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Riscos de um incêndio no passado e uma faixa pedindo intervenção militar



Protesto de caminhoneiros merece o nosso respeito, mas pedido para volta dos militares, não

Em 1933, o Reichstag, então sede do Parlamento alemão, foi incendiado. Até hoje, não se sabe ao certo quem o incendiou, mas as consequências são bem conhecidas. Esse ato de terror trouxe o início da política de emergência naquele país e, já no dia seguinte, um decreto suspendeu os direitos básicos de todos os cidadãos alemães, autorizando sua detenção preventiva pela polícia em qualquer circunstância.
A sequência, conta a história, reflete alguns dos momentos mais tristes do país e do mundo. 
O partido nazista teve vitória retumbante nas eleições e, pouco depois, uma legislação foi passada autorizando Hitler a governar por decreto, dado o ‘caos’ instalado pelo criminoso incêndio. Depois disso, culpabilizou os judeus por parte dos problemas vividos pelos alemães, no que resultou no assassinato de mais de 6 milhões de pessoas, entre as quais um milhão de crianças.
Segundo Timothy Snyder, em livro publicado recentemente no Brasil, ‘Sobre a Tirania, 20 lições do século 20’, há aprendizados a extrair desse triste episódio. 
‘Quando o impensável ocorre’, diz ele, ‘fique calmo... lembre que os autoritários exploram tais eventos para consolidar poder. O súbito desastre demanda o fim de controles, a dissolução da oposição, a supressão da liberdade de expressão, o direito a julgamento justo e aí vai’, e assim morrem as democracias...
Vivemos um momento delicado. A paralisação dos caminhoneiros tem demandas justas e merece nosso respeito. A faixa colocada em vários locais de manifestação clamando por ‘intervenção militar já’, não.

Bloqueio na Régis Bitencourt. Na pista, caminhoneiros escreveram:’Queremos Intervenção Militar' 

É triste a história de governos autoritários. Clamamos por eles quando achamos que há situações inadministráveis, quando queremos ordem, fim da corrupção ou vedar o acesso ao poder de governos dos quais discordamos, mas, pouco depois, a liberdade desaparece e curiosamente seus apoiadores se tornam também vítimas do arbítrio, como ilustra bem a história da ditadura no Chile e no Brasil.  

A questão da corrupção é mais complicada. Talvez seja fácil dizer que não houve corrupção no regime militar, pois a imprensa não noticiava, dada a censura. Mas a corrupção é endêmica em nosso país e continuou, sim, durante a ditadura, tanto em grandes contratos quanto na burocracia que permeava o dia a dia do cidadão: para tirar carteira de identidade, carta de motorista, passaporte, pagava-se uma ‘taxa’ extralegal.
Precisamos ter o difícil trabalho de construir uma democracia que funcione. Isso significa não apenas escolher bons e competentes candidatos para governos, mas bons parlamentares que se dissociem da corrupção e proponham políticas públicas sólidas.




                                          

Texto: Claudia Costin, professora visitante de Harvard. Foi diretora de Educação do Banco Mundial e ministra da Administração   |   FSP



(JA, Jun18)

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