Luisa nasceu num lar de pessoas simples, mas de boa formação,
trabalhadores - como também foram seus demais ascendentes, imigrantes. Seus pais sempre a incentivaram a estudar: ‘O
estudo é a única forma de superação para pessoas como nós’, era uma fala
recorrente.
Ocasionalmente, Luisa ficou doente.
Foi diagnosticada como tendo apendicite. Teve que ser internada e ser submetida
a uma cirurgia corretiva. Correu tudo bem, e, depois de alguns dias, teve alta
do hospital e logo se recuperou. Entretanto, aqueles dias em que esteve no
hospital foram decisivos para o seu futuro. Lá ela teve oportunidade de
conversar bastante com o médico que a tratou, com as enfermeiras, e com os
demais funcionários com os quais teve contato. Ficou fascinada com aquele
ambiente de trabalho, com a proposta e dedicação profissional daquelas
pessoas.
Tudo aquilo acabou por influenciá-la na
escolha de sua futura profissão. Decidiu então que seria médica, e passou a
dedicar todos seus esforços nesse sentido.
E foi assim que aconteceu. Hoje Luisa
é uma médica, teve papel significativo na vida de inúmeros pacientes, alunos, e
na sua comunidade.
Seus filhos foram criados num
ambiente familiar grandemente influenciado pelos conhecimentos e experiência
que Luisa veio acumulando no decorrer dos anos, e pela energia gerada pelas suas
atitudes.
Assim, seus filhos, seus pacientes,
seus alunos, cada qual acabava por levar alguma coisa do que ela pensava,
acreditava, pregava, queria, propunha. Eles, no seu dia a dia, às vezes
inconscientemente, agiam como seus apóstolos, divulgando as suas causas, que acabaram
assumindo como suas também.
Naturalmente eles influenciaram
outras pessoas, que por sua vez influenciaram outras, e assim sucessivamente.
Ela não sabe, mas, provavelmente, as
suas causas contribuíram para a composição de outras, mais evoluídas, completas, abrangentes, numa
contínua evolução que ninguém sabe onde poderá chegar. Mas, como tudo que
existe tiveram o seu momento inicial, terão um meio, e um fim.
Quanto mais a ‘causa’ atender às expectativas das pessoas, mais aceita ela
será, mais adeptos conquistará, e poderá criar um caminho pelo qual trilharão
milhares de seres. É a isso que se dá o nome de ‘Fila do Ser’.
‘Fila do Ser’ é uma teoria que prevê
que cada pessoa não é única, sozinha. Prevê que todos estão interligados de
certa forma, e não por uma questão de parentesco, mas por ideais comuns. Cada
pessoa, dependendo dos caminhos que percorrer, acaba por ser influenciada e
influenciar a vida (o destino) de outras pessoas. A história registra várias ‘filas’
famosas pela sua dimensão e pela influência que acabaram tendo na vida dos
participantes e também na dos seus descendentes. Por exemplo, a Revolução Francesa, quando os cidadãos
comuns se revoltaram contra a nobreza que os explorava; na 2ª Guerra Mundial,
quando os alemães desafiaram o mundo tentando impor a sua suposta superioridade racial
e militar; no Brasil de
2002, quando trabalhadores acabaram por assumir posições de comando no país,
antes ocupadas exclusivamente por empresários, pela elite mais culta e abastada.
Cada fila tem um prazo de validade, e
cada qual cumpre o seu papel numa determinada época, transformando a cultura
tradicional, quase sempre acrescentando, ajudando seus integrantes no processo
contínuo de superação, não apenas individual mas, principalmente, coletivo.
Portanto, não basta agir de acordo
com a sua consciência, com aquilo que acredita ser o certo. Por uma questão de
coerência, como fez a Luisa, seria conveniente se empenhar em divulgar a sua crença, influenciar aqueles que
conseguir alcançar, conquistá-los para a sua proposta, batalhar para fazer prevalecer o que considerar
como sendo o certo, o melhor para você, para os seus, para todos. Enfim, participar da ‘Fila do Ser’ que eleger.
Afinal, essa participação será a sua contribuição para a construção do futuro
que acredita ser o melhor, e que poderá vir a ser o dos seus descendentes.
Projetando o resultado dessas filas,
não é difícil imaginar que, o finalmente, resulte numa fila única, com um
objetivo depurado, testado, que terá como destino a superação da humanidade,
que estará então entrando numa nova e melhor dimensão. Para a humanidade de então, a atual parecerá
pré-histórica. Os problemas que enfrentamos hoje, nossas carências, parecerão
ridículos para eles, de tão fácil solução. Porém, isso é uma visão romântica do
futuro. Sabemos que, historicamente, nunca houve um destino final,
definitivo. O chegar normalmente marca o
início de um novo recomeço. E assim, sempre haverá necessidade e possibilidade
de superação, de melhoria. O que irá variar é o tipo das carências, das soluções
necessárias.
Luisa, agora na velhice, olha para sua família, para aquilo que
construiu, e se sente em paz, feliz. Sente-se como alguém que, conscientemente,
tomou partido, se empenhou em fazer prevalecer o que pensava, acreditava, e que, de certa maneira, venceu. Embora os
resultados nunca sejam ideais, definitivos, pelo menos participou das ‘Filas do Ser’ em
que acreditou, e que ajudou a fazer prevalecer.
(JA, Mai15)