Oswaldo é um homem entre 30 e 40
anos, solteiro, engenheiro, que trabalha numa grande construtora onde exerce um
cargo executivo, de direção.
É uma pessoa particularmente
agradável, sempre muito bem informado e bem humorado. Em eventos sociais se
destaca, passando alegria e interesse genuíno pelos assuntos levantados, e
pelas pessoas com as quais tem oportunidade de confraternizar. Sente-se muito
bem após esses momentos, feliz e relaxado.
Sua natureza é calma e reservada.
Aprecia e necessita ficar sozinho de vez em quando, refletindo sobre isso ou
aquilo, ou lendo um bom livro, ou assistindo um filme que tenha despertado seu
interesse. Gosta de dar longas caminhadas, observando as pessoas, suas atitudes
e reações.
É um apreciador das artes em geral e,
frequentemente, vai a exposições. Não é um artista, mas sente como um. Por
qualquer motivo, os ambiente culturais
lhe parecem familiares, e seus comentários sobre essa ou aquela obra são
procedentes e oportunos. Tem facilidade para escrever, e já participou de
diversos concursos literários, tendo sido premiado algumas vezes
Uma explicação que encontrou para esse
seu lado artístico, é o fenômeno que Carl Gustav Jung nomeou de ‘Arquétipo”. É uma forma de conduta atávica, cuja origem
não tem explicação, mas que tem a ver
com fatores geneticistas e energéticos. Todo ser humano carrega em si aspectos
psicológicos, que inclusive influem nos físicos, que o levam a assumir uma conduta
que eram comuns em ascendentes remotos. A vida psíquica de cada um tem uma
ligação indefinida, não só com fatores psicológicos, mas também com elementos
mais distantes no tempo e espaço; o que acontece na consciência é uma invasão
desses tipos transcendentais, que ultrapassam a dimensão puramente mecânica dos
fenômenos da vida.
Entretanto, o que o caracteriza e o
que o levou a ser bem sucedido em tudo o que fez até hoje, é a sua empatia - uma
capacidade aparentemente mágica de mapear corretamente o terreno mental das outras pessoa a
partir de suas palavras, emoções e linguagem corporal . Além disso, é muito
intuitivo. Essa consciência o leva a prestar atenção aos diversos sinais que
detecta, manifestados tanto externa como internamente – por exemplo, seu corpo de alguma forma sempre se
manifesta, antes das coisas acontecerem. Para Oswaldo, prestar atenção às suas
próprias emoções, e passar tempo observando e ouvindo outras pessoas cara a
cara, sem julgar, reforça seu poder de empatia.
Também tem o hábito de prestar atenção aos seus sonhos. É a forma que encontrou para entrar em
contato com os processos de pensamento inconscientes de sua mente.
É muito exigente consigo mesmo e com
os outros, organizado, perfeccionista, com opinião formada sobre tudo e, às
vezes interfere em assuntos que, em princípio, não lhe dizem respeito. O fato
de ser assim tem um lado negativo - eventualmente, para quem não o conhece bem, pode passar
a imagem de arrogância, insensibilidade, o que, absolutamente, não procede.
Embora ele seja considerado alguém
‘iluminado’, pois aparenta estar sempre tranquilo, seguro, irradiando felicidade, de
bem com tudo e com todos, intimamente, nos últimos tempos, passou a sentir
que alguma coisa está errada na sua vida, que falta algo. Como de hábito,
registrou o que está sentindo, procurou se desprender dessa emoção negativa, e
ficou atento para, oportunamente, descobrir a causa e poder corrigir. Não adiantou - aquele sentimento persistia,
indefinido.
Então, depois de muito refletir sem
chegar a nenhuma resposta, resolveu por em prática um plano antigo que ainda
não tinha tido oportunidade de realizar: iria promover uma mudança radical na
sua vida. Quem sabe, novos locais, novas pessoas, novos desafios, o ajudassem a
descobrir, a superar o que estava errado. E assim fez. Demitiu-se do emprego,
despediu-se dos colegas, e foi atrás do seu novo futuro.
Optou por se transferir para um país
que conhecera numa de suas viagens de negócios, no velho continente europeu, e do
qual gostara particularmente. É claro que não tinha nada a ver com o país
tropical onde sempre viveu, mas tinha suas compensações: o povo era muito
civilizado e cordial, tudo funcionava bem, sem estresse, de acordo com o
planejado. Instalou-se em um hotel e começou a procurar onde morar. Logo
encontrou um apartamento que lhe agradou: era antigo, mas muito bem conservado;
nem muito grande, nem muito pequeno; bem
localizado, com espaço para o seu estúdio. Enfim, perfeito para o que
ele pretendia.
Mudou-se para o seu novo lar, e foi
levado a refletir sobre a sua situação. Sabia que o inconsciente
exagera as coisas ruins - e que confrontá-lo pode ser a chave para superação de angústia. Esse pensamento o levou
questionar sobre tudo o que tinha, do que gostava, desgostava, suas expectativas... Naturalmente, não chegou
a nenhuma conclusão de imediato, mas o questionamento ficou registrado.
