Há alguns meses atrás, fiz uma postagem declarando: ‘não voto’ no atual inquilino do Alvorada.
‘A outros candidatos, tenho
críticas quanto às melhores políticas públicas para o Brasil. Já em Bolsonaro,
vejo a negação de princípios fundamentais ̵̵ democracia, sociedade civilizada,
o próprio valor do ser humano.’ Contra ele, valeria qualquer oponente.
Minha opção não foi
estritamente por Lula, ou seu partido. Votei na frente ampla em defesa das
instituições democráticas. Assim como outros que nada têm a ver com o PT: Alckmin,
Meirelles, Ricupero, Simone Tebet, Eduardo Paes...
Como sabemos, houve muita gente
do outro lado. Boa parte, porque não gosta do PT – e o gostar e o não gostar
fazem parte da política, e da vida. No caso, porém, o que vi foram pessoas
parecendo não tolerar nenhum limite para seu sentimento de não gostar:
conferem-lhe valor absoluto, a ponto de respaldarem alguém como Bolsonaro.
E não estamos mais em 2018, quando o
antipetismo levou muitos a apostarem naquele candidato fanfarrão, talvez
esperando que ele, empossado na Presidência, adotasse alguma sensatez –
equívoco que inúmeros eleitores depois iriam repensar e corrigir.
Em 2022, contudo,
depois de quatro anos de Presidência, já não havia mais engano possível: quem
desta vez votou em Bolsonaro, sabia muito bem o que estava escolhendo.
Entre minha leitura da
realidade, e a feita por essas pessoas, existem anos-luz de distância. Talvez
devido a modos radicalmente diferentes de ver o Brasil e a coletividade humana.
Décadas atrás, por rejeitarem
a integração racial, supremacistas brancos do Alabama aglomeravam-se à porta de
escolas para cuspir em alunas negras. Também para aqueles indivíduos, os fins
justificavam os meios. Chocado, o romancista William Faulkner escreveu que uma
sociedade que fazia tal coisa talvez não merecesse sobreviver como civilização.
Pergunto-me o que diria ele hoje de uma sociedade, onde quase a metade do
eleitorado se dispõe a pagar qualquer preço pela derrota do adversário –
qualquer mesmo, inclusive avalizar políticas de descaso com o ser humano.
Como não sou briguento, não
negarei a essas pessoas a devida urbanidade: se espirrarem, continuarei
gritando ‘Saúde!’. Mas, nem por isso deixo de constatar o abismo que separa
nossas visões de mundo. Diante delas, o que me resta é simplesmente silenciar.
Em minha perplexidade, fico
com o refrão de Antonio Vieira, no Sermão do Terceiro Domingo da Quaresma:
“Não louvo, nem condeno; admiro-me com
as turbas.”
Fonte: A.C. Boa Nova
(JA, Nov22)