Durante nossa vida temos oportunidade de conhecer, conviver, com uma infinidade de pessoas. Cada uma delas, à sua maneira, nos ilumina. Umas mais, outras menos, umas positiva, outras negativamente, dependendo da época, dos nossos sentimentos, das nossas necessidades e crenças.
Portanto, todas as pessoas
com quem nos relacionamos nos passam alguma luz, o que varia é o tipo de
energia que passam, seu brilho, sua intensidade.
Com o passar do tempo,
aquelas que mais nos influenciaram permanecem, mantêm o seu brilho; as demais
vão perdendo a força, até desaparecerem.
Sempre poderemos rever nossas
relações (nossos pais, irmãos, parentes,
professores, colegas de escola, chefias e colegas de trabalho, amigos, etc.) e sentir o seu brilho, sua influência,
independentemente do tempo passado, deles ainda conviverem conosco, ou não.
As pessoas que nos influenciam
positivamente são aquelas relacionadas com o que acreditamos, pensamos,
precisamos, na época em que convivemos. E vale o contrário. Então, elas nos
iluminam intensamente.
As relações cujas luzes ainda
conseguem de alguma forma iluminar positivamente a nossa vida, influenciar o
que pensamos, sentimos, são facilmente detectadas, e merecem toda nossa
atenção. São especiais. Devemos cuidar para mantê-las acesas para melhor poder
usufruir do que elas nos projetam, da sua influência. Elas nos ajudarão a
encontrar nosso melhor caminho.
As relações cujas luzes têm o poder de nos influenciar negativamente, devemos procurar uma maneira de anulá-las. Isso é possível pela compreensão, perdão, ou pela descoberta de luzes e energias positivas que elas, inexplicavelmente, conseguiram gerar. Então, aos poucos, elas irão perdendo a sua força original, iluminando cada vez menos, dando espaço para que as luzes positivas prevaleçam.
Relatos
1-
Mãe poderosa
Ele teve uma mãe que era uma mulher poderosa. Vinha de uma família abastada que, por diversos motivos, perdeu tudo. Desde pequena ela foi à luta, trabalhou, estudou, se casou, criou família.
Em
diversas situações viu sua mãe sair a campo para defender suas crenças. Seu
espírito forte a protegia; ela sempre saia
vencedora.
Embora
com poucos recursos, conseguiu colocar seus filhos nas melhores escolas, a
frequentar bons ambientes, até se formarem, entrarem e conquistarem um bom
posicionamento no mercado de trabalho.
Incutiu neles uma elevada autoestima, e a importância de um bom
relacionamento, familiar e social.
Hoje,
passados muitos anos da sua morte, ainda sente a força da sua luz, que o
ilumina intensamente. Ela sempre é incluída, e o aconselha na tomada de suas
decisões mais importantes. Nunca deixou de estar presente na sua vida.
2- 1º Emprego
Ao
ingressar na vida profissional teve oportunidade de ir trabalhar numa agência
bancária de bairro de um grande banco. Seus
colegas eram bem mais velhos que ele, tinham uma posição mais elevada, mas
sempre o trataram amigavelmente. A
figura que mais o marcou foi a do gerente da agência. Ele exercia uma liderança
natural, era justo, participativo e atuante. Quando surgia um problema,
independente de quem o causou, colocava a solução como prioridade, até
conseguir resolvê-lo.
Embora
tenha trabalhado lá por pouco tempo – menos de um ano -, a luz daquela figura o
iluminou pelo resto de sua vida profissional, o acompanhou e influenciou
positivamente seu comportamento.
3-
Amigo Providencial
Ele e (1) se conheceram num ambiente de trabalho. Tinham atividades distintas na mesma empresa, mas relacionadas, o que implicava num contato frequente. Aos poucos foram desenvolvendo uma amizade extratrabalho, que incluía viagens, festas, etc.
Passado alguns anos (1) foi convidado a ir trabalhar numa grande empresa multinacional por um antigo chefe comum (2), que já trabalhava lá. Posteriormente (2), influenciado por (1), também o convidou para ir trabalhar junto com eles.
Lá ele se deu muito bem, e teve oportunidade de crescer, promoções, etc. Posteriormente, (1) e (2) saíram da empresa em busca de evolução profissional.
Num determinado dia, (1) o convidou para ir trabalhar com ele na empresa onde estava atualmente, onde tinha o cargo de Diretor. Foi um convite providencial. Na empresa onde estava havia chegado numa posição onde não teria mais como crescer e, provavelmente, logo, seria dispensado. Aproveitou a oportunidade, conseguiu um bom acordo financeiro para sair - considerando que estava atendendo a um desejo da diretoria-, e foi para o novo emprego.
Lá se deu muito bem, a ponto de que quando (1) saiu para montar seu próprio negócio, ele foi indicado e convidado para assumir seu posto, passando então a fazer parte da direção da empresa.
A partir daí, apesar das dificuldades profissionais, naturais devido à posição que ocupava, passou a se sentir estabilizado, bem recompensado, realizado.
Embora (1) já tenha falecido, sua luz sempre o ilumina e o orienta, como exemplo de um companheiro leal e amigo.
4-
Pai Ciente
Ele era um homem simples que, através da sua Inteligência, simpatia, conseguiu ser bem sucedido, se destacar na sua profissão. Casou-se com uma mulher especial -bonita, bom caráter, de personalidade forte, boa formação-, e, com a chegada dos filhos, constituiu família. Sempre foi um ótimo mantenedor, jamais trazendo problemas de trabalho para casa. Conseguia que todos vivessem bem, em harmonia, num clima de tranquilidade.
Com base na sua simpatia natural, não discordava ou discutia com pessoas que tinham opiniões formadas divergentes das dele, ou pessoas que o julgavam, indevida, erroneamente.
Já avançado em idade, foi recriminado por
seu filho mais velho por ter gasto uma quantia que eventualmente ganhou na
compra de móveis novos para sua casa. ‘O último dinheiro que você pôde receber,
e gasta tudo com supérfluos. Deveria ter guardado para uma situação de
emergência.’, disse-lhe o filho.
Numa outra ocasião, quando chegou na casa do filho, situada num condomínio de luxo, num bairro nobre, o Porteiro avisou o filho da chegada do pai. ‘Por que você não me informou que viria? Teria enviado um carro para apanhá-lo, trazê-lo. Não é conveniente para mim que os serviçais vejam você chegando aqui dessa forma, à pé...’
O pai apenas ouviu, não respondeu. A essa e a outras recriminações do tipo.
Passados alguns anos, após a morte do pai, o filho refletindo concluiu que, por várias vezes, havia sido injusto com ele. Arrependeu-se e passou a valorizá-lo ainda mais, pela sua tolerância, sabedoria.
A partir daí, iluminado pela ‘luz’ gerada pelo comportamento de seu pai, passou a adotá-lo na relação com seus próprios filhos adultos, evitando assim discussões inúteis, ressentimentos desnecessários.
Passou a confiar mais nos bons sentimentos, boas intenções, e inteligência deles. Tem certeza que lá na frente, eles sentirão o mesmo que ele sentiu em relação ao seu pai, criando assim uma reação em cadeia que os iluminará, e aos seus descendentes, enriquecendo suas personalidades, extraindo o melhor de cada um.
5-
Dependente Arrogante
Ele era o caçula de uma grande família. Após seu pai ter perdido todo seu patrimônio num empreendimento que fracassou, e morrido em seguida, seus irmãos mais velhos saíram de casa - cada um foi cuidar de sua vida. Ficou ele, a mãe e as irmãs. A mãe logo veio a falecer também, e ele acabou sendo criado pelas irmãs.
Desde pequeno tinha um gênio difícil - era arrogante e prepotente. As irmãs começaram a trabalhar como costureiras para se manter, e ele as ajudava, aprendendo assim a profissão que teve até o fim da vida.
Na sua fase adulta era independente – tinha sua oficina de trabalho, mantinha um apartamento como residência. Nunca se casou, provavelmente devido ao seu gênio difícil, e por ter uma tendência homossexual nunca liberada por conta da sua formação religiosa. Participava de algumas associações da igreja católica, onde sempre encontrava motivo para dar vazão à sua revolta interior latente.
Frequentemente visitava suas irmãs, nessas alturas já casadas, com família constituída, e sempre encontrava motivos para recriminá-las, por isso ou aquilo, o que fazia aos berros.
Quando se tornou mais dependente devido à idade, o marido de uma de suas irmãs, começou a olhar por ele, a cuidar para que não lhe faltasse nada. O filho desse homem uma dia questionou o pai: ‘Pai, por que você cuida do meu tio? Ele é um FDP!’ Ao que o pai respondeu: ‘ Ele não é um FDP. É um coitado!’
Quando o pai desse rapaz morreu, em consideração à sua memória, passou a cuidar do tio, pagando o aluguel do apartamento onde ele morava, visitando-o uma vez por semana para saber se tudo bem, do que estava precisando.
Um dia, atravessando uma rua, o tio foi atropelado. O motorista o levou a um hospital, onde foi cuidado, e avisou o sobrinho. Ele foi ao hospital e assumiu a situação. O motorista que causou o acidente, mais tarde, o procurou para saber, dentro das circunstâncias, se tudo bem, o que foi confirmado.
O sobrinho chegou à conclusão que, a partir de então, o tio não teria mais condições de viver sozinho. Após consultar a sua esposa, o levou para sua casa, e o instalou num cômodo exclusivo.
Logo o tio conseguiu conquistar a antipatia de todos, e os empregados se negaram a continuar cuidando dele. O sobrinho então resolveu que melhor seria instalá-lo num Residencial para Idosos, acostumados a tratar pessoas com deficiências e comportamento difícil. Lá o visitava semanalmente, e ouvia suas críticas ao serviço, a este ou àquele colega.
Passados alguns anos, o tio veio a falecer.
O sobrinho cuidou do funeral, do qual foi o único participante.
A partir de então, o simples fato de passar em frente ao prédio onde ficava apartamento onde ele morou, o incomodava - parecia que o local gerava uma energia, uma luz negativa.
Começou a refletir sobre isso e chegou à conclusão de que realmente tudo relacionado ao seu tio irradiava uma luz, uma energia negativa. Entretanto, simultaneamente, gerou várias luzes positivas: a das irmãs que cuidaram dele, a do seu pai que também passou a cuidar dele, a do atropelador que socorreu a vítima, a dele mesmo que assumiu o papel de cuidador que havia sido do seu pai, entre outros.
As luzes positivas geradas por conta desse homem totalmente negativo, tiveram o poder de iluminar positivamente algumas pessoas, bem como as que conviviam com elas, ou souberam do fato. Isso vem confirmar o ditado:
‘O bem sempre prevalece sobre o mal.’
Conclusão
Durante a nossa existência, para seguir o melhor caminho, devemos sempre procurar ignorar as luzes negativas que eventualmente surgem, e nos concentrarmos nas positivas, independentemente da sua origem.
(JA, Fev21)