Pela
perspectiva do outro, normalmente somos uma pessoa muito diferente da que
imaginamos ser.
A proximidade
não melhora isso. Certas atitudes, momentos, fatos, pensamentos, que
compartilhamos com alguém, podem afetar e distorcer a nossa imagem do
ponto de vista dele. Por exemplo, um pai ou mãe que é muito
exigente com seu filho criança, pode deixar uma marca de intransigência, de
perfeccionismo e até de maldade, que poderá influenciar na formação daquele ser
que ele deverá se tornar, para o bem ou para o mal.
Que imagem teria o filho,
agora adulto, desse pai ou mãe?
Provavelmente uma muito diferente da verdadeira, que era o resultado de suas convicções e atitudes na época,
Outro
exemplo. O casal, jovem, apaixonado. Começam uma vida em comum, cada um tendo idealizado a imagem do outro. Porém, o dia a dia vai
revelando facetas que não imaginavam inicialmente. Com o passar dos anos, assumem a 'nova' realidade do seu par como verdadeira, e estratificam a nova opinião. Em consequência, podem
ir se distanciando, cada um colocando a culpa no outro pela situação atual. Individualmente,
acreditam ainda ser exatamente como eram antes, apenas mais experientes...
Quando se
trata de pessoas não tão próximas, até estranhas, a distorção entre a realidade
e a ficção poderá variar mais ainda.
Todos são
influenciados e levados a formar conceito sobre o outro baseados em fatos
muitas vezes pouco significativos: tipo físico, roupa habitual, penteado, fala,
postura, comportamento, olhar, forma de sorrir,..., sendo que tudo isso é muito
superficial e irrelevante. Importante
seria considerar a maneira como a pessoa -alvo dessa análise- reage frente às obrigações,
adversidades, injustiças, malfeitos, benfeitos; como ela se relaciona com a
família, com os amigos.
E, para
pensar: 'O que ela faria se soubesse, percebesse, que você está precisando de
alguma ajuda?' Ela o ajudaria a superar
o que tiver que ser? Daria apoio moral, seria solidária, ou ignoraria? A
resposta a essas questões poderiam sim ajudar a formar um conceito mais correto
de quem ela é. Denotarão a sua formação pessoal, como se relaciona com o mundo,
sociedade, e, principalmente, o que ela espera de você.
Sim, porque se
você não cumprir em algum momento um dos itens comportamentais que ela valoriza
e pratica, você será depreciado, cairá no seu conceito, eventualmente, de
maneira irreversível. Daí para frente,
as reações dela para com você não serão pautadas pelo modo normal dela ser, mas
sim por aquilo que ela imagina, acredita que você é. Através dessas reações ela poderá estar
tentando lhe ensinar alguma coisa; poderá estar lhe dando o 'troco'
(retribuindo o que você fez), ou mesmo, mostrando desprezo por você ser quem é
- como ela o imagina agora.
Resumindo, todos nós estamos sujeitos a errar, a julgar
indevidamente o outro, ou sermos indevidamente julgados por ele.
Por isso, ao
meu ver, o mais prudente é não assumirmos ideias prefixadas em relação a
ninguém, nem mesmo sobre nós, mesmo porque todos estamos em constante
transformação.
Nas relações
com pessoas e suas manifestações, seja como aquele passageiro de trem que olha
as paisagens que passam pela sua janela, e procura encontrar nelas algo
especial, o que elas têm de melhor, consciente de que, talvez, essa
oportunidade seja única. Agindo assim, sua memória ficará repleta de imagens mais
positivas do que negativas, aumentando a possibilidade de você ser mais feliz,
independentemente do seu autoconceito, ou do que os outros pensem de você.
(JA, Jan18)