O Epitáfio que gostaria que fosse meu
Prezados Senhores
O momento que atravessamos toca
profundamente a nossa sensibilidade. Ainda não foi possível sentir tristeza,
pois o choque inicial desse lamentável passamento ainda não foi devidamente assimilado, não está superado.
A morte é natural. Entretanto, o
homem que conhecemos, e que agora já não existe mais fisicamente, não foi um
homem comum. Ele foi excepcional, a seu modo. Explico.
Nós o conhecemos durante toda a sua
existência, desde a infância até agora, e o nosso conceito sobre ele permaneceu
sempre o mesmo - seu caráter, sua enorme
força interior, sua probidade, sensibilidade,
solidariedade, humildade e inteligência, ... Entretanto, tudo isso não o
fazia ser justo consigo mesmo. Ele não
reconhecia em si nenhuma dessas qualidades, e não só isso, como também buscava incansavelmente a
superação, o aprimoramento pessoal.
Talvez, só por isso já pudesse ser considerado
o melhor.
De suas ações, nenhuma há que o
desmeça. Se erros cometeu, a ninguém prejudicou.
A imagem que projetava, inconscientemente, só o dignificava, servia de exemplo, estimulava,
àqueles que tinham oportunidade de ter
contato com ele, à prática das melhores atitudes. Seu total desprendimento das
coisas materiais, sua humildade natural, remetia a um ser espiritual, místico, sábio, para o qual a morte nada representava
além de uma nova dimensão, uma nova e fascinante
experiência. Era apenas um novo degrau na busca da superação, na busca da
aproximação com o divino, da realização pessoal, que sempre almejou.
Embora sempre afável e cordial com
todos, indistintamente, buscou, sem sucesso, compreender a humanidade. A
humanidade que lhe parecia frequentemente inconsequente,
priorizando e
assumindo valores equivocados. Irresponsável, fria, não socorrendo algumas de
suas próprias vítimas carentes, indefensas; às vezes, muito pelo contrário.
A humanidade assim, estava e
está, por que não dizer, muito distante de onde ele chegou, de quem ele veio a ser, a representar.
Por tudo isso, creio que este
momento, independentemente da dor da perda,
nos dá a oportunidade de homenagearmos um ser humano que dignificou o sentido da vida, da existência. Seu legado é inspirador e, certamente, nos acompanhará através dos próximos anos e, de alguma forma, será passado para as nossas futuras gerações. Sua energia, agora liberada, frutificará, ajudando a todos na caminhada e no encontro de um mundo
melhor. Amém.
"Nossas vidas, desde o nascer até o morrer, não nos pertencem exclusivamente. Pertencem também a outras pessoas, do nosso passado, do nosso futuro."
(JA, Mar15)