Ricardo
é um homem que nasceu e vive num país que, historicamente, convive com o ilícito.
Seu
pais foi colonizado por um país europeu, potência na época, que não tinha
nenhum interesse em promover o progresso, evolução da colônia. Buscavam apenas
extrair e levar suas riquezas, especialmente, o seu ouro. Para sua extração utilizavam mão de obra
nativa, escrava.
Os
nativos, escravos, tinham consciência de que as riquezas da terra estavam sendo
roubadas pelo opressor estrangeiro. Então, criavam oportunidades para roubar
deles o que fosse possível, e não se sentiam nem um pouco culpados por isso.
Afinal, ‘Ladrão que rouba ladrão, tem cem anos de perdão’, de acordo com a expressão
criada por Francis Drake, corsário e pirata inglês, que, depois de alegar que
roubava outros ladrões, recebeu o honroso título de ‘Sir’, concedido pela
Rainha Elisabeth I, também conhecida como ‘Isabel, a Rainha Virgem’. A rainha
deu uma desculpa diferente: ele roubava de ladrões e trazia os bens para a
Inglaterra.
Muitas
gerações depois, ainda se verificava uma condescendência para com os ladrões,
especialmente os chamados de ‘colarinho branco’ – empresários ou homens públicos
que, ao contrário do que praticavam, deveriam estar cuidando para fazer
prevalecer a lei e a ordem, defendendo os interesses do povo, do seu país.
Oportunamente,
Ricardo conversando sobre essa situação com seu amigo Alexandre, chegaram à conclusão
de que, dado à frequência e montante da corrupção instalada, a situação chegou
a um nível insustentável. Algo deveria ser feito. Mas o que? Por quem? Como?
Ricardo,
refletindo, concluiu que problema atual do país se restringe a apenas uma
palavra: ‘Habito’. Sim, Hábito’. Cada país ou organização é o
reflexo de hábitos gerais, de orientações estratégicas, provenientes do seu passado,
da sua memória organizacional. E, portanto, se se pretender mudar, há necessidade
de mudar esses hábitos.
Ele
e Alexandre, procuraram definir quais seriam os hábitos ‘Angulares’, aqueles que
foram os maiores responsáveis por se ter chegado ao ponto em que se chegou. Não foi difícil:
‘Se
se está numa situação onde predomina corrupção, é porque o povo e seus
governantes têm o hábito de aceitar suborno, propina, em benefícios próprio,
para favorecer algumas pessoas ou empresas’.
Procuraram
se informar sobre ‘Hábitos’ para poder continuar, e apuraram o seguinte:
“Os
hábitos são originados por um processo cerebral natural, que procura, constantemente, maneiras de poupar esforço, levar vantagem.
Criado
o hábito, são desenvolvidos anseios neurológicos que impulsionam as pessoas,
inconscientemente, para sua realização.
Considerando
que são os anseios que impulsionam os hábitos, para superá-los é necessário,
inicialmente, definir quais são os anseios que eles vieram satisfazer.
Basicamente,
hábitos são um loop de três etapas: ‘Deixa’, ‘Rotina’ e ‘Recompensa’. É sabido
que não é possível mudar um hábito ruim. Os hábitos não podem ser erradicados
- eles só podem ser substituídos pela
mudança da ‘Rotina’.
E,
além do esforço pessoal para realizar, é necessário acreditar na
possibilidade, ter fé - acreditar que as
coisas vão melhorar. A fé é um ingrediente importante na transformação de um
loop de hábito retrabalhado, num comportamento permanente.
Quando
pessoas que têm a mesma fé - creem que a
mudança seja algo possível, o potencial para que ela ocorra, se torna mais
real.”
Baseados
nessas premissas, eles concluíram que, o momento de reação é agora. Uma reforma
geral só é possível quando o senso de crise se instala, como, atualmente. É nessa
ocasião que os bons líderes podem aproveitar a oportunidade para reformulação,
correção dos hábitos organizacionais.