Tinha que decidir agora como seria a
sua nova rotina. Sabia que quando se muda de residência, de local de trabalho, de cidade, de país, embora estando
em lugares novos, vivendo novas situações,
não se está sozinho – continuamos a carregar a nossa energia histórica.
E, pouco a pouco, conforme vamos nos familiarizando com o ambiente, com as
pessoas, voltamos a liberar a nossa energia tradicional e a influenciar esse novo
universo.
Energia histórica é a força que
carregamos dentro de nós e, aonde quer que estejamos, inconscientemente, a transmitimos
para o meio ambiente. Ela é resultante dos
conhecimentos que fomos adquirindo ao longo de nossa vida, das ações que
praticamos, sensações vivenciadas, experiências. Quanto maior for essa energia,
mais intensa é a sua liberação, e mais intenso o seu poder de transformação do ‘universo’ de
influência, definido pelo limite de alcance da energia gerada.
Optou em relaxar um pouco, procurar
conhecer melhor a cidade, seu povo e locais.
Observou que todas as pessoas aparentavam felicidade, respondiam bem aos
questionamentos, e até tomavam a inciativa de fazer sugestões. A cidade era
limpa e organizada. Naturalmente tinham seus hábitos característicos. Por
exemplo, às 5h da tarde o comércio fechava as portas, as calçadas iam ficando
vazias, e os carros que circulavam nas ruas, rareando.
Com o passar do tempo, a ansiedade,
desconfiança e dificuldades operacionais iniciais, foram sendo superadas. Passou
a ficar mais tranquilo, confiante, e a fazer o que pretendia com maior
facilidade. Enfim, assumiu a sua nova
realidade, que agora estava se tornando familiar.
Falar um idioma diferente do nosso, de
origem, com a mesma fluência dos foram criados falando a língua, é sempre muito difícil. A explicação é que, quando você pretende expressar um pensamento na sua língua nativa, seu inconsciente
faz a decodificação, e a fala flui automaticamente, permitindo que você se comunique.
Quando se fala um outro idioma, essa parte do inconsciente fica prejudicada pois, além de pensar alguma coisa, você precisa que pensar em como falar. Oswaldo já tinha um bom conhecimento do idioma
local e, pela sua curiosidade natural com relação à cultura e instituições, teve oportunidade de conversar,
de conviver bastante com o povo. Isso facilitou a travessia da ponte que separa a fala do estrangeiro da dos
naturais da terra, e ele logo pode deixar de pensar em como falar.
Oswaldo ficou sabendo que uma
universidade próxima iria promover um curso de especialização que há tempos ele
pretendia fazer. Inscreveu-se e começou a frequentá-lo.
Ali se socializou com os colegas, com
os professores, com a direção e, alguns
meses depois, com base na sua formação e experiência, recebeu uma proposta de
emprego irrecusável.
Oportunamente foi a um evento com uma colega da
universidade, Paula. Foram ficando próximos e, depois de ter ficado muitos
anos sem assumir nenhum relacionamento sério, começou a namorar com ela.
Um dia, do 12º andar do prédio onde
ficava a sede da empresa onde trabalhava, olhou para baixo e, observando as
pessoas que andavam apressadas, os veículos naquele anda e para habitual, pensou:
“Como se explica o fato de eu estar aqui, tão longe do meu país, da minha antiga
casa, das pessoas, das coisas, e ambientes com as quais convivi por tantos
anos, e, mesmo assim, me sentir tão parte disso, tão integrado, parecendo que sempre estive
aqui?”
Concluiu que isso decorreu do fato de que, considerando as suas características, aplicou muita energia e esforço para penetrar, para passar a integrar uma nova realidade. E, quanto maior a energia e esforço, mais
rapidamente nos adaptamos e/ou a interagimos com a nova realidade. Ela é nova apenas para quem chega. Por parte
de quem já está lá, há uma indiferença inicial para novato. Depois que
quem chega passa a interagir, acaba por quebrar a rotina tradicional de quem
estava lá, passando então a acrescentar ou a tirar algo do que já existia. Portanto, são as ações de quem chega que fazem a diferença, como um fator positivo ou negativo, passando a agregar, a fazer parte
daquele universo. E, finalmente, ao ocorrer a integração com a nova realidade, aquele que chega é levado a um maior entrosamento consigo mesmo, o que resulta numa
maior satisfação, alegria de viver – há um acréscimo ao ato de ser.
Sem olhar para trás, muito pelo
contrário, reconstruiu sua vida profissional e pessoal. Atualmente, é casado e
tem dois filhos, é perfeitamente adaptado ao país, ao povo e aos costumes
locais. Além de sentir realizado, se sente feliz, agora sem nenhum vazio a
preencher.
Aquela insatisfação do passado, ocorreu porque o personagem que ele era então, por conta da sua 'história', a partir de determinado momento, passou a precisar
de um novo cenário, de novas falas, novos desafios, para exercer o papel de protagonista que lhe cabia. Felizmente, percebeu, seguiu sua intuição, e redefiniu o rumo da sua vida. Encontrou, e está percorrendo, o caminho do seu melhor
destino.
"Independentemente da nossa origem, dos nossos talentos naturais, do nosso poder e riqueza, somos resultado, principalmente, da nossa história."
(JA, Nov14)