Teoria científica criada por casal de psicólogos ajuda pessoas a construírem relacionamentos saudáveis
'Sound Relationship House Theory' ou ‘A Casa do Relacionamento Saudável’
divide os relacionamentos em três sistemas: significado, conflito e amizade, e
apresenta comportamentos destrutivos incompatíveis com uma relação bem-sucedida
Fundamentais
para saúde e bem-estar, os relacionamentos só são saudáveis quando trazem
benefícios para as duas pessoas, por meio de apoio mútuo –porém, não é raro ver
relações bem distantes disso, com barreiras que se multiplicam e impossibilitam
o amadurecimento do vínculo-, que, por sua vez, conduz à segurança,
companheirismo, afetuosidade, plenitude. E, é claro, à tão sonhada felicidade.
Isso todo
mundo sabe. Mas o casal de psicólogos e pesquisadores, John Gottman e Julie
Schwartz Gottman, sabe um pouco mais que isso. Além de saber, descobriu que ao
contrário do que se imagina, ter bons relacionamentos não é questão de sorte. ‘Há
muito o que se fazer para construir um relacionamento saudável. Essa é a grande
lição que os doutores Gottman nos deixam’, diz Villela da Matta, especialista
em desenvolvimento humano e presidente da SBCoaching.
Pioneiro no
uso do método científico para estudo dos relacionamentos, John Gottman fundou o
laboratório de pesquisa da família na Universidade de Washington em 1986, que
mais tarde ficou conhecido como ‘Love Lab’. Durante décadas, Gottman e sua
equipe estudaram milhares de casais voluntários. Micro expressões, reações
fisiológicas e entrevistas levaram à conclusão que os relacionamentos são
divididos em mestres e desastres.
O começo do aprendizado. O que forma um relacionamento mestre e
desastre?
Os
relacionamentos mestres são saudáveis e satisfatórios, geram bem-estar e
crescimento. Os desastres são o extremo oposto. A boa notícia e que também fez
parte da conclusão: é perfeitamente possível os desastres aprenderem a se
tornar mestres.
O começo
deste aprendizado se dá com o entendimento do que forma o relacionamento e que,
segundo a teoria da Casa Saudável, são três sistemas em níveis diferentes:
sistema de amizade, de conflito e de significado.
O sistema de
amizade é a base, o início. É a ligação afetiva, a confiança, o companheirismo
e a cumplicidade que reforçam os laços do casal. O sistema de conflito é a
forma como todo casal lida com seus problemas, tanto os pontuais, quanto os
perpétuos. ‘Nas suas pesquisas, dr. Gottman constatou que 69% dos conflitos de
um casal são perpétuos e esse percentual é o mesmo para casais mestre ou
desastre. A diferença é a forma como lidam com estes conflitos e com os 31% de
conflitos pontuais, que podem ser resolvidos com rapidez. Casais felizes não
insistem em conflitos perpétuos’, explica Villela.
Em um
relacionamento bem-sucedido, o casal constrói uma vida em comum que, para
ambos, vale a pena ser vivida. ‘Isso só é possível se eles compartilham
propósitos e significados fortes o suficiente para que os dois sintam-se
motivados ao imaginar um futuro juntos’.
Desenvolver
estes três sistemas é a chave do sucesso, como diz a expressão popular. Para
isso, existe um universo de ações e caminhos, mas, na teoria, dr. Gottman
considerou importante destacar os comportamentos com altíssimo impacto para o
fracasso das centenas de relações que estudou.
Como faço para melhorar meu relacionamento? Aprenda o que não
fazer
Batizados de
Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, são quatro comportamentos identificados nas
pesquisas com alto índice destrutivo. Quatro atitudes que são ‘venenos mortais’
para qualquer relacionamento e grandes indicadores de separação iminente ou
infelicidade contínua. Os comportamentos são: defensividade, obstrução,
criticismo e desprezo.
Como ‘antídoto’
a eles, Villela da Matta fez a síntese abaixo:
Defensividade –
Antídoto: baixar a guarda, ouvir o que o outro está dizendo e admitir sua
responsabilidade
Obstrução – Antídoto:
sinalizar que está ouvindo, dizer que não se sente em condições de conversar no
momento e comprometer-se a retomar o assunto
Criticismo – Antídoto:
elogie as ações do seu companheiro, valorize seu empenho em uma nova atividade,
o estimule a refazer algo que não deu certo
Desprezo – Antídoto:
admire e valorize seu companheiro (a). Expresse isso.
