O médico e neurocientista
Miguel Nicolelis disse que a quantidade de erros que o Brasil cometeu no
combate à pandemia do novo coronavírus vai ‘entrar para a história’, e que os
números de casos e óbitos registrados, apesar da subnotificação, já demonstram
que o país vive a maior tragédia de sua história.
‘A quantidade de erros é um
caso histórico. Vai entrar para a história, vai haver uma descrição do grande
fracasso do governo federal em lidar com a maior crise sanitária. Ouso dizer
que esse evento vai entrar como a maior guerra da história do Brasil porque é
uma guerra biológica, e as pessoas não se deram conta’, afirmou hoje em
entrevista.
“Estou falando, a gente vai contar essa
história daqui a 50 anos, e os erros crassos vão ser tão claros que as pessoas
vão ler o livro e dizer 'eu não acredito nisso aqui'.”
Nicolelis é coordenador da
Comissão Científica do Consórcio Nordeste, responsável pelo projeto Monitora
Covid-19, aplicativo que orienta e informa a população sobre a doença em tempo
real.
Para ele, não houve qualquer
reação ou planejamento do governo federal, e faltou uma mensagem coerente e
unificada que mostrasse a importância do isolamento social, considerado pela
comunidade científica como o método mais eficaz no combate à pandemia.
‘Não há sistema hospitalar no
mundo que dê conta da capacidade de reprodução desse vírus. Então, como não
levamos a sério desde janeiro, não ajudamos estados e municípios do ponto de vista
de um governo unificado, não criamos testagem eficiente em todo Brasil, não
criamos equipamentos necessário, e não tiramos vantagem do sistema de saúde,
dos agentes de saúde que deveriam ser a primeira linha de defesa',
afirmou.
'Ajuda de R$
600 é gota no oceano'
O médico classificou o
auxílio emergencial de R$ 600 para ajudar os trabalhadores durante a crise
gerada pela pandemia do coronavírus, como uma ‘gota no oceano’, e avaliou que o
governo federal ‘enrolou e não fez nada’.
Ele lembrou que nos Estados
Unidos a ajuda foi de US$ 1.200 (cerca de R$ 5,9 mil), e disse que o Brasil
deveria ter se preocupado com os parâmetros macroeconômicos depois da pandemia.
‘É óbvio que para as pessoas
ficarem em casa elas precisam sobreviver, poder comer, pagar contas (...). Você tem que dar condições mínimas para as
pessoas ficarem em casa, e isso é papel do governo federal’, declarou.
‘O governo federal do Brasil enrolou e
não fez nada. A ajuda de R$ 600 é uma gota no oceano’.
Imagem do
Brasil no exterior
Questionado sobre a imagem do
Brasil no exterior, Nicolelis que é professor catedrático da faculdade de
medicina da Universidade Duke, na Carolina do Norte (EUA), disse que a
reputação dos cientistas do país é ‘excelente’, e eles são considerados de ‘altíssimo
nível internacional em todo o lugar do mundo’.
Ele classificou a atual
imagem do país no geral, no entanto, como ‘a pior que já vi na minha existência’.
‘Tenho 59 anos. Viajo pelo mundo há 30
sem parar. Nunca vi o Brasil descer a patamares tão baixos de crítica, censura.
Os maiores jornais do mundo definiram o presidente do Brasil como inimigo
número da pandemia no mundo’.
Fonte: Beatriz Sanz, Nathan Lopes e Stella Borges
(JA, Jun20)