Analisando,
não foi difícil concluir que, no seu país, as empresas oferecem propina porque tem dificuldade para vencer as
concorrências desleais. Caso as
concorrências fossem honestas – ou porque os responsáveis passaram a ser mais
controlados, ou porque os concorrentes
deixaram de oferecer propina – os participantes iriam procurar maneiras de
apresentar uma proposta mais atraente, do ponto de vista técnico e/ou
comercial, na certeza de que ganharão se a sua oferta for a melhor. Essa seria
a sua recompensa. Agora, como mudar isso?
Nenhuma
mudança administrativa ou organizacional, é decorrente da mudança de apenas um
indivíduo. Há necessidade de uma mudança
da sociedade. E, para tanto, há necessidade que haja um movimento nesse
sentido.
Movimentos
não surgem porque, de repente, todo mundo decide olhar para uma mesma direção
ao mesmo tempo. Eles dependem de padrões sociais comuns, que identificados,
promovem hábitos de amizade, crescem através de hábitos comunitários, e são
sustentados por novos hábitos que acabam por mudar a noção de identidade dos
participantes.
A
partir de determinado ponto, tendo sido aplicados os procedimentos que irão
alterar a rotina histórica, será possível alterar o modo como habitualmente cada
um encara o ambiente onde vive, e a si próprio. Será possível a criação de um
novo mundo, o projetado, e no qual cada pessoa passará a habitar.
Confiantes,
independentemente do tamanho do trabalho e tempo que seria necessário,
resolveram fazer alguma coisa nesse sentido. Inicialmente, cada qual procurou levar as suas
ideias, seu projeto de mudança, para as redes sociais das quais participavam:
de Mídia, da Igreja, do Clube, Associações de Ex-Alunos, Profissionais, etc.
A
fala deles nesses ambientes, foi muito bem recebida, pois todos já se sentiam
muito prejudicados pela situação atual. Parecia que a lei existente não se aplicava
a um número cada vez maior de pessoas. O retrocesso industrial, comercial,
tecnológico e administrativo do país era absurdo, havia atingido um nível
inaceitável. Cada grupo visitado, além
de aceitar o que fora colocado, assumiam para si a responsabilidade de
divulgar, promover a intenção para seus contatos, conseguir mais adeptos para o
propósito.
Em
pouco tempo, o movimento ganhou uma força política significativa, e começou a
ser divulgado através dos meios de comunicação de massa, ganhando mais força
ainda. As pesquisas acabaram por definir
que cerca de 83% do povo queria que a mudança acontecesse. A melhor ‘Ética’, e ‘Moral’ deveriam ser
resgatadas – era o sonho de consumo.
As pessoas que pensavam diferentemente, independentemente da sua importância, riqueza, passaram a ser hostilizadas em aeroportos, encontros públicos. Ninguém estava aberto para ouvir ‘conversa de palanque’. Queriam, ansiavam, por ações concretas. E eis que, então, surge um jovem candidato que, além de incorporar essas premissas como missão, conseguiu apoio da maioria, e acabou sendo eleito para dirigir a nação.
As pessoas que pensavam diferentemente, independentemente da sua importância, riqueza, passaram a ser hostilizadas em aeroportos, encontros públicos. Ninguém estava aberto para ouvir ‘conversa de palanque’. Queriam, ansiavam, por ações concretas. E eis que, então, surge um jovem candidato que, além de incorporar essas premissas como missão, conseguiu apoio da maioria, e acabou sendo eleito para dirigir a nação.
A
mudança continuou seu processo, e se realizou. As deixas – necessidade de ter
uma vida melhor-, e as recompensas – receber um prêmio-, foram atendidas pela
nova rotina que previa oportunidades iguais para todos, respeito à lei, transparência,
e, principalmente, que o trabalho fosse
recompensado adequadamente, que sempre vencesse o melhor. Não foi
algo fácil, mas aconteceu. Os anseios da maioria do povo foram atendidos.
Alguém
acreditou na possiblidade, trabalhou para que o seu sonho ideal se concretizasse,
e conseguiu. Se um país é o reflexo dos
hábitos gerais do seu povo, e se estes hábitos conseguiram ser reprogramados
para melhor, ele se tornou melhor.
'O modo como habitualmente pensamos em nosso ambiente, e em nós mesmos, cria o mundo onde cada um de nós habita'.
(JA, Jul17)