Paraiso é um lugar descrito por diferentes religiões onde o clima é ameno, há abundância de alimentos e recursos, e não há guerras, doenças ou morte. Normalmente, a vida no paraíso seria a recompensa após a morte para as almas dos que seguem corretamente os preceitos de cada religião
A palavra ‘paraíso’ tem suas
raízes etimológicas no grego antigo, onde a palavra ‘paradeisos’ era utilizada
para descrever um jardim, ou um local de beleza exuberante. No contexto
religioso, especialmente nas tradições judaica e cristã, o paraíso é
frequentemente associado ao Jardim do Éden, um lugar de perfeição e harmonia,
onde os primeiros seres humanos viviam em comunhão com Deus.
Portanto, Paraíso é o lugar
ideal na terra, ou utopia, outrora representado pelo Jardim do Éden.
Essa concepção de paraíso transcende o simples significado de um lugar físico, representando um estado de felicidade e plenitude espiritual.
Após me aposentar passei a morar num condomínio à beira mar, entre Caraguatatuba e Ubatuba-SP. Frequentemente ouço alguém dizer ‘você mora num paraíso’. No início estranhava porque nunca havia pensado nisso. Depois, me conscientizei que era verdade, considerando as outras opções.
O condomínio fica numa região
litorânea privilegiada, bonita e de fácil acesso para quem vem da capital. Sua
área é bem cuidada, a praia é linda, e é disponibilizado aos condôminos
Ambulatório Médico, Academia, Supermercado, Pizzaria. Além disso, existe um
setor de Segurança, bem estruturado, que garante tranquilidade para os
condôminos e suas residências.
Minha casa foi bem projetada. É cercada por um belo jardim, é espaçosa e oferece espaço tanto para moradia (copa, cozinha, banheiros, suítes, escritório, dispensas, lavanderia, garagens), como para o lazer (piscina, churrasqueira, varandas).
Entretanto, não é bem assim. Existe o lado bom, mas também o ruim. Embora desfrute de segurança, espaço, ar limpo, etc., quem mora aqui fica longe de muitas coisas. Não são poucas vezes que tenho que pegar a estrada, dirigir por cerca de 4 horas, para ir a uma consulta médica/exame clínico, visitar minhas filhas que moram na capital, etc.
Além disso, são poucas
famílias que moram aqui. A frequência ocorre em fins de semana, feriados
prolongados, férias escolares. Nos outros períodos quem fica aqui se sente
isolado – não há movimento, barulho, nada. Você fica torcendo para algum
vizinho aparecer, ver a luz da casa dele acesa à noite, seus carros na garagem,
seus filhos brincando. Pode parecer absurdo, mas esse isolamento causa
depressão. Para compensar, senti necessidade de buscar, praticar alguma
atividade que preencha a mente, ocupe o tempo.
Encontrei uma fórmula para
superar isso. Criei uma rotina de horários, atividades, e me ocupo em escrever
- algo que sempre curti e pratiquei.
Minha mãe sempre foi ligada à
área da saúde – foi uma das primeiras enfermeiras do Hospital das Clínicas em
São Paulo. Baseado na sua influência, coloquei como meta me formar em medicina.
Antes de entrar na faculdade, fiz um teste vocacional, e deu que eu tinha
vocação para Jornalismo. Como ‘Jornalismo não era uma profissão que me atraia,
e nem tinha recursos para pagar uma faculdade de medicina, fiz vestibular e
entrei em ‘Administração de Empresas’.
Durante o curso eu trabalhei
no Banco de Boston, como consultor – os gerentes recebiam pedido de empréstimo,
e eu saia campo para obter referência do cliente em outros bancos, empresas, e
emitia um relatório que servia de base para a decisão do gerente.
Nesse setor conheci um
pessoal que eu admirava, que trabalhava na área de ‘Organização e Métodos’.
Tentei ser transferido para lá, mas sem sucesso – o responsável pela área quando
o procurei me disse que só contratava pessoal formado, e nas melhores
faculdades do país. Não era o meu caso – ainda não estava formado, e minha
faculdade não estava entre as melhores do país.
Um dos meus colegas da
faculdade trabalhava em ‘Organização e Métodos – O&M’ numa outra empresa, e,
através dele, consegui o emprego. Foi o
início de minha carreira nessa área – consistia em avaliar as diversas
atividades administrativas da empresa, levantar eventuais problemas, e propor
uma rotina de trabalho mais eficaz. Essa proposta era feita por escrito, e
tinha que ser aceita por todos os envolvidos.
Trabalhei nos próximos 30 anos fazendo
isso, não só naquela empresa mas também em outras nas quais tive oportunidade
de trabalhar nos anos seguintes.
Trabalhei como responsável
pelo Depto. de Administração de uma multinacional fabricante de veículos, e
como responsável pela Controladoria, Diretoria Administrativa, Diretoria
Financeira, numa empresa da área de educação - eu agia como ainda fosse um analista de O&M, e
sempre deu certo.
Avaliava a área na qual estava focado, formava opinião, e propunha/definia uma fórmula alternativa para solução dos eventuais problemas existentes afim de torná-la mais produtiva. Escrevia o que devia ser feito e como, o que tinha muita relação com o resultado de meu teste vocacional ‘Jornalismo’.
Mas, voltando ao ‘meu paraíso’, a partir de determinado momento, comecei a valorizar mais o que ele oferecia, e passei a me sentir melhor. Algumas coisas boas que ele oferece, por incrível que pareça, eu nem percebia. Isso só foi possível com o passar do tempo, e com a dedicação e um esforço pessoal para reconhecimento.
Percebi que, como a maioria
das pessoas, tenho a tendência a valorizar mais aquilo a que estou habituado,
do que as coisas novas.
Eu sou feliz, e não sabia até
recentemente.
(JA, Jan25)