Aprenda a identificar os limites do seu parceiro e, o mais
importante, impeça o Flooding
O flooding é
a estimulação emocional superior aos níveis que o indivíduo é capaz de suportar
e variam de pessoa para pessoa. É neste nível que ocorre a inundação
psicológica. Então, ao invés de estimular a comunicação, as ações, o agente do
flooding tem como produto um parceiro em sobrecarga, que não consegue processar
informações e comunicar-se com eficácia.
Isso tudo é
explicado pela ciência por uma série de reações neuroquímicas que são
disparadas quando a pessoa entra em flooding e geram uma série de reações
físicas e cognitivas, que, em última instância, resultam na típica reação de
atacar (desprezo/criticismo/defensividade), ou de fugir (obstrução/defensividade).
‘Quanto mais
flooding experimentamos, menor é a nossa tolerância a ele. Por isso, ele pode
acontecer logo no início de uma conversa. A conclusão das pesquisas de
relacionamentos saudáveis é que os parceiros são bons leitores mútuos. Eles
sabem identificar os níveis e limites de seus companheiros (as) e agem dentro
deles’, finaliza Villela da Matta.
Dicas para um relacionamento mais saudável e feliz
· Conheça o ‘mapa do amor’ do seu parceiro. Casais emocionalmente
inteligentes conhecem o universo um do outro. Eles possuem um ‘mapa do amor’ do
parceiro ou da parceira, isto é, conhecem seus gostos, preferências, objetivos,
valores, visão de mundo, anseios, temores e esperanças. Como as pessoas mudam,
eles estão sempre atualizando esses mapas.
· Cultive diariamente o afeto e admiração. O ponto de partida de um
relacionamento gratificante é a crença de que seu companheiro é digno de
respeito e de admiração. Sem isso, não há motivação para mudanças e melhorias –
e, muitas vezes, não há nem sequer motivação para permanecer juntos.
· Volte-se para o outro. Nos relacionamentos, costumamos fazer ‘lances’
pela atenção do outro, como por exemplo: um sorriso, um convite para partilhar
algo, uma ‘indireta’ (um elogio, um cumprimento, um gesto de reconhecimento),
até propostas mais explícitas (‘faz tempo que a gente não sai para jantar…’).
Voltar-se para o outro significa ficar atento aos ‘lances’ do parceiro, e
responder a eles o quanto antes. Quanto mais lances são respondidos, mais afeto
o casal acumula no seu ‘cofrinho do amor’.
· Resolva os problemas que podem ser resolvidos. Tudo aquilo que pode ser
resolvido deve ser solucionado o quanto antes, a fim de evitar o desgaste
desnecessário. Se o casal não consegue negociar e comprometer-se até mesmo para
a resolução de questões menores, como irá administrar os conflitos perpétuos?
· Saia da trincheira. Os conflitos perpétuos podem levar os parceiros a
se entrincheirar em suas posições, uma vez que a base desses conflitos são
sonhos (nem sempre expressos claramente) e valores do indivíduo. O segredo para
sair da trincheira é entender e honrar o sonho do outro (o que não é o mesmo
que compartilhar). Os conflitos perpétuos nunca – ou raramente – são
resolvidos. Porém, ao honrar o sonho um do outro, o casal abre caminho para
poder administrá-los de maneira que controle e repare os danos ao
relacionamento.
· Compartilhe significado. O significado compartilhado é um aspecto
crucial para a saúde, a longevidade e a qualidade da relação. É daí que vêm as
expectativas positivas e o estímulo para a construção de um futuro a dois.
Quanto mais significados o casal compartilhar (e quanto maior for a frequência
com a qual isso é feito), mais profundo, enriquecedor e gratificante será o
relacionamento. Para criar e compartilhar significado, é necessário trabalhar a
conexão e o projeto de vida em comum do casal.
Texto: Villela da Matta, SBCoaching (Sociedade
Brasileira de Coaching) | Renata Lima, Engaje!
(JA, Jun18)