocorreu recentemente, sua vida era como de alguém crucificado - ignorava as ‘dores’ inerentes à sua atual situação, e os eventuais momentos prazerosos que pôde vivenciar no passado, agora tão distante. Apenas aguardava o final redentor.
Nas viradas de ano, o barulho dos fogos de artifício o tirava da sua letargia habitual, e ele sentia uma pontinha de esperança. Esperança de que poderia ocorrer alguma mudança positiva. Então, rezava para que isso acontecesse. Nesta última, ele não sentiu o que sempre sentira nessas ocasiões.
Refletindo sobre isso, concluiu que havia entrado num labirinto sem saída, e o que restava era apenas aguardar para ver o que iria acontecer. E foi o que ele fez.
Passadas algumas semanas, algo inusitado aconteceu. Um homem lhe ligou , perguntou se era ele mesmo – Benjamim Salvatore. Disse que o encontrou através de um site de recolocações, e que a empresa para qual trabalhava o havia selecionado para uma entrevista de emprego. 

Ele realmente havia se cadastrado anos atrás num desses sites, mas isso nunca funcionou e, praticamente, já nem se lembrava disso.  Argumentou que, embora fosse especialista em administração e controle empresarial, fazia muito tempo que estava afastado do mercado.  O homem insistiu, e ele acabou aceitando ir ao escritório da empresa para tratar do assunto pessoalmente.  
No dia e horários combinado, se apresentou. Foi recebido e informado que a vaga existente fazia parte de um projeto de estagiário sênior na empresa ‘Sua Festa é Nossa’. Essa empresa tocava um negócio moderno, online, e era administrada por uma jovem que criou um site para organização de eventos. A empresa cresceu rapidamente, e estava fazendo muito sucesso.
A princípio, não havia uma tarefa predefinida. Ele deveria auxiliar no que fosse necessário, utilizando a sua experiência. O salário não era nada significativo, mas era uma receita a mais e, além disso, o trabalho iria tirá-lo do tédio e isolamento em que atualmente se encontrava, com os poucos compromissos da sua vida de aposentado. Encarou o estágio como uma forma de redescobrir a alegria, e acabou aceitando.
Inicialmente, foi locado num grupo que providenciava compra do material necessário para montagem dos eventos, de acordo com a programação contratada.  Logo, o pessoal do grupo percebeu que não precisaria ensinar nada a ele, muito pelo contrário.
Com base na sua experiência, de maneira simpática e despretensiosa, foi sugerindo procedimentos que otimizaram os processos e, inclusive, reduziram os custos.  Parecia que havia sido criada uma improvável harmonia entre a experiência, o bom senso e a ideologia moderna dos nossos tempos, eliminando o conflito de gerações.
Rapidamente, tornou-se bastante querido por todos na empresa e foi ganhando a confiança, inclusive da sua criadora, Júlia.
Ocasionalmente, teve oportunidade de assistir Júlia orientando a equipe que confeccionava os arranjos para os eventos, sobre como fazer. Ficou admirado pela forma como ela tratava do assunto, indo aos detalhes, envolvendo seus funcionários, passando que aquilo era uma causa a ser ganha, e não um trabalho.
Eventualmente, ele viu o motorista dessa executiva bebendo uma bebida alcoólica, enquanto aguardava para levá-la a algum lugar. Ele se aproximou e lhe disse que, pelo fato de estar bebendo, não era seguro que  dirigisse, e se ofereceu para levar Júlia aonde ela tivesse que ir. O motorista argumentou que isso era uma bobagem – que ele havia bebido muito pouco, e estava em condições... Ben o ameaçou de contar a ela o fato dele estar bebendo em serviço. Finalmente, o motorista concordou em ser substituído. 
Júlia chegou e Ben lhe disse que fora designado par substituir o seu motorista que, por conta de um imprevisto, não poderia levá-la.  Ela estranhou, mas não fez nenhuma objeção. Durante o trajeto, entre os telefonemas que ela fazia ou atendia, ele teve oportunidade fazer alguns apartes. Logo ela percebeu e valorizou o bom senso e o conhecimento daquele homem.

A partir de então, ela sempre o manteve por perto, pedia e ouvia as suas opiniões.
Num determinado dia, ela colocou que precisava criar mais tempo para sua vida pessoal e que, para tanto, pretendia abrir o capital, passando o controle da empresa para uma concorrente que a geriria através do seu CEO. Ele foi totalmente contra, colocando que a atuação pessoal dela era fundamental para o sucesso do negócio, e que, além disso, o que ela fazia era muito importante para a sua própria felicidade.  Depois de algum tempo, ela acatou essas ponderações e reviu a sua decisão, considerando que continuar a tocar o seu negócio como sempre, seria a melhor opção, tanto do ponto de vista pessoal como empresarial. E assim foi.  
A partir daí Júlia valorizou ainda mais a assessoria de Ben, que passou a participar das decisões mais significativas da empresa, inclusive as estratégicas, agora como executivo.
Refletindo sobre o que aconteceu consigo, Ben concluiu que, independentemente da falta de ideais, e da crença generalizada de que a probabilidade de algo dar errado é muito maior do que o contrário, parece que alguém, alguma força, em algum ponto do Universo, se preocupa conosco, e pode, eventualmente, nos salvar nos momentos derradeiros, quando já perdemos todas as esperanças.

Texto: Inspirado no filme ‘Um senhor Estagiário’, de 2015, dirigido por  Nancy Meyers, tendo como protagonistas Robert Del Niro, Anne Hathaway e Rene Russo


(JA, Jan18)